sexta-feira, 30 de abril de 2010

Ogum e a Sociedade do Baobá

Precisávamos de proteção. Nina, de pirata, era o próprio Ogum, empunhando sua espada para nos proteger. Sob o luar e o céu estrelado, um círculo de sal grosso fizemos ao redor de nossa casa. Sentamo-nos e descansamos. E, como se soubesse o que eu pensava e sentia, minha filha ainda falou da grande árvore onde ela, João, Gabriel e eu morávamos.

Sou grata por estar conectada comigo mesma e minha cria. Sou grata por estar presente e ver e ouvir minhas crianças tão sábias.

Texto inspirado na proposta de Fernanda Matos: Sociedade do Baobá. Confiram aqui.

quinta-feira, 22 de abril de 2010

Meus filhos nesta Brasília cinquentona

Meu bebê está resfriado e dando um certo trabalho. Irrita-se facilmente e grita com frequência. É só um resfriado, mas o nariz fica entupido quase o tempo todo. Qualquer pessoa sabe do desconforto que é ficar assim desanimado, imaginem uma criança que nem dois ano tem ainda! Pergunto-me se este seu mal-estar tem a ver com o desmame da noite... Provavelmete sim, inclusive porque nas duas últimas madrugadas eu dei peito. Fazer o quê? Aquele nariz entupido, acordando quase de hora em hora...

Mas já conversamos hoje. Eu lhe disse que o peitinho da madrugada acabou mesmo, que eu só dei porque ele estava doente, mas que não adiantava ficar dodói, não. Ele está crescendo e precisa descobrir o prazer de dormir a noite inteira! Esta compreensão está chegando inclusive para mim. Essa relação mãe e bebê é muito louca, visceral, estamos quase em simbiose. Mas esse tempo está se acabando. Ele está virando uma criança, pouco a pouco, e aí seremos mãe e criança.

Até porque eu tenho outra cria, outra criança que me quer, me chama. É Nina, com seus 9 anos completos, sua pele dourada, sua gargalhada, sua perspicácia, seu senso de humor, sua inteligência! Agora, mais do que nunca, ela pede minha companhia. Sua feminilidade começa a aflorar. E ela está vivenciando sua mãe se redescobrindo como mulher, em busca do "feminino perdido"! Quero estar mais e mais disponível para ela, para caminharmos juntas cada vez mais nesse caminho que nos pertence.

Enquanto isso, meu marido, João, está se fortalecendo como homem que é, exercendo sua masculinidade, sua objetividade, sua energia. e Gabriel, vagarosamente começa a entrar em contato com sua própria masculinidade. Hoje escutei o seguinte: o masculino é intenso, mas não precisa ser agressivo. É forte, é pontual, é certeiro! O próprio Sol. E nós? Somos Terra, com um ritmo bem diferente, mais Lunar, cheias de nuâncias, detalhes, ricas em subjetividade.

Mas dentro de mim também habita esse Sol, que me chama de uma vez e me faz agir precisamente. Assim como dentro deles habita a Lua, caprichosa, cuidadosa, redonda... Mas eu precisei e ainda preciso ficar mais forte com meu feminino para deixar o meu masculino se manifestar, na hora certa!

Que coisa! Minha intenção inicial era escrever um texto sobre os 50 anos de Brasília e a linda festa que os artistas da cidade se esforçaram para fazer! Como eles mesmos disseram: "com dez vezes menos, fazemos dez vezes mais!" Estive lá ontem pela manhã, com uma galerinha da família e à noite, só com a Nina e a Alice, filha da afamada Noélia, tia do João. Fiquei emocionada! A programação está nota dez! Para conferir, ainda dá tempo, visite o site deles aqui e o blog aqui.

Sim, eu que cresci naquele gramado da Funarte, entre ensaios e shows no teatro de lá, me emocionei com toda aquela gente animada, andando de palco em palco, procurando e encontrando o que queria ver, ouvir, vivenciar! Eu mesma, tive a felicidade de ver em ação o espetáculo Caleidoscópio, do Nós no Bambu (visite o site aqui dirigido por Nara, minha amiga de escola e dançado com outras duas acrobatas por Poema, amiga de colégio! Um trabalho lindo, intenso, feminino, forte! Bravas! E depois, ouvimos o Tambor de Crioulo do Seu Teodoro: que felicidade! Ainda subimos ao palco e dançamos, rodamos, rimos a bessa!

Enfim, uma festa autêntica, com a cara de Brasília e sua Arte! Bem diferente da festa na Esplanada, ao meu ver... Nada especificamente contra os artistas contratados, mas totalmente contra a forma como a cultura e os artistas locais são tratados por este governo local imundo e suas secretarias... Que dias mais limpos e dignos cheguem para esta linda cinquentona e que seus filhos possam se expressar artística e decentemente sempre!

segunda-feira, 19 de abril de 2010

Sob o céu estrelado de Brasília

Hoje é segunda-feira, mas parece domingo. Tive uma semana e um fim-de-semana atípicos. Tudo divertido, mas diferente do que tenho feito. A primeira coisa que mudou em mim foi a minha constatação de que não queria mais acordar de madrugada para amamentar Gabriel. Reconheci que estava ficando cansada demais ao estar disponível também de madrugada para ele. Faço isso há quase dois anos!

Foi difícil reconhecer isso em mim, mas conversei com mulheres que me ajudaram a identificar essa culpa (que destrói e corrói tudo) de "deixá-lo" à noite. Estamos os três (eu, ele e meu marido) nos readaptando à noite, então. Quando ele acorda, já sabe que não tem mais peitinho, só colinho. Dá uma choradinha, pede, mas se conforma cada noite mais rapidamente. Acaba dormindo com a gente e nós o colocamos de volta na cama.

Continuo amamentando-o durante o dia, claro, porque quero, gosto e sinto que ainda podemos desfrutar desse prazer juntos. Mas felizmente estou entendendo que não é nenhum bicho de sete cabeças desmamá-lo, que ele já está grandinho mesmo e que na vida, as coisas também acabam, pois outras começarão! Estou mais tranquila e segura em relação a isso. Tanto é que fizemos nossa primeira saída juntos (João e eu) sábado à noite! Pois é!

Sabíamos do show do Moby (que não é um DJ, por favor, como a mídia ignorante insiste em chamá-lo) no Museu da República e propomos aos meus sogros cuidarem das crianças naquele dia à noite. Eles aceitaram o desafio e Gabriel passou então sua primeira noite sem mamãe ou papai de sua vida! Deu tudo certo, mas houve momentos em que ele ficou tristinho, sem descansar direito e tal. Mas tudo bem, ficou inteiro. E o melhor de tudo: eu também!

Adorei ter saído só com meu maridinho, o que fazemos raríssimamente. Fomos ao cinema e depois fomos para a Esplanada. O show era gratuito, mas comprando um ingresso baratinho antes, além de contribuir para o reflorestamento do Cerrado, a gente também ficava em uma área vip bem na frente do palco. Pelo que entendi, era um evento de música eletrônica com viés ecológico. Quando chegamos, havia um DJ que eu não sei o nome botando um som muito bom, meio house, acho, com belas melodias; depois Hopper; e à meia-noite em ponto: Moby!

Ele na guitarra, uma mulher negra arrasando no vocal, uma violinista, uma baixista, um baterista e uma tecladista, que também solou no vocal em algumas músicas. Eles tocaram coisas conhecidas, em um show bem amarrado, dançante e lindo de se ver e ouvir! Afirmo mais uma vez que Moby não é DJ, ele é músico e compositor. Suas composições passeiam pelo rock, soul talvez, house, onde ele cria batidas eletrônicas. Sua música é melodiosa e criativa. DJ é quem "bota" a música pronta para tocar, uma coisa dificílima aliás de se fazer bem feito, pois há a seleção das músicas e técnicas que vão além do meu entendimento. Não é à toa que esta profissão é reconhecida e o público reage na hora com sua energia ou falta dela quando ele ou ela está botando o seu som.

Eu queria, na verdade, escrever um texto sobre os encontros que tive nesta semana. Talvez meu texto não esteja muito claro... Acho que estou com certa confusão. Enfim, como tive uma semana atípica, encontros igualmente atípicos aconteceram. Tive a felicidade de reencontrar um amigão de adolescência no meio da rua, com as crianças no carro. Aquelas coisas de Brasília, você vai passando e grita o apelido da pessoa (de uns 13 anos atrás), a pessoa pára, hesita, mas acaba se convencendo que deve ser alguém importante para chamá-lo com tanta empolgação. Lindo! Adorei.

E justamente em um momento onde eu estava pensando na minha vida de poucos amigos, enfim... As coisas acontecem de forma bizarra às vezes. Lá no show também tive vontade de me comunicar e estar com pessoas queridas com as quais eu já me diverti muito! Nós revimos algumas pessoas das antigas, é claro, quando Brasília ainda tinha uma "cena" eletrônica. Também encontrei uma pessoa da qual sou fã de carteirinha há muito tempo... Há tanto tempo que morro de sem graça quando o encontro por aí na vida de verdade, mas nem tão sem graça nos nossos encontros nessa blogosfera maravilhosa e cheia de surpresas, né, Sílvio? ;) (Quem quiser conhecê-lo visite seu magnífico blog aqui) Eu me diverti bem, dancei, mas estava acabada às 2 da manhã!

Como eu me sinto em relação a tudo isso? Quando a gente inicia um caminho de busca interior, ele não tem mais volta. Eu estava lá, com todas aquelas pessoas, mas estava também vivenciando coisas internas talvez divergentes das das outras pessoas. Bebi uma cervejinha, claro, mas estava me sentindo inteira, viva e feliz! A música e a dança fazem definitivamente parte de mim mesma e quero cada vez mais me encontrar mais com elas.

terça-feira, 13 de abril de 2010

Inventário da Horta

Hoje pela manhã, eu desenterrei (isso mesmo) algumas batatas yacon da minha horta. Depois sentei-me e fiz o inventário dela, uma coisa que já estava querendo fazer há a algum tempo, tão simples, mas que ainda não tinha feito. Um levantamento quantitativo e qualitativo do que já existiu e do que existe e possivelmente existirá nesse lugar fantástico, onde a natureza simplesmente acontece e sou eu quem ganha os créditos e aproveito seu alimento!

Há um ano atrás, quando nos mudamos para a chácara, a horta era uma emaranhado de pés de jiló velhos e muito, mas muito mato mesmo. Ela estava demarcada por uma cerca e havia seis canteiros (os mesmos que mantenho até hoje). É uma horta grande. No início, só muita terra, mato e adubo com restos de entulho. Vocês podem ver o vídeo da Ninoca na horta há exatamente um ano atrás aqui. Aos poucos, a horta foi aparecendo.

Lembro que as primeiras coisas que plantei ficaram na cerca. Eu simplesmente não ousava ir além da cerca, não me achava digna, nem capaz de adentrar este espaço que me parecia tão alienígena. Em maio de 2009, fomos ao aniversário da nossa amiga Carol (visitem seu fantástico blog aqui) e sua mãe, que é agrônoma aposentada e artista também, me presenteou com várias mudas: babosa, manjericão, batata yacon, hortelã, orégano e amora. Essas duas últimas foram as únicas que não pegaram...

E assim, comecei a horta. Pela beiradinha, discretamente, surgia uma paixão e um respeito pelas plantas que eu jamais havia vivenciado. Minha primeira grande empreitada foi me matricular no curso de horta orgânica (vocês podem conferir minha experiência aqui). Mais encorajada, preparei os dois primeiros canteiros. Paulão (meu sogro querido) me ajudou com as mudas de couve. Eu não tinha coragem de plantá-las! Então, ele as plantou. Tivemos muita couve até recentemente, quando as lagartas destruíram por completo um a um os meus três pés...

Do lado da couve: cenoura, rabanete, salsa e nirá, que ganhei do Paulão. Passei por poucas e boas com essas hortaliças. Entrei em crise com as formigas e observando-as atentamente acabei por me tornar uma amiga e aliada. Eu conversei com elas e fiz um trato: elas podiam ficar com aquelas cenouras e os rabanetes também. Depois disso, comecei a levar bem mais de boa a presença dos animais "indesejáveis"...

No outro canteiro: cebolinha, com mudas que me foram ofertadas pelo pai do dono da chácara, que planta um monte de coisas lá embaixo, rúcula, mais manjericão e alface. Essa foi a primeira fase da horta, intuitiva, e praticamente com a ajuda dos outros. E foi muito bem sucedida! Depois eu vivenciei certas dificuldades: pouca água, sementes que não germinavam, mais bichos (principalmente lagartas, que comem tudo!)

Até que decidi produzir algumas sementes. Fiz mudas de tomates-cereja, variedade da Embrapa, mais compridinhos, e maracujá. Nessa época, também plantei mais plantas medicinais: boldo do chile, guaco e arnica do mato. Aí apareceu o Batista (caseiro da casa da Carol, um homem fabuloso) e disse que eu deveria plantar mandioca e milho do lado da horta. Eu acatei à sua sugestão e o resultado foi milho este ano (confiram aqui) e lindos pés de mandioca, que devo colher no fim do ano!

Aí veio a fase mais madura e ousada: pimenta-de-cheiro, pimenta-malagueta (falsa, porque não arde), girassóis e as mudas de tomatinhos que eu mesma tinha feito! Produzi semente de rúcula, de girassol e de coentro. Que orgulho! Para alguém que sempre se julgou incapaz de tomar conta de uma planta, eu virei uma bruxa com varinha-de-condão! hahaha

A partir de amanhã (Lua Nova), poderei plantar umas mudinhas que estão esperando: alface e couve-flor. O maracujá está enorme e ainda não deu, mas acho que vai dar em breve. Já tenho plantado também (e dando!): quiabo e pepino caipira. É, estou prosa e satisfeitíssima! A terra me ensina diariamente que posso contar com ela, que a vida vem dela, que ela recebe a morte também e se renova todos os dias. É um aprendizado diário, como a própria vida. É preciso paciência, dedicação e disponibilidade. Depois, é só aproveitar o que a terra tem para nos dar! E bom apetite!

sexta-feira, 9 de abril de 2010

A internet e o tempo

Quanto mais adentro o universo dos indivíduos que fazem upload de seus pensamentos e suas vidas na net, nós, blogueiros, mais me emociono com a variedade e, não raro, a qualidade dos textos que encontro.

Este universo é vasto, rico e borbulha de criatividade. Gente criando. Gente se expressando. Gente se comunicando. Gente comentando e interagindo diretamente com seus autores prediletos(que podem ser tanto anônimos, quanto celebridades da net). Esta é uma revolução que acontece graças ao advento da internet, sem dúvida.

E só estou dizendo isto porque simplesmente visito sites, em sua maioria, brasileiros e alguns pouquíssimos portugueses. Não porque eu não fale outras línguas, não, mas porque meus textos são em português. E esta é minha língua materna, até na internet. Sei também que faço parte da minúscula fatia privilegiadíssima do meu país, que não só teve acesso a melhor educação, com formação em arte, música, dança, teatro, línguas, viagens, universidade pública, enfim, mas que ainda por cima está devolvendo para o seu país todo esse conhecimento acumulado de graça, por prazer!

É interessante isso. A maioria dos blogs que conheço são de pessoas comuns, que escrevem por vontade e estímulos próprios, sem obedecer a padrões editoriais, ou à mídia. Eu gostaria de ter mais tempo para me dedicar mais a este mundo que tanto me fascina, conhecer mais gente, ver mais bons trabalhos e, claro, produzir mais e através do meu próprio trabalho, trocar mais.

Mas tudo no seu devido tempo. Não adianta acelerar ou impulsionar algo que ainda precisa de tempo para amadurecer. Muitas vezes, é preciso esperar que a semente brote, cresça, se desenvolva, amadureça, fique velha, produza então outras sementes e finalmente morra. Só aí é que suas filhas-sementes terão vida. Tempo. Simples assim. Entregar-se à sua magia e sabedoria.

terça-feira, 6 de abril de 2010

Bonança

Sim, parece que ela está chegando. Depois da tempestade, ela chega de mansinho, não é mesmo?

Ainda está de manhazinha. Choveu a madrugada inteira, aquela chuva pesada e constante. Mas amanheceu assim: céu límpido, sol esquentando, silêncio... Fui andar lá fora com o pequeno. Queria que ele sentisse o calor do sol em sua pele, como eu estava sentindo na minha e gostando.

As plantas estão crescendo (o mato também), as últimas sementes semeadas estão brotando. Ontem passei roupa, hoje tem roupa sendo lavada. Ontem eu estava muito cansada, irritada. Hoje sinto-me mais conectada.

Em pouco tempo, as conquistas começam a aparecer. Ontem João entregou sua monografia. Belo trabalho, algo que ele está semeando em seu jardim do saber. Semana passada, ele ouviu o chamado do Ministério. Um telefonema, mais precisamente. Só falta a publicação oficial e nossa vida vai mudar um pouco. Não de uma vez, aos poucos.

Meu dia-a-dia, bem como o dele, vai mudar de imediato. Ele já não vai estar tanto em casa como o trabalho de intérprete permitia. Então resto eu, em casa, semeando, cuidando do jardim, brincando com as crianças, cuidando, cuidando e ME cuidando. Tenho este espaço, que me é muito querido e importante. E é nele que continuarei a plantar minhas palavras, meus pensamentos e meus sentimentos.

E o futuro? Como já dizia Toquinho: "é uma astronave que tentamos pilotar. Não tem tempo, nem piedade, nem tem hora de chegar. Sem pedir licença, muda nossa vida, depois convida a rir ou chorar"... Os caminhos estão sendo trilhados, os desejos, semeados. O momento presente é tudo o que temos agora. Este verde, as árvores, os pássaros, as frutas, as flores, tudo isso existe agora. Daqui a pouco, não sei. O mundo nos espera, quem sabe...

Que a esta Lua Minguante leve com ela as memórias de fracasso, de escassez, de dor, de medo, de raiva, de desamor. Que minha menstruação desça na paz, carregando com ela aquilo que poderia ter sido e não foi, limpando, limpando, limpando... Fiquem na paz.