Mal posso esperar para a chegada deste fim de semana. É que eu vou dançar! Sim, dançar novamente e de uma forma inteiramente nova para mim. Vou participar do workshop de Dançaterapia com Pio Campo aqui em Brasília neste fim de novembro chuvoso.
Minha vida sempre foi permeada e preenchida pela dança, pelo movimento do meu corpo. Comecei a estudar ballet clássico bem nova, aos 5 anos. Aos 9, fui estudar na academia da minha irmã mais nova, pois eu achava que ela sabia mais coisas do que eu e, no mesmo ano, descobri que tinha patela alta, um probleminha genético nos joelhos. Sou do signo de capricórnio e sei que os joelhos são a parte do corpo mais vulnerável para as pessoas do meu signo. Foi minha primeira experiência de me afastar de uma coisa que fazia parte de mim. Passei acho que um mês com a perna esquerda engessada do alto da coxa até o pé. Foi duro, mas me lembro ter gostado de poder passar as tardes em casa vendo TV e comendo aveia com mel (doce liberado na minha casa na época!).
Dois anos depois, eu estava ensaiando com a companhia de dança da academia. Na verdade, como eu estudava na escola de música, além de inglês e francês, eu não podia mais frequentar a turma de ballet da minha idade por causa do horário. Com a ousadia e determinação da minha mãe, a diretora e dona da escola de ballet aceitou que eu frequentasse as aulas e os ensaios da companhia, que aconteciam todos os dias nos fins de tarde. E assim, o ballet clássico tomou conta da minha vida com aulas, ensaios exaustivos, apresentações numerosas, participações em cursos até os 14 anos, quando eu comecei a namorar um cara 6 anos mais velho do que eu e minha vida virou um inferno! Mas essa é outra história...
Naquele ano, comecei a ficar desleixada, não penteava meus cabelos longos, lisos e inteiros, nem tomava muito banho, de modo que tinha piolhos constantemente. Sim, confesso: virei uma porquinha com todas as letras! Me afastei dos meus amigos da minha idade e comecei a matar as aulas de ballet. Depois daquele ano fatídico, meus pais não sabima mais o que fazer comigo e me mandaram junto com minha irmã mais velha para Londres, onde nosso pai morava na época. Lá, minha vida deu uma guinada: fiz inúmeras amizades novas, aprendi a falar inglês, me diverti horrores, mas além da vida escolar, não consegui voltar a dançar por motivos diversos. Um deles é que meu pai não tinha realmente dinheiro para pagar um curso. Então, eu ia me virando na escola, com o teatro, a dança e a música.
Só voltei a dançar pra valer mesmo no ano seguinte, quando voltei para o Brasil para morar com minha mãe e meus dois irmãos pequenos em São Paulo. Fui fazer aulas com Ismael Guiser e conheci diversos bailarinos e coreógrafos. Fui vendo pela primeira vez que eu poderia dançar sem me prender tanto aos moldes rígidos e muitas vezes perversos do clássico. Mas foi na metade daquele ano de 1995, eu com 16 anos, que participei de um espetáculo onde eu me encontrei. Primeiro porque houve uma audição para a seleção dos atores e eu fui lá e passei! Não seria um espetáculo profissional, mas era o musical da Cultura Inglesa de São Paulo, que todo ano produzia um espetáculo que ficaria em cartaz durante um mês, mais ou menos.
O espetáculo chamava-se Sing and Dance e era um poupourri de todos os musicais que a Cultura tinha produzido ao longo dos anos. Foi o máximo! Os fins de semana de ensaios, as coreografias, as músicas então... eu sabia todas de cor! E eram umas 30! Fui muito feliz durante aqueles meses: cantando, dançando e atuando. Eu não tinha nenhum papel de destaque, nenhum solo, nada disso. Mas como eu sabia o papel de todo mundo, sempre ensaiava no lugar de alguém que faltava e aí, na verdade, começaram a me olhar com outros olhos. Eu mesma fiquei mais confiante e roubava mesmo a cena quando podia! haha...
No ano seguinte, de volta À Brasília. E eu retornava para a minha cidade depois de dois anos fora: sem amigos (pois havia brigado com todo mundo antes de partir pra Inglaterra) e muito relutantemente, já que minha vida em Pinheiros, do lado da Vila Madalena era o máximo! Bom, mas acabei voltando e reingressando na escola, só que um ano atrasada em relação à galera da minha idade, porque o ano que fiz na Inglaterra não valeu para o Brasil. Voltei para a minha antiga academia, passei a dar aulas de ballet para crianças e me empenhei muito para ser uma bailarina clássica. Depois de uns três anos assim, eu já estudando Filosofia na UnB e dando aulas de inglês, eu comecei a ficar muito desanimada com a dureza, a mesmice e a competitividade daquele mundo de ballet e academias... Larguei tudo e fui fazer outras coisas.
Comecei a namorar meu futuro marido, curtimos muito e fui morar com ele. Fomos para os Estados Unidos de mala e cuia e eu engravidei da Nina! De volta à terrinha um ano depois, quando ela tinha uns três aninhos, cheguei a fazer algumas aulas (de clássico de novo!) na antiga academia, só para o meu prazer. Mas foi durante nossa estadia na França que tive meu primeiro e verdadeiro contato com a dança contemporânea. Fazia aulas à noite, uma vez por semana, na faculdade mesmo. Chegamos até a nos apresentar no museu Lorrain de Nancy, foi muito legal! Foi a primeira vez que trabalhei sem regras, criando a partir de propostas diferentes. Mas aí nós voltamos para o Brasil e eu parei tudo de novo.
Cheguei a procurar e a fazer aulas de contemporâneo de novo, mas logo em seguida engravidei do Gabriel e minha vida mudou completamente (como vocês sabem). E aí, agora, tenho esta oportunidade de dançar de uma maneira completamente diferente, dançar comigo mesma e para mim mesma, sem espectadores, sem expectativas, sem cobranças, sem piruetas e fouétés e sapatilhas de ponta! Não sei muito ainda sobre a Dançaterapia de Maria Fux, mas o pouco que sei já deu para eu me apaixonar e desejar do fundo do meu coração essa experiência nova. Quem sabe não estará aí uma nova porta que se abrirá para mim?... Não sei, só sei que quero fazer esse workshop, experimentar, criar... dançar! "Dançar para viver!" Este é o lema da dançaterapia. Em breve, mais notícias, sentimentos e quem sabe mais o quê...
Mas veja você, Mamá dançarina profissional!! Que chique!!!
ResponderExcluirQue delícia! Dançar é bom demais. Obrigada por compartilhar esta breve autobiografia, aprendi um monte de coisas interessantes sobre você que ainda não sabia. Sou fã.
ResponderExcluirMaira fico feliz de compartilhar sua vida com você e também a dança esse fim de semana!
ResponderExcluirSua vida é repleta de riquezas! Com certeza! beijo, Fernanda
Amiga, fiz sua quiche!!! Simplesmente maravilhosa! Postei lá no blog!
ResponderExcluirBjs