quarta-feira, 21 de outubro de 2015

Nossa rotina e o haze de KL

Minha vida na Malásia já tomou forma. Após um ano e dois meses morando em Kuala Lumpur, a rotina está bem instalada e - acredito que possa falar por nós seis, estamos todos adaptados à nossa nova vida.

Sim, é um país muito diferente do Brasil. Tirando o clima, que é tropical - leia-se quente pra chuchu e úmido, e algumas trapalhadas culturais, a Malásia se diferencia do Brasil em aspectos quase óbvios: religião (no pulral, claro), língua (que deveriam ser quatro as oficias, como em Cingapura - Inglês, Bahasa Malaio, Mandarim ou Cantonês e Tamil),  comida, modo de se vestir... 

Como não publico há muito tempo, há muitos assuntos atrasados. Mas vou tentar me concentrar no que interessa: o que vivemos no momento! As crianças estão em duas escolas diferentes: os dois mais velhos continuam no sistema francês e estão falando inglês bem. Vão e voltam de ônibus escolar, o que tem sido uma bênção, já que eu não preciso enfrentar o trânsito para levá-los ou buscá-los. Os dois menores vão a uma escola menor, montessoriana, pertinho de casa. O caçula começou a frequentá-la há um mês e meio e se adaptou  muito bem. E sim, falam inglês na escola, e aprendem um pouquinho de bahasa malaio e mandarim!

"Mas Maíra, todas as crianças agora vão à escola! E o que é que você faz o dia inteiro?" Esta é uma boa pergunta e eu gostaria de dizer que nas 4 horas e meia que não cuido de crianças durante o dia, eu tenho feito muitas coisas, na verdade. Nas últimas semanas, tivemos a felicidade de receber nossa primeira visita ilustríssima do Brasil: a vovó Fátima, minha sogrinha querida. Pois bem, enquanto os picurruchos iam à escola, eu e ela batemos muita perna por aí! Ela vai embora domingo que vem, e estamos tentando aproveitar um pouquinho ainda desse aconchego amoroso que estamos tendo com ela aqui.

Como os calendários escolares não batem, estamos aqui com os dois mais velhos de férias (pois no sistema francês elas são muitas), e os dois menores indo à escola. Mas tudo bem, fazer o quê? Não se pode ter tudo! E eu? Bem, eu tenho várias novidades... Estava em uma rotina de estudo massa à qual retornarei em breve. Ao mesmo tempo, botei um projeto querido em prática e estou dando aula de yoga pré-natal, seguida de roda de conversa com as lindas gravidinhas em uma estúdio de yoga e pilates de uma professora amiga do lado da minha casa! Além de me trazer um pouco de renda, esse trabalho me preenche e torço pra que ele continue a dar certo!

Trabalhos domésticos? Claro! Não param nunca! No momento, estamos sem ajuda. Tivemos de despedir nossa empregada por uma série de motivos. Enfim, não estava dando certo e ela dançou! A fadinha de uma amiga ficou aqui um mês quebrando um galho. Ela é ótima e talvez venha trabalhar aqui. Ainda não sabemos. A questão das domésticas na Malásia dá um post por si só e é provável que eu o faça, pois me interesso muito pelo assunto e acho que vale a reflexão - principalmente para nós, da classe média brasileira, que sempre "teve empregada" e hoje, pelo menos eu sou assim, as apoiamos e queremos mais é que elas sejam respeitadas, sem abusos, enfim...

Outra coisa que está rolando no momento é o tal do haze. já escrevi no facebook sobre isso e é algo que não passa em branco. No ano passado, à mesma época, também houve haze. Todo ano tem nessa época do ano. Mas este ano, o negócio está quente, pegando fogo mesmo, literalmente. Haze é uma fumaça espessa, proveniente de queimadas ilegais de florestas indonésias, onde indústrias de papel e, principalmente, de óleo de palma, queimam florestas para fazer seus plantios. Eles queimam lá, a fumaça sobe pra cá, mas acontece que as empresas são, geralmente, malásias e cingaporenses, quando não multinacionais (claro). Infelizmente, a situação deste ano está se agravando por conta das secas provocadas pelo El Niño. Caramba, que nó, não?

O haze acaba afetando a vida do cidadão comum. O céu fica sempre acinzentado. Nos dias piores, dá pra sentir o cheiro da fumaça, de coisa queimada mesmo. Quando está mau mesmo, como esteve nos últimos dias, dá pra ver a fumaça a dez metros de distância. Isto significa que não dá pra ver os prédios e a visibilidade é péssima! Pode saber: escolas públicas canceladas e atividades fora altamente não recomendadas. Hoje ao sair mais cedo, havia uma pontinha de céu cinza-azul e senti o calor do sol na minha pele. Pensei: bom sinal! Se continuar assim, de tarde, vou levar os  meninos ao KLCC Park, o maior parquinho pra crianças que já vi na vida: são um milhão de brinquedos fera, com passagens, escorregas, sobe-e-desce, várias complexos diferentes. Benjamin o apelidou de parquinho das cores! Tem uma área verde linda e uma piscina pública que me lembra a antiga piscina de ondas de Brasília. Aliás, esse parque foi projetado pelo Burle Marx, gente! Adoro ir lá, mas o ar tem de estar minimamente respirável.

É realmente uma loucura! Algo que nunca achei que tivesse de enfrentar na vida: poluição na cara! Sem dúvidas, é o que eu menos aprecio daqui. Espero que todos se conscientizem da grande burrada que estão fazendo! Sem contar com o preço da nossa saúde mental e física hoje (pois passamos muito mais tempo presos no ar-condicionado) e quiçá a do futuro! Claro, a questão é bem maior, tem toda a indústria envolvida, grana que não acaba mais. E ainda por cima, os donos das empresesas de óleo de palma querem nos convencer que ele faz bem à saúde! Tenha santa paciência!

Vou terminando por aqui e quero voltar a escrever regularmente. Essa foto foi a Fátima quem tirou! Passeio em Merdeka Square em um dia bem hazy!... Mamãe e papai curtindo a ninhada...

segunda-feira, 22 de dezembro de 2014

E a vida vai seguindo o seu rumo...

Hoje tive de pegar o carro e dirigir pra longe pela primeira vez. Bem, na verdade, meu destino não era tão distante assim da minha casa, principalmente pra quem é de Brasília. Tenho dirigido sepre que tenho oportunidade, mas geralmente pequenas distâncias. Mas em Kuala Lumpur, cheia de freeways e entradas e saídas mirabolantes, chegar a escola das crianças mais velhas pode se tornar uma tarefa deveras difícil. Principalmente se o seu Waze/GPS teima em não funcionar no seu celular. É o meu caso. Não tinha escolha: era preciso resolver a questão esta manhã. Como João estava trabalhando, o jeito foi eu combinar com Nina que ela ficaria em casa com os 3 pequenos enquanto eu me aventuraria pela cidade para chegar à sua escola. Até sugeri de virem todos comigo no carro, pra ela poder ser minha co-pilota, mas ela preferiu ficar em casa. Eles estão de férias natalinas e, durante as aulas, vão e voltam da escola de transporte escolar, o que é uma mão na roda, já que em KL, o trânsito pode ficar caótico em certos horários. Outra vantagem é que com o horário escolar deles, eles não pegam trânsito. O trajeto que deveria levar em torno de 20 minutos me custou 1 hora! Me perdi duas vezes até conseguir chegar na avenida principal a partir da qual sei seguir sem problemas até a escola. E a cada vez que me dava conta que estava perdida, ficava lá respirando fundo e tentando me achar com as placas. Sem contar que ainda não estou 100% acostumada à mão inglesa, não é? E, portanto, dirigir sem ter certeza absoluta por onde ir me toma muita energia! Mas, no final, deu tudo certo! Cheguei à escola, resolvi o que precisava e no caminho de volta, após ter enchido o tanque pela primeira vez sozinha, me perdi de novo! Acabei no centro da cidade tentando voltar pra casa. Mais umas voltinhas e já estava estacionada em uma barraquinha de comida malaia pra complementar meu almoço e o das crianças na esquina do condomínio. Como tinha feijão cozido, trouxe arroz, frango frito (as crianças adoram!), saladinha de broto de feijão e camarão ao molho apimentado. É incrível como o negócio da pimenta é questão de se aconstumar mesmo. Como como pouco na rua, e como minha comida é leve, porém não insossa, eu fico com vontade e como assim: comida apimentada e depois encho a boca de arroz pra aguentar! hahaha É uma delícia! Nossa vida aqui em KL vai seguindo e as coisas vão se ajeitando. Como não temos empregada, só uma faxineira filipina que vem uma vez por semana e fica por 5 horas, a questão das tarefas domésticas tem sido um tópico constante. Vivo dizendo que vou fazer um quadrinho e colocar o dia certinho de quem vai fazer o quê, mas nunca faço isso. Acabo me desgastando, gastando minha saliva, tendo que convencer a Nina, principalmente, da importância de todos trabalharmos pela casa. Acredito profundamente que ensinar meus filhos a participar das atividades domésticas e se sentir responsável pela casa onde vive é muito importante. Por um lado até gosto de não ter ajuda constante em casa, por causa disso. Mas é claro que às vezes bate aquela saudade da Betinha, minha fada-ajudante que foi tão importante pra mim e meus filhos nos quase últimos dois anos da minha vida. A maioria dos estrangeiros em KL tem empregada doméstica, inclusive morando em casa. Imaginem: europeus e americanos comuns, que em seus países de origem nunca poderiam ter acesso a isso, como no Brasil, se esbaldando com as possibilidades de ter empregadas, babás, tudo o que se imaginar por um preço que, para eles, é baixo. Não quero julgar ninguém, até porque tem mesmo essa mão de obra disponíve, de maioria filipina. Mas no nosso orçamento atual, pagando por 3 crianças na escola, em vias de pagar por mais 1, sendo duas em uma escola internaciontal caríssima, contando com o salário do João apenas, não cabe. E as pessoas daqui falam o tempo todo: como assim, não tem empregada? fazem tudo? mas é tão barato!!!... Das famílias que conheço e tenho um pouquinho mais de convicência, só uma não tem ajuda diária: minha vizinha de Singapura, mãe de 4 crianças também. É ótimo pra mim. Não me sinto tanto como um peixe fora d'água!... Os desafios tem sido constantes até porque agora trabalho em casa. Quero dizer, estou fazendo trabalho pra fora, em casa. Isso mesmo! Decidi me lançar na carreira de tradutora freelancer, com meus dois pares de língua: português<>inglês e francês>português. E que coisa incrível! Foi só eu me decidir, tomar algumas providências e... Já estou fazendo meu primeiro trabalho profissional! Não tem sido nada fácil, pois há prazos a cumprir e a vida dentro de casa não pára: vai no computador, trabalha um pouco; pára e vai trocar uma fralda de cocô; volta pro computador; vai saber qual é a gritaria no quarto; volta; levanta e vai cuidar da roupa; volta e trabalha mais um pouquinho; levanta e vai fazer comida; dá um peitinho; descansa, volta pro computador... E assim vai!... É loucura! Mas estou gostando bastante! Quando Nina e João podem me dão aquela mãozinha cuidando da galera pra eu trabalhar em silêncio: luxo, minha gente! Melhor ainda vai ser quando for paga... ui, nem quero imaginar! Vou fazendo e vou vivendo. A foto que vocês estão vendo foi tirado em uma noite, quando estava saindo da aula de yoga e o dono desse calhambeque lindo me viu tirando uma foto do carro dele e quis saber se eu queria entrar pra ele tirar uma foto e... Voilã! Até a próxima!

sábado, 25 de outubro de 2014

Depois da tempestade, vem a bonança!

(agora estou feliz como essas arraias do aquário!) Há quanto tempo não escrevo para o blog! Estou com muitas saudades desse espaço. O último mês tem sido intenso, com fortes experiências malasianas! Desde que Iuri começou a escola – acabamos optando pela montessoriana a poucos metros de casa, outro ritmo se instalou. Após a primeira semana de adaptação – foi um pouco difícil pra ele, ele começou a se sentir mais a vontade, corajoso e curioso. Tem sido ótimo, então, o fato de ele estar se relacionando com outras crianças e outros adultos na escola. São três professoras, todas indianas-malasianas, umas fofas! E eu estou tranquila; a diretora, também indiana daqui, é muito atenciosa, e elas são todas bem amorosas. Tenho lá minhas reservas em relação a “ficar ensinando coisas pras crianças”, mas como isso é parte das atividades e não toma todo o tempo, tolero. O fim do mês de setembro foi um pouco conturbado para mim. Eu estava muito ansiosa para que Iuri ficasse logo na escola. Comecei a me sentir isolada, sem amigos, sei lá... A minha cabeça começou a me atrapalhar. Eu entrei numas de que tinha que trabalhar fora a qualquer custo. E logo. Mas nós só tínhamos um mês de Malásia, e esses pensamentos me custaram muito caro. Mudamo-nos no fim do mês para um apartamento na mesma área (do outro lado da rua, na verdade) do anterior: maior, mais arejado e iluminado, em condomínio pequeno, um estilo bem privado, muito gostoso... Mas eu não estava tranquila. Em poucos dias, Nina começou a ter uma febre muito alta e ficou de cama por três dias. No segundo dia em que ela estava doente, eu e Benjamin caímos ao sair de um táxi depois das compras. Eu estava tentando sair, mas achei que poderia colocá-lo no chão antes. Não deu outra. O carro era alto e caí por cima da perninha dele. Ele não conseguiu mais ficar no chão naquele dia, para a minha culpa e desespero. Naquela noite, fui à minha segunda aula de yoga. A aula foi mais tranquila que a primeira, que tinha sido com o dono do estúdio, uma aula bem forte de Ashtanga. Voltei pra casa de noitinha e estava garoando. No dia seguinte, acordei completamente dolorida. Achei que tinha pegado um resfriado e que aquela dor, que foi piorando à medida que o dia foi passando, a ponto de eu caminhar devagarinho e ter que me esforçar muito para dar conta das tarefas da casa, era resultado da aula da noite anterior. Qual nada! Nesse dia, chamei Benjamin pra brincar de gatinho e ele tomou coragem e se locomoveu engatinhando. Minha culpa e preocupação diminuíram um pouco... Mas acontece que eu não melhorava nada e comecei a ter febre também. Como Nina não conseguia sair da cama no quarto dia, e Benjamin continuava não andando, João tomou a decisão de levá-los ao hospital. Eu, mesmo muito mole, quis ir também. Chegando lá, Nina fez o teste de dengue e, como estava com as plaquetas baixas, foi internada. Benjamin foi examinado na emergência e o médico não achou nada, mas como médico é sempre médico, pediu raio-x. Esse exame nós levamos a um ortopedista, que me explicou que há lesões que não aparecem no raio-x. Além disso, enquanto conversávamos, Benjamin levantou-se e saiu andando! Meus olhos se encheram de lágrimas! Pra mim, foi o fim do assunto. Ele me pediu pra ficar de olho, caso a perna ficasse roxa ou ele continuasse reclamando de dor. Ele mancou por alguns dias e depois... ficou ótimo! Joao dormiu no hospital com a Nina naquela noite e eu voltei pra casa – não tinha nem uma semana que havíamos nos mudado – pra ficar com os meninos. Busquei Iuri, que tinha ficado na escola por mais tempo a nosso pedido e esperei Gabriel chegar. Conversei rapidamente com minha mãe no Skype. Eu estava com febre e muito cansada. Ela deu uma chamada nos meninos pra mim, o que me ajudou, de fato. Assim que escureceu, eu disse a eles que iria apagar as luzes e que ficaríamos todos quietos. Durante a madrugada, além das dores pelo corpo, eu senti as famosas dores nas juntas e pensei: “Lasqueira! É dengue!... o que vou fazer?” No dia seguinte, quando João voltou pra casa, pois o combinado era que eu iria passar o dia no hospital com a Nina, ele me deu uma dura. Disse que eu poderia estar muito doente e que eu tinha que me consultar na emergência. Fiquei com a Nina um pouco e, como ainda estava com febre, mesmo baixa, e muitas dores, convenci-me de que tinha que descer e conversar com um médico. De cara, ele me disse que eu teria que fazer o teste, uma vez que minha filha já estava contaminada. Fiz, e minhas plaquetas já estavam baixas. Ele me explicou que elas iriam abaixar mais ainda e que para eu ir embora, teria que assinar um termo de compromisso! Conversei com João ao telefone, na verdade, chorei muito e fiquei. Soro na mãozinha, amigo vizinho trazendo cartão de crédito pra eu pagar o depósito e consegui ficar em um quarto no mesmo corredor da Nina. Ele era grande e confortável. Tinha vista pras Petronas e, ao anoitecer, era bonito de se ver: aquelas luzes se acendendo pouco a pouco e depois, no escuro: aquela maravilha! Nina ficou quatro noites. Eu tive que ficar sete. Eu procurei não ficar sentindo pena de mim mesma. Mas, na verdade, foi um período importantíssimo para o meu crescimento. Eu entendi que estava ansiosa demais, atropelando as coisas com a minha cabeça. Entendi que a minha vontade de trabalhar, produzir e criar outras coisas que não fossem os filhos é legítima, mas que as coisas tem o seu próprio tempo, que não é o meu! Entendi que chegar a um país estrangeiro, reatando um casamento, com 4 crianças é tarefa não-simples. Mesmo sendo a quarta vez morando fora do país, esta certamente é a mais desafiadora de todas. Percebi a grande importância que tem a minha saúde física e mental no seio desta família numerosa. No quinto dia de hospital, João estava pirando em casa, sem poder ir trabalhar, tomando conta de tudo e todos, e eu conversei com o médico pra poder ir pra casa. Ele disse que eu poderia ir, se voltasse no dia seguinte, pois minhas plaquetas ainda não estavam altas o suficiente. Muito ansiosa e culpada (pra variar), fui embora. Fiquei um pouco com os meninos, amamentei o Benjamin e comecei a ter uma dor de cabeça pesada! Ela não parou de aumentar e aí eu comecei a vomitar. A dor não passava de jeito nenhum e, como já estava muito fraca, João e eu concordamos que seria melhor eu voltar para o hospital imediatamente. Foi o que eu fiz! De volta ao soro, remédio na veia pra conseguir descansar. Salvou minha vida! Em menos de 48 horas, eu estava me sentindo forte o suficiente pra voltar pra minha casa e pras pessoas que eu mais amo: eu mesma, meu companheiro e nossos filhos! Meus exames apontaram que eu melhoraria sem dúvida e pude ter alta! Mandei flores pro meu corredor, afinal como agradecer àquela equipe de enfermeiras tão cuidadosas e pacientes? Quando cheguei em casa e me dei conta de que tinha passado mais tempo no hospital do que na minha casa nova, me deu uma vontade enorme de viver! E curtir e me divertir! Pouco a pouco, fui-me sentindo mais forte, conseguindo fazer cada dia um pouquinhomais. Gradualmente, fui curando meu corpo e minha alma. Desde então, já fizemos passeios maravilhosos e eu e João até saímos em uma “date”! Contratamos uma das professoras do Iuri como baby-sitter. Ela deu super conta do recado e nós nos divertimos na noite venezuelana! É isso! Estou certa de que as coisas acontecem quando tem que acontecer. Estou confiante que essa vivência nesse país tão intrigante será (já está sendo!) de grande valia para todos nós.

quinta-feira, 18 de setembro de 2014

Procurando pré-escola

(foto do jasmin vermelho de dentro do condomínio - perfumado!) A rotina escolar de Gabriel e Nina começa a se instalar e, agora, estamos procurando uma escola pro Iuri. Antes de saber que nos mudaríamos para cá, Iuri estava com sua vaga garantida na escola dos irmãos no Brasil, o Liceu franco-brasileiro de Brasília. Há varias razões pras crianças estarem no sistema francês, mas o mais relevante, certamente, é o fato de eu ser cidadã francesa e, como tal, ter direito a participar, anualmente, do processo de bolsas escolares do governo francês para os franceses expatriados. Isto significa que aqui na Malásia, eu também posso fazer parte do mesmo processo e é o que estou fazendo. Acontece que a escola francesa daqui não tinha mais vaga pra idade dele – ele iria iniciar o maternal, na petite section aos 3 anos e 8 meses. Só poderei tentar lá no próximo ano letivo (setembro de 2015!...). Portanto, é imperativo que encontremos uma escola pra ele e que essa despesa caiba no nosso bolso! Neste exato momento, estou do lado de fora escrevendo na varanda, enquanto Benjamin, que está com 1 ano e 8 meses, se diverte na bica com um balde, peladinho, e Iuri está vendo TV... É complicado. Ele brinca, mas fica mais entediado que o irmão menor e ou quer ficar na piscina, ou quer ver TV com frequência! Bom, pelo menos ele está aprendendo inglês! Hahaha.... E foi a primeira vez que assisti `a Dra Brinquedos (Doc) e gostei do que ela cantou pra um brinquedo: “First things first – take care of yourself”! Traduzindo: primeiro as primeiras coisas – cuide-se! Adorei! Esses são, de fato, alguns dos lemas que aprendi nos últimos tempos e que repito pra mim mesma com frequência. Já encontrei duas possíveis escolas, ambas a 100m de casa. Vou visitar uma hoje pra ver do que se trata e depois terei uma ideia. Sei que é uma escola internacional grande, de ensino inglês. A outra é montessoriana, em uma casa com jardim, só pra crianças menores, muito linda, mas um pouco cara para as nossas condições atuais. Estou cruzando os dedos pra que tudo dê certo logo! Hoje estou me beneficiando de ter a Vina (faxineira) de novo em casa e é por isso que escrevo durante o dia. Vim pagar o aluguel enquanto Benjamin dorme e trouxe Iuri pra brincar em uma espécie de mini-brinquedoteca que tem aqui no condomínio mesmo. Na verdade, trata-se de uma sala com chão emborrachado, com ar condicionado, cheia de brinquedos. Pelo menos, não tem TV e as crianças brincam pra valer! É também ponto de encontro entre as babás e algumas mães, como eu. Mas pela manhã, ninguém vem... É isso! A vida vai tomando forma e as coisas vão entrando nos eixos. Eu descobri um estúdio de yoga e pilates aqui do lado e vou começar a frequentá-lo semana que vem. Mal posso esperar pra voltar a me movimentar e fazer novas amizades, quem sabe!... Em breve, nos mudaremos pra casa nova e aí será de novo uma adaptação. É aqui do lado e é lá que receberemos o container que está trazendo nossas coisas (alguns móveis, livros, brinquedos, nossos utensílios de cozinha). O condomínio é mais austero do que esse, mas não adianta tentar imaginar como será. Apenas quando estivermos lá é que saberemos, não é mesmo? (Acabou de chegar aqui na brinquedoteca uma babá, que ainda não identifiquei a nacionalidade (ela não fala inglês!), com duas crianças que me parecem chinesas. Iuri ficou todo feliz, mesmo não sabendo ainda falar inglês com seu amiguinho da mesma idade. Mas eles estão brincando do mesmo jeito: montando blocos gigantes e falando cada um `a sua maneira... bem legal de se ver! São de Mianmar, acabei de saber!) Como este post foi escrito ao longo do dia, já tenho a resposta sobre a escola que fui visitar: não dá!... O jardim de infância é muito esquisito, parece um labirinto improvisado, com pouquíssima ventilação, salas bem feiosas com pinturas que não me agradaram... Enfim, nem é uma escola baratinha, mas investindo um pouco mais, acredito que Iuri terá recepção melhor. Não visitei a outra ainda, mas tenho certeza de que ficarei bem mais satisfeita e tranquila. Mais no próximo episódio!

quinta-feira, 11 de setembro de 2014

Passeio e novas perspectivas

Quarta-feira passada, tive o prazer de passear sozinha pela primeira vez pela cidade. Era fim de tarde e já não estava mais tão quente. Certamente, a temperatura continuava alta, mas como não há mais sol direto, é bem mais agradável andar pela rua. Peguei um ônibus aqui perto e fui `a estação de metrô mais próxima (eles falam que é um trem, mas é um metrô mesmo). O engraçado é que fui diretamente ao guichê, mas os tokens só podem ser comprados na máquina. O preço da passagem varia de acordo com o lugar onde se desce. Comprei meu token e lá fui eu. Passei pela máquina e alguém me disse para depositar o token e assim fiz. Ao descer na estação desejada (KL Sentral – eu estava indo até Little India), fui pega de surpresa, pois o tal token que eu havia deixado no meu ponto de partida seria necessário para sair da estação (é assim que eles controlam se se pagou corretamente pela destinação!). Ri de mim mesma e pedi pra guardinha abrir a saída pra mim... Ela deu uma risadinha e disse: “next time”... A estação é enorme e se conecta com um shopping mall – aliás, aqui em KL, uma das coisas que mais se vê construídas são os malls, pra tudo que é lugar! Pedindo informação, e sendo sempre bem acolhida, cheguei ao meu destino, mas não encontrei o que fui procurar... Um tanto desapontada, fiquei um pouco meio sem saber o que fazer. Enquanto isso, ao meu lado, havia um pequeno templo de alguma religião indiana - desculpem a minha ignorância, onde dois homens com os dorsos nus entoavam um canto enquanto defumavam a sala. De lá de dentro exalava um perfume delicioso de incenso e a estátua de um deus estava coberta de flores. E ooops! Quase tomo um susto, pois bem do ladinho da entrada do templo havia uma jaula bem grande com dois macacos! Deu vontade de entrar e ficar por lá mesmo (no templo, gente!). Porém, a fome tava grande e decidi voltar pra cidade, já que eu queria muito ver KL de noite iluminada. Era por volta das 7 e não tardaria para anoitecer. Fiquei com muita vontade de comer algo na rua - quando se caminha pela cidade, nas calçadas, geralmente tem uma barraquinha de comida. Mas confesso que fiquei receosa por estar sozinha e pelo fato de talvez ser difícil conseguir algo pouco apimentado... Então, entrei no mall e voltei para a estação. Lá, entrei em um restaurante pequenininho, que servia acho que pratos simples para agradar todas as etnias daqui. Comi uns pasteizinhos de curry deliciosos e tomei iced tea. Depois voltei ao mall e entrei na Godiva (ninguém é de ferro, ne?). Passeei um pouco comendo chocolate amargo de excelente qualidade – ueba! Aqui, tem todas as lojas legais das quais temos noticia. Acho que os preços são, no geral, melhores do que no Brasil, mas ainda não fui a nenhum lugar budget que tem por aqui pra comprar roupa pra criança, tênis, essas coisas. Decidi experimentar uma bebida gelada (aqui tem um monte de tipos) que é uma espécie de suco ruinzinho, tipo tang, talvez, que vem com umas bolinhas gelatinosas deliciosas dentro. Pedi um de maracujá e adorei! Só não sei o nome do negócio; aprenderei! E assim, refrescadíssima, fui para KLCC, que estava cheio de gente: turistas, locais, casais com crianças pequenas... Uma delicia! E foi lá que tirei essa belíssima foto das Petronas Towers. Esse passeio tão simples foi de extrema importância pra minha sanidade. No dia seguinte, passei um super estresse pra cumprir a tarefa, aparentemente simples, de deixar Nina e Gabriel na escola e retornar pra casa. Tivemos que pegar um táxi mais caro, já que os budget que passavam ou não paravam, ou estavam lotados. Taxímetro rolando e o motorista decidiu, por duas vezes, pegar um caminho mais longo e estranho pra mim. Mas conseguimos chegar a tempo. Ufa! Fui conversar com a secretária responsável pelo transporte e ela me disse que me compreendia, que já havia vivido isso e que estava fazendo o possível para nos atender. A situação só é problemática porque não fizemos a reserva do transporte escolar com antecedência. De fato, escolhemos não morar nas proximidades da escola, que fica a uns 10 km daqui, porque esta área onde estamos é mais interessante pra nós: aqui, os condomínios são todos baixinhos e estamos a uma caminhada da cidade, bem como da embaixada brasileira. Lá, os condomínios são bem altos e há morros, o que dificulta a locomoção a pé com criança, além do trânsito que João teria que pegar diariamente. E o horário escolar permite a circulação ainda sem trânsito! Pra voltar pra casa, fui descendo o morro no qual fica a escola e consegui um taxi qualquer que, primeiramente, não queria me trazer de volta - sim, aqui tem muito disso: os taxistas não têm papas na língua, eles rejeitam mesmo o cliente se não for conveniente pra eles. Entrei e ele me perguntou se eu sabia onde era e eu respondi que sim. Então, ele começou a dirigir super rápido e entrou em uma highway desconhecida pra mim e começou a ir na direção errada! Foi a primeira vez que liguei o GPS no celular e foi o que me salvou, porque comecei a ficar com muito medo do cara, que era jovem, não falava inglês direito e não sabia onde estava indo. Ele fez de tudo: abriu a janela pra fumar e tinha aquela atitude de garoto que dá cavalo de pau no carro! Rezei e conseguimos chegar, nem sei como!... Finalmente, hoje estou tendo meu primeiro dia relativamente tranquilo na Malásia. Ontem tive o prazer de receber uma faxineira aqui em casa e ela limpou a minha casa, que estava imunda! Grata, Vina! Ontem de noite, tivemos a noticia maravilhosa de que a partir de hoje, sexta, as crianças teriam o tão esperado transporte! Fiquei tão feliz e aliviada que até minha menstruarão, que tava atrasada, desceu! Hahahaha E pra completar a minha alegria, João teve um encontro com o proprietário de um apartamento maravilhoso, que eu fui ver do outro lado da rua e... O cara é um super empresário chinês, tranquilo, e topou a nossa proposta! Ufa, que maravilha! Isto significa que estamos com nossa moradia em KL garantida e devemos nos mudar no inicio de outubro. Por ora, fecho o meu texto e abro meu coração para a minha nova vida. Em breve, mais! P.S.: não entendo porque não consigo mais fazer parágrafos aqui no blogger. Se alguém puder me ajudar com isso, agradeço!

domingo, 7 de setembro de 2014

Kuala Lumpur: primeiras impressões

Finalmente consegui um tempinho e uma dose de coragem para escrever!... Minha vida mudou (de novo!) e dessa vez mudou tanto que tive que dar meia volta no globo terrestre... Estou novamente casada com o João (o mesmo - escreverei mais sobre esse processo em momento oportuno) e, como ele trabalha servindo a pátria com serviço exterior, ele acaba de ser removido para trabalhar na Embaixada do Brasil na Malásia, em Kuala Lumpur. Chegamos aqui há menos de 10 dias, exaustos da longuíssima viagem, carregados de malas e todos os nossos quatro filhos: Nina, 13, Gabriel, 6, Iuri, 3 e meio e Benjamin, 1 e meio. Estamos muito bem instalados, em um apartamento em condomínio com serviços, mas provavelmente teremos que nos mudar, visto que precisamos de um quarto extra e aqui não ha esta possibilidade. Quem me conhece e se lembra dos meus textos anteriores sabe que a minha praia não é fazer textos informativos, apesar dos dados serem importantes - principalmente quando se está em um lugar tão diferente de onde se vem! Gosto de usar este espaço e esta ferramenta fantástica de publicar meus escritos para dissertar sobre minhas impressões, minha experiência, meus sentimentos... A regra é não me prender a nenhum tipo de padrão. Eu faço isso justamente para me sentir livre, leve, para que eu possa divagar sobre qualquer assunto. O uso da primeira pessoa é proposital e marca também essa proposta. Agora, mais do que nunca, quero ter um espaço só meu, onde eu possa convidar as pessoas a entrar no meu mundo, abrindo as portas da minha casa e oferecendo algo interessante (ou não) para conversarmos ao tomarmos um chá, um café, um suco, um sorvete, fumar um cigarro... sei lá!... Então vamos ao que interessa: Kuala! Hoje fizemos nosso primeiro tour pela cidade. Pegamos o "hop-on, hop-off bus" e saímos ao vento primeiro e depois praticamente dentro da cabine com ar condicionado a ver a cidade. Até então, eu só tinha conhecido o caminho do táxi até a escola das crianças, que fica longe de onde estamos uns 10 km. Pudemos ver de perto todos os pontos turísticos principais da cidade e só realmente descemos em dois: no Central Market e em Merdeka Square. Ambos valem a pena enfrentar o calor... Tive também o meu primeiro contato com a comida chinesa-malasiana, se posso colocar assim. Fomos a um restaurante chinês (bem diferente dos nossos chineses-brasileiros). Eu pedi tofu frito e ele veio em um molho mega apimentado, que mal deu pra eu curtir!... Nunca fui chegada a pimenta, mas adoro experimentar comidas diferentes. Fui com fé, mas minha tolerância, aparentemente, não foi suficiente pra curtir o meu prato. Comi um pouco do frango do João, que estava muito bom, mesmo com a quantidade enorme de pimenta! As crianças acabaram não comendo direito, só os rolinhos primavera da entrada e uma espécie de lula a milanesa. Por fim, todos tomamos muito suco de laranja e abacaxi! Eu adorei ir a Merdeka. Quem curte arquitetura vai curtir muito uma viagem a KL. Os prédios são lindos, diferentes, cada um de um jeito. E a arquitetura de um século de idade é igualmente bela e interessante. Nós assistimos a uma apresentação impressionante dentro de uma galeria nessa praça. É um centro onde eles contam a história da cidade e onde há também uma lojinha incrível com um tipo de arte local feita em madeira, com detalhes minuciosos e chocantes! Tem uma sala onde há essa apresentação de 4 minutos com um vídeo simples sobre a cidade, bem informativo. Mas a mágica acontece na nossa frente, na super maquete de toda a cidade, que fica toda iluminada e acontece um espetáculo de luzes e música junto... Foi um negócio tão incrível e impressionante que nos deixou todos de queixos caídos!... A diversidade do povo é talvez o que mais impressione aqui. O país é laico-muçulmano, o que significa que eles são muçulmanos abertos a outras religiões. A etnia malaia é a maioria e toda muçulmana. Aí tem os chineses, que ou não tem religião, ou são budistas, acho, e os indianos, que são de religiões variadas. É no mínimo curioso cruzar com mulheres inteiramente cobertas e com véu, ou mesmo burca, e na mesma calçada ver as chinesas vestidas com roupas ocidentais, shorts, braços nus... Há indianas que caminham com seus belos sáris nas ruas e, claro, há toda uma comunidade internacional, com seus gringos diversos, fazendo desta cidade sua casa do momento. Depois de uma primeira semana bem cansativa e um pouco estressante por causa da dificuldade de acertar a diferença de 11 horas no sono de todos - não é brincadeira: criancinhas acordadíssimas às 2 da manhã, indo dormir às 5, depois outra acordando às 6, indo dormir à tarde para acordar às 11 da noite e por aí vai -, parece que a vida vai tomando o seu ritmo. Estamos passando por algumas dificuldades em relação a transporte, principalmente, já que não havíamos reservado o ônibus escolar da escola francesa com antecedência, nem possuímos carro ainda. Mas eu acredito que tudo vai se ajeitar no seu tempo. Estou muito feliz e satisfeita comigo mesma de ter produzido este texto e faço aqui um compromisso que, em breve, haverá mais! E com fotos, espero!

quarta-feira, 23 de outubro de 2013

Tirando a poeira

Caros leitores e leitoras, estou aqui diante de vocês para convidá-los a voltar a ler este blog, que esteve parado durante tanto tempo (mais de dois anos, dá pra acreditar?). De lá pra cá muita coisa mudou, mas uma coisa mudou mais do que as outras: EU MESMA! Falo de dentro: sinto-me revirada, repaginada, de dentro pra fora! E mais: sinto-me pronta para retomar o compromisso de publicar aqui textos meus, da minha cabeça, do meu coração, da minha casa e da minha alma!... Palavras que eu queira botar no papel virtual e, com elas, tornar públicas coisas minhas, mas que também possam ajudar a trazer a luz a outras pessoas. É verdade, eu continuo sendo mãe em tempo integral e dona-de-casa, porém agora, além de ser uma mulher divorciada, que tem mantido uma relação amigável e civilizada com o pai dos meus quatro filhos (sim, sou mãe de quatro crianças lindas!), venho me conhecendo melhor, me cuidando melhor, e entendendo que a prioridade em minha vida sou eu mesma. Isto pode soar um tanto banal, cafona, ou egoísta para algumas pessoas. Mas para mim é algo realmente novo. Hoje eu compreendo o que é me amar de verdade: me enxergar, me valorizar, me conhecer e me reconhecer! Estou exatamente como cantava o Roger do Ultraje a Rigor: "eu me amo, eu me amo, não posso mais viver sem mim!"
Neste meu universo cabem muitas coisas: coisas de mulher, de mãe de adolescente, criança pequena e bebê, que busca um olhar atento, presente, sincero e afetuoso com suas crianças, coisas de gente que busca crescimento espiritual, redescoberta profissional, seu lugar no mundo, enfim! Vale tudo, minha gente! Quero mais é me levantar, sacudir essa poeira e dar a volta por cima! Quem me acompanha nessa dança?