terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Nascimento do Iuri - meu relato de seu parto domiciliar





IURI – 6 de janeiro de 2011

No primeiro dia do ano, nossos filhos foram dormir na casa da minha mãe. Eu estava com 38 semanas e 2 dias de gestação. João e eu sentimos uma vontade enorme de sairmos juntos. Ele me convidou para jantar e depois fomos ao cinema. Éramos um casal apaixonado aguardando a chegada do nosso terceiro filho (ou filha, já que não sabíamos o sexo do bebê). No dia seguinte, domingo, eu passei o dia tendo leves contrações e sensações que pareciam choques. Mas achei que era por causa do cansaço, de ter dormido tarde e tal... Mas tudo indica que meu trabalho de parto começou silenciosamente aí.

Nos três dias que se seguiram não senti absolutamente nada. Na quarta-feira, dia 5, Nina saiu de casa na hora do almoço para viajar com os avós, primos e tios paternos. Meu pai me ligou naquele dia me dizendo que estaria aqui em Brasília na semana seguinte e que o bebê já teria chegado antes dele chegar. Eu disse que não, que não sentia nada. Fui dormir. Acordei no meio da noite com contrações leves, mas fortes o suficiente para me acordar.

Eu sabia que estávamos na Lua Nova. Fui procurar minhas anotações de ciclo para ver se achava a Lua da concepção do bebê. Achei e tava lá: foi na Lua Nova mesmo! Pensei com meus botões: é isso aí, começou pra valer... é hoje! Fiquei acordada um tempo, excitada, claro. Mas não acordei o João e depois de um tempinho caí no sono de novo.

Quando acordei, as contrações continuavam como na madrugada, leves e espaçadas. Avisei ao João e pela manhã, ele já deixou o pessoal do trabalho avisado que eu estava em trabalho. Era dia da Divina. Ela chegou e eu fui ficando com Gabriel. Liguei para Paloma Terra (minha parteira, que fez meu pré-natal). Ela me disse para avisá-la da menor mudança de padrão do trabalho. Liguei para Rita Pinho (minha doula, que como nossa doula mesmo ainda não havíamos nos encontrado nem para conversar, pois não tinha dado certo). Rita disse que poderia vir naquela hora mesmo pra gente conversar, mas eu já estava com sono de novo e disse que mais tarde ela poderia vir.

Dormi de novo e quando acordei, achei que o trabalho tava na mesma: contrações leves e espaçadas, mas talvez um pouco menos espaçadas. João chegou e fomos almoçar. Comi bem (como sempre) e fomos nos deitar. Gabriel não quis ficar com a gente, estava agitado e queria brincar o tempo todo. Liguei pra Rita e disse que agora ela poderia vir. Minha mãe me ligou e perguntou se era pra buscar o Gabriel naquela hora. Eu disse que não, que tava tudo devagar, pra ela vir no fim do dia! Isto foi 13h30.

Enquanto estava deitada, durante uma contração, escutei um “POC”! E senti uma pressão lá embaixo. Mas não identifiquei nada e cheguei a pensar que tinha sido meu intestino, já que eu ainda não tinha feito cocô naquele dia. Qual nada!... A próxima contração veio de lascar e senti uma aguinha descer. Corri pro banheiro e verifiquei que minha calcinha e calça estavam molhadas, mas não muito. Como eu nunca tinha tido bolsa rompida antes e não havia muita água, fiquei em dúvida e liguei para Paloma.

Ela me perguntou como estavam as contrações e eu disse que haviam se intensificado bastante depois do “POC”, mas ainda estavam espaçadas. Ela me perguntou se eu queria que ela viesse naquele momento e eu respondi que Rita estava chegando e que não sabia... Ela então sugeriu que João e eu contássemos as contrações na próxima hora e retornássemos depois. Nisso, eu já estava de pé e tinha mudado de ideia sobre minha mãe vir pegar o Gabriel. Disse pro João encontrá-la porque o bebê nasceria de tarde!

Eram 13h50 quando Rita chegou. Ela me encontrou no sofá da sala, sentadinha, curtindo cada contração, como eu mesma lhe disse. João já havia ligado pro trabalho avisando que não voltaria e fazia as anotações à mesa. Rita estava linda, radiante, de banho tomado, cabelos soltos e vestindo um lindo vestido de renda branco. Ficamos conversando com Gabriel no sofá e ela ia me observando, perguntando como estava indo e tal. Ela quis examinar o que eu havia preparado para o parto e João lhe mostrou a caixa de plástico do “enxoval de parto”, com lençóis, toalhas , cueiros e afins. E eu lá, a cada contração, respirava fundo e fechava os olhos até terminar. Fomos para o meu quarto, eu me sentei na poltrona e ali fiquei. As contrações estavam fortes, cada vez mais longas (40, 50 segundos), mas ainda variando muito entre 10, 7, 5 e 3 minutos. Logo em seguida, Rita ligou para casa avisando que não voltaria, que ela ficaria direto com a gente.

Minha mãe chegou às 14h30. E a única coisa que perguntou foi :”Cadê a Paloma?”. Ela estava bem desconfiada daquele meu trabalho “lento”. Gabriel saiu de casa muito contente com a vovó. Fui ao banheiro, o cocô não veio. Tampouco consegui tocar meu cólo do útero. Foi então que levei Rita para conhecer os quartos. Fomos até o quarto dos bebês e apoiada na cômoda, senti uma contração bem forte. Rita achou melhor ligar para Paloma. Falou-lhe das contrações e como eu queria fazer cocô. Mas como eu não havia conseguido me tocar, elas acharam melhor Paloma vir mais tarde mesmo.

Rita estava com fome e pediu para almoçar. Divina esquentou o almoço para ela e voltamos para a sala. A essa altura, minhas contrações estavam muito muito fortes e já de minuto em minuto. Rita dizia : já, outra? E eu assentia com a cabeça, mas sempre muito caladinha e introspectiva a cada uma delas. Até que, sentada na beira do sofá, eu comecei a sentir muita dor no cóccis e eu dizia (choramingava, na verdade): “não consigo mais me mexer, quero fazer cocô! Tá doendo muito, muito!” Então ela me disse para relaxar que o cocô iria sair. Sugeriu que eu mudasse de posição. Fiquei de cócoras, mas eu não conseguia ficar. Fiquei de quatro em cima do tapete.

Rita me perguntou se podia tirar minha calcinha. Ela foi até o quarto, pegou a caixa do enxoval e forrou o chão atrás e embaixo de mim com panos de chão. Ela me disse para dar umas reboladas e fazer cocô tranquilamente. Mas eu não conseguia fazer nada. Chamei o João para ficar ao meu lado. Acho que foi nesta hora que Rita percebeu que as coisas estavam nos finalmente e foi até a área perguntar pra Divina onde havia uma farmácia, para ela ir lá comprar luvas descartáveis para ela. Mas Divina não lhe deu ouvidos e disse que não sabia onde havia farmácia nenhuma. Rita ficou desconcertada, mas não quis discutir e voltou para nós.

Eram 15h06 quando Paloma ligou e perguntou como iam as coisas. Rita estava na minha frente, abaixada. Ela disse que eu estava muito introspectiva, com muita vontade de fazer cocô e com muita dor. Elas decidiram que eu tinha que me tocar naquela hora. Eu dizia que não iria conseguir. Mas Rita me olhou fundo e tive coragem. Fiquei de joelhos, apoiada no João. Rita disse: “bota o dedo e veja se está duro”. Eu botei o dedo e senti algo duro. Está duro, eu disse. Rita mudou o tom de voz na mesma hora, disse à Paloma que o bebê estava lá e que depois falava. Ela então me olhou profundamente e disse que meu bebê tinha chegado, que eu deveria empurrá-lo na próxima contração.

E assim foi. Dei um berro que veio das minhas entranhas e senti sua cabeça sair. Rita pediu para João olhar o bebê. João viu que ele estava roxo. Rita, muito calmamente, mas acertivamente, nos assegurou que ele estava ótimo. No chão, na minha frente, Rita me disse para ir mais devagar, senão eu podia me abrir toda. Ela segurou minha pele em cima da vagina e disse que eu esperasse um pouco porque o bebê tinha uma voltinha de cordão no pescoço. Com seus dedos nus e sua experiência, ela tirou a volta. Logo depois, ela me disse para ir devagar de novo, pois havia outra voltinha. Mas dessa vez, ela não fez nada e o bebê saiu na próxima contração. Deu uma espécie de volta e Rita o pegou, molinho. Eu vi suas costinhas e sua cabeça, embaixo, na minha frente.

Incrédula, tirei minha blusa e a joguei longe. Sentei em meus calcanhares e recebi meu bebê no colo. Rita colocou um cueiro sobre ele e uma toquinha. Ela dizia continuamente para eu respirar, que a placenta o estava oxigenando e que pouco a pouco, ao massageá-lo, ele começaria a respirar. E, olhando para ele, vi que ele começava a ficar cor-de-rosa aos poucos, começando pelas bochechinhas, indo para o rostinho e de repente, todo ele estava rosa! Que milagre, ele respirava! João e eu não estávamos acreditando.. Ele queria saber se era menino ou menina. Eu achava que tinha visto um saquinho, mas não tinha certeza. Mas então olhamos e era realmente um menininho. Lindo, com cabelos pretos, pele avermelhada, nariz e boca perfeitos! Ah, um sonho de bebê...

Paloma ligou novamente. Eram 15h13, hora do nascimento do nosso bebê. Ela estava muito perto, chegaria em menos de dez minutos. E, de fato, chegou às 15h20 e me encontrou sentada em cima de um travesseiro, enconstada no sofá, com meu bebezinho no colo. Ela encontrou três adultos em êxtase e um bebê que respirava serenamente no colo de sua mãe, eu. Elas nos perguntaram se ele tinha nome. Nós nos olhamos e nos perguntamos se ele tinha cara de... Iuri. E tinha. Estava decidido, nosso terceiro filho, nascido no dia de Reis, se chamaria Iuri, como o russo Gagarin, que foi o primeiro a ver a Terra lá do alto e proclamou que ela era azul.

Estava feito: o nosso tão sonhado parto domiciliar havia acontecido e lá estávamos nós, segurando nosso bebê querido. Ele veio para o peito e expulsei a placenta. Magnífica! As duas parteiras (sim, pois Rita é uma de mão cheia, também) ficaram olhando, manuseando, conversando e nos ensinando sobre este órgão fantástico que pouco depois seria congelado em um pote de sorvete com os dizeres: “atenção, não é sorvete!”. A esta altura, eu já estava deitada no sofá, que elas forraram rapidamente, descansando e quase delirando. João estava com Iuri no colo e filmava tudo, tirava foto. Nós dois estávamos claramente alterados por aquele evento tão forte e maravilhoso.

Com certeza, eu havia entrado na partolândia há algum tempo, este estado de consciência onde a razão não tem vez e nós somos puro instinto, sentimento, completamente envolvidas no momento. Após o parto, eu continuava nesse lugar, como que planando, sentindo aquele cheiro maravilhoso que só o recém-nascido que não foi lavado tem. Um perfume de flores, inexplicável. E aquela criaturinnha nova em folha nos meus braços, mamando.

Depois de um tempo, fomos transferidos para o meu quarto, para a minha cama! Lá, sob meus olhos e os dos João, Iuri foi avaliado por Paloma, pesado, medido, tudo feito com muita calma, paciência e amor – para os que gostam de números, aí vai: 3600g e 52cm. Depois de outra mamada, ele adormeceu. E era hora de cuidar da mamãe aqui. Eu estava com vontade de fazer xixi. Rita me trouxe a comadre. Mas não deu certo! Perguntei se eu poderia ir até o banheiro. Elas me ajudaram e lá estava eu, fazendo xixi no meu vaso, dona de mim, sem ninguém me enxendo, dizendo o que eu deveria ou não fazer! Tive uma laceração natural em direção ao ânus e Paloma, com toda a calma, me explicou o que faria. Eu levei três pontos em cima, com anestesia local e o resto do corte se fecharia sozinho.

Isso tudo sem contar que bebi água e gatorade quando quis, comi pamonha, que me foi dada na boca por Rita duas vezes! Ou seja, mais conforto e segurança do que isso, aonde eu encontraria? E mesmo com a Divina aqui, as moças não pararam de trabalhar. Arrumaram os tecidos sujos em sacos, tiraram o lixo e Paloma esfregou o meu tapete com água oxigenada até as manchas saírem! Elas foram embora de noite, bem depois que recebemos as primeiras visitas: Gabriel, minha mãe e Luiza.

O que mais posso dizer? Muitas pessoas me chamaram de corajosa e tal, mas depois de três partos, eu concluo que quem tem coragem é quem vai parir no hospital, pois uma vez lá dentro, é muito difícil manter-se dona do própria corpo e fazer-se respeitar. É claro que este parto não foi como a gente havia se “programado”, mas no fim das contas: que parto pode ser “programado”? Isso não existe! Cada parto é único e este foi como deveria ter sido, imprevisível. Como eu gosto de dizer: o Universo o escreveu certo através de linhas tortas!

P.S.1 Após o parto, Rita foi perguntar à Divina por que ela não quis ir até a farmácia. Ela disse que sua mãe era parteira e que ela sabia que não se podia dar remédios a mulheres paridas. Ou seja, ela nem quis escutar o que Rita queria (luvas!); quando ouviu “farmácia”, disse não! E de qualquer forma, não teria dado tempo de comprar nem uma, nem duas luvas!

P.S.2 A pamonha entra na história porque todas as tardes, às 16h00, passam umas moças vendendo pamonha e curau aqui na quadra. E elas são bem audíveis! Então, logo após o parto, quando eu já estava no sofá, Rita me perguntou o que eu queria comer. As mulheres estavam passando e gritando/cantando e eu, na hora: pamonha!

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

IURI NASCEU!!!



Olá, queridos amigos!

Com praticamente 39 semanas de gestação, nasceu em um lindo, intenso, rapidíssimo e imprevisível parto domiciliar Iuri, no dia 6 de janeiro, na Lua Nova. Chegou repentinamente nas mãos de uma doula com alma de parteira, nas próprias palavras de minha parteira, que não conseguiu chegar a tempo para o parto!...Meu terceiro filho! Estou nas nuvens desde então...

Recupero-me em casa, daonde não saímos! Que maravilha... Ao lado do meu marido João, que esteve comigo em todos os momentos e agora também está apaixonadíssimo por esse novo ser que chegou. Pasmém! Nosso primeiro filho moreninho, com cabelos pretos e tudo!

Depois, com mais calma, farei um relato deste parto memorável. Por enquanto, só um gostinho do meu príncipe no sofá comigo para vocês... E VIVA O PARTO DOMICILIAR!