terça-feira, 23 de agosto de 2011

Mamãe, estou no mundo!


Gabriel e Nina começaram o novo ano escolar hoje, na escola francesa daqui. Ela, pelo sexto ano consecutivo, voltando às aulas na mesma escola, reencontrando os amigos. Ele, indo pela segunda vez a uma escola (havia frequentado uma creche por alguns meses antes, lembram?), mas pela primeira vez na escola francesa, que, com certeza é bem diferente!...

Chegamos na mesma sala que Nina estudou lá no seu primeiro ano, a Petite séction e a Moyenne séction ficam juntas, apresentamo-nos à professora brasileira, Nara, e ao professor francês, Frank. Gabriel disse o seu nome e rapidamente sentou-se para brincar com alguns brinquedos no chão. Papai conseguiu ainda lhe dar um beijo. Eu não, pois fui mais lenta, com Iuri no colo e meu Biel nem sequer olhou pra trás!

A sala é pequena e muito simples. Há dois professores e uma auxiliar para cada turma. Eu e João apreciamos muito esse jeito simples e "francês" de lidar com as crianças. Não é preciso deixar nada na escola: nem bolsas, nem lanche, nem mudas de roupa. Se acontecer "algum acidente" tipo xixi e tal, eles trocam tudo. Os pequenos têm um horário de 45 minutos para descansar e eles saem da escola apenas 15 minutos antes do horário de todo o primário, 12h45.

Há seis anos atrás, quando chegávamos na França e deixamos a Nina na escola "francesa" (óbvio, né?), estranhamos muito o jeito "pouco carinhoso" da maîtresse: nada de beijinhos, nem abraços o tempo todo com as crianças. Nina ainda não falava francês e no primeiro mês pegou catapora! Acho que foi a maneira dela lidar com as primeiras dificuldades. Mas rapidamente fez amigos e uma amiga muito especial e já na época do Natal, além de compreender tudo, já se arriscava a falar a língua. Deixar todas estas conquistas para trás, na hora de voltar, foi outro desafio também.

Quando ela começou na escola francesa daqui, já com 5 anos, não houve um período de transição muito forte, já que ela já falava francês e o que aconteceu na época é que a melhor amiga dela, que a acompanhou durante três anos seguidos e cujos pais tornaram-se nossos amigos íntimos também, é francesa. Valentine deixou o Brasil há dois anos para viver outros anos em Dublin, na Irlanda.

Bem, não sei bem como Gabriel vai voltar da escola, nem o que ele vai contar, nem como se sentiu. Ele ainda não fala francês e não sabemos como será a aquisição da língua para ele. Mas de uma coisa eu tenho certeza: ele está fortalecido para ir para o mundo! Ele pode ser magrinho e sensível, mas não é nem um pouco frágil! Que satisfação é ver meu filho tão forte fora de casa. Há dez dias, ele começou uma aula de judô de tarde, em uma turma com crianças de 3 a 7 anos e ele só me surpreende com o seu comportamento quando está com outras crianças.

Modéstia à parte, sinto que essa segurança e essa força que ele tem vêm justamente do fato dele saber que mamãe e papai estão disponíveis para ele. É fruto do nosso trabalho e dedicação. Estou emocionada... Há pouco tempo, ele era como Iuri, totalmente dependente de mim! E agora tá aí, no mundo, desmamado, desfraldado, criando, aprontando muitas peripécias, tirando a mamãe do sério antes de dormir... hahaha... com certeza, não é mais um bebê!

Tudo isso só me fortalece e me mostra que quando exercemos a paternidade e a maternidade com responsabilidade e consciência, respeitando, amando e cuidando dos pequenos indivíduos que colocamos no mundo (por opção!), eles se tornam crianças e pessoas saudáveis, capazes de exercerem sua individualidade na sociedade, sabem relacionar-se com os outros e enfrentam os desafios e frustrações da vida com mais segurança e serenidade.

Para mim, essa relação de parceria entre casa e escola, cada uma com o seu papel, respeitando o espaço e os limites de cada uma, é fundamental para o crescimento do indivíduo. Não que exista escola perfeita (muito menos pais e mães perfeitos!), mas deposito minha confiança na escola dos meus filhos, pois sei que eles têm todo o carinho que merecem e necessitam dentro de casa e que terão outras oportunidades de crescimento, conhecimento, relacionamento, fora dela. Hoje estou feliz e satisfeita!

domingo, 21 de agosto de 2011

Limpa Brasília!


Agora de manhã fiz uma coisa que gostaria de ter feito há muito tempo. Catei todo o lixo que havia na frente da minha casa. Explico. Hoje, 21 de agosto, é do dia do Limpa Brasil aqui em Brasília. Impulsionada pelo projeto, que instiga as pessoas a saírem de suas casas hoje e catar o lixo de suas comunidades e entregá-lo em um posto de entrega, dediquei uma hora do meu domingo de manhã a esta tarefa.

Eu cheguei a me inscrever no site, como voluntária, para depositar o lixo recolhido e tal. Mas talvez a minha contribuição seja silenciosa mesmo. Bem, não para vocês! Não me afastei quase nada do meu apartamento. Moramos em uma quadra das quatrocentos, quem conhece sabe como é. Os prédios são baixinhos, de no máximo, 3 andares, em sua maioria com pilotis. Moramos no primeiro andar e temos uma vista bem agradável, do jardim do prédio, com um bougainville gigante e jasmim. Tem uma cerca viva que separa o jardim "da rua", por assim dizer, já que do outro lado é a calçada pública.

A uns quarentas metros da minha janela, tem uma árvore do cerrado bem grande, com um banco debaixo e uma lixeirinha logo em frente. Seria um lugar agradável, não fosse o constante lixo, fruto do que se consome lá. Gente de todo tipo se reúne para fofocar, jogar conversa fora, beber e fumar! Imaginem a quantidade de garrafas de cerveja (inclusive quebradas) que recolhi. Carteiras de cigarros, sacos plásticos , papéis e papelicos, copos de plástico e embalagens do McDonald's também encheram meus três sacos de lixo de 50 litros cada.

Uma avenida de grande movimento fica aqui perto, com um ponto de ônibus, o que faz com que um grande volume de pessoas passe aqui na frente e, consequentemente, jogue o seu lixinho pessoal aqui. A iniciativa do projeto é a conscientização para o fato de que os brasileiros, em sua maioria, continuam jogando lixo (e muito) nas ruas. Com certeza, Brasília não é a cidade mais suja do país, principalmente porque no Plano Piloto, pelo menos, há garis nas ruas diariamente recolhendo a sujeira da galera! Mesmo assim, é incrível a quantidade de lixo que se joga na rua...

Agora mesmo estou olhando pela minha janela e notei que já tem uma galerinha naquele ponto que acabei de mencionar e me pergunto se eles vão notar que está limpo! Também queria saber se outras pessoas notarão e quanto tempo vai levar para ficar como estava... Mas afinal de contas, o que importa?

Eu fui catando e pensando com os meus botões como sou dada a trabalhos aos quais as pessoas geralmente não querem fazer, não notam que são feitos e muito menos os valorizam. Que trabalheira esse de catar os lixos dos outros! Viva os catadores de lixo!

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Meninas Castradas

Ontem fui levar o Iuri, que está com 7 meses e 12 dias, para tomar suas vacinas dos 6 meses (atrasadas). Estava eu aguardando no corredor do posto, com meu bebezinho no colo e observando a mãe ao meu lado.

Sua filha parecia do tamanho do meu Biel, devia ter uns três aninho e pouco... Eram 8h30 da manhã e a menina estava com um vestidinho todo arrumado, um bolerinho de crochê, meias e um sapatinho de boneca. Os cabelos estavam arrumados em diversas marias-chiquinhas e a mãe, babando. Até aí tudo bem, pensei eu. O que é que tem a menina sair tão arrumadinha de casa pra tomar vacina? Deixa de ser preconceituosa e coisa e tal, Maíra...

Até que a mãe me pergunta sobre a vacina de sarampo. Eu disse que o meu bebê não iria tomá-la, mas iria tomar outras. Ela disse então que não podia dizer pra filhinha sobre esta vacina, senão ela não ficaria lá de jeito nenhum. Então me lembrei que poucos dias antes, em um shopping daqui, antes de entrarmos no cinema, era dia de campanha de vacina. Eu não sabia desta vacina aí e disse pro Biel que ele iria tomar as gotinhas do Zé Gotinha e coisa e tal. Então a enfermeira me falou da injeção na coxa, era a tal contra o sarampo.

Respirei fundo, olhei para o meu filho e disse que, além das gotinhas na boca, ele iria tomar uma injeção na coxa, que iria doer, mas que eu estaria lá com ele e que depois, a dor passaria. Eu o coloquei no colo, como recomendado pela moça e ela aplicou a injeção. Ele chorou, claro e gritou. Deixei ele chorar o tanto que quis. Após alguns minutos, ele se recuperou (totalmente - será?).

Eu não contei a história do Gabriel pra moça, mas de alguma forma ela introduziu o assunto da injeção para sua filha. A menininha, então, expressando o seu medo, perguntou se poderia chorar na hora. A mãe disse que não, que ela não era um bebezinho. Ela perguntou se poderia ficar no colo e a mãe respondeu que não, que ela já era "moça" e que não precisaria de nada disso. Fiquei prostrada. Como assim, dizer a uma criança de três anos que ela não poderá chorar e se sentir indefesa diante de uma agulha gigantesca perfurando o seu corpinho?

Enfim elas entraram e foram atendidas. No meio tempo, chega outra mãe, mais corpulenta, com outra garotinha do mesmo tamanho da outra. A menina está com uma blusa de malha rosada, uma sainha tipo de brim e uma calça legging azul marinho. Aparentemente, está mais ou menos sabendo que será vacinada. Aí aparecem a primeira mãe com a menininha do vestidinho, chorando muito. E a mãe diz: fulana, já passou, pára de chorar pra não assustar a cicrana, que acabara de chegar. As duas se conheciam da escola.

A pequena da legging azul cochicha algo pra mãe, que diz em voz alta que ela está com medo e que não há razão para isso, que a vacina é rápida, quase não dói, parece um mosquitinho! Esta mãe então pergunta se a "Maria" lavou o rosto da pequena e depois fala em tom de bronca que ela tem que lavar o rosto! Depois, comenta com a outra mãe, quase debochando da filha, sobre sua roupa, que roupa era aquela que ela havia escolhido: rosa, com lilás, com azul marinho? Isso era roupa de "doidinha"! que ela teria que trocar de roupa assim que chegasse em casa. "Roupa de doidinha"? Qual o problema mesmo em combinar essas cores, sendo uma criança tão pequena, aprendendo e curtindo escolher as próprias roupas? A menina estava uma gracinha!...

Minha pergunta é: estamos falando de castração de meninas ou não? Os "não-podes" começam muito, mas muito cedo para as mulheres... Não que os homens não sejam "castrados" pela sociedade também. Mas essas duas mães com suas filhinhas, aparentemente não fizeram nada de "grave", estavam apenas dizendo às suas filhas que elas têm que ser fortes aconteça o que acontecer, que elas não podem chorar, demonstrar fraqueza, medo ou dor, que elas devem prender o choro mesmo que esteja doendo. Eu considero isto muito grave!!! É o mesmo que dizer a elas que se alguém algum dia as violentarem, elas devem ficar caladinhas, aguentar a dor e guardarem o sofrimento para elas mesmas...

E sobre as roupas, então? Desconfio que o conjuntinho da primeira menina tenha sido cuidadosamente escolhido por sua mãe, ela estava vestida "adequadamente" para uma menininha da sua idade; arrumada demais para o Posto de Saúde, é verdade, parecia uma bonequinha, mas "combinando". E a outra, com sua roupa de "doidinha" que deveria ser trocada? Isso pode, isso não pode, isso é certo, isso é errado, isso é de menina, isso é de menino, menina de rosa, menino de azul e a criança vai sendo podada e mais podada até não sobrar mais nada da sua autenticidade infantil e sua autonomia criativa... Socorro!

Quando vamos parar de ditar o que nossos filhos devem fazer? Quando vamos parar de querer controlar tudo, de ver defeito em tudo, de ensinar nossas meninas a serem preconceituosas e submissas às vontades alheias? Até quando vamos dizer aos nossos filhos que eles não podem expressar seus sentimentos, que eles não devem sentir raiva ou medo? Que isso é feio e isso é bonito? Quando estaremos finalmente prontos para aceitá-los como são e dar a eles o espaço que necessitam para aprender a viver respeitando a si mesmos e os outros?

quarta-feira, 10 de agosto de 2011

O Rio de Janeiro continua lindo!...

Fizemos uma viagem de doze dias para o Rio de Janeiro e chegamos há uns cinco dias. Foram nossas férias em família! Fomos todos: João, as crianças e eu! Foi uma viagem muito legal. Com o perdão da falta de concordância, atrevo-me a escrever um pouco sobre ela...

Teve praia maravilhosa com crianças "à milanesa", "bixcoito grobo" e mate com limão. teve praia com frio e vento estilo "programa de índio". teve encontros, risos e choros com tios, tias, primos, primas, bisavós e, claro, vovô Toni. teve até o casamento dele com a nossa Pri! teve Lapa da mamãe com o papai pra ver o tio Lolê tocar. teve bolo e guaraná pra comemorar o aniversário do papai (35, já, meu amor?). teve pizza, cachorro quente na rua. teve passeio pelo calçadão e pelo centro da cidade em obras. teve Confeitaria Colombo e Teatro Municipal. teve caminhada pelo Aterro. teve metrô e muito táxi amarelo. teve aula de acrobacia para a Nina. teve almoços e lanches deliciosos. teve um clima ótimo, dias de céu claro e até um friozinho gostoso. teve Jardim Botânico e belíssimas orquídeas. teve tráfego. teve passeio de pedalinho na Lagoa, seguido de chuva! teve Biel e Iuri que dormiram no carrinho. teve criança com sono e adulto cansado. Teve filminho na casa do vovô. teve tombo do bebê e nariz "quebrado". teve muita história essa viagem, teve bom demais esse Rio, minha terra natal!...

terça-feira, 19 de julho de 2011

Mãe uma, duas, três vezes... sempre de primeira viagem!

Muito se enganam aqueles que pensam que quem tem mais de um filho sabe tudo sobre os cuidados com os bebês e as crianças. As "mães de primeira viagem" somos todas nós: mães de um filho só, de dois, de três, de cinco, de dez! Independentemente do número de crianças que se cuida, mães e pais estão constantemente aprendendo e errando ao cuidar de cada uma de suas crianças. Isso porque cada criança é realmente única e exige cuidados diferenciados, ainda que seja filho ou filha do mesmo pai e da mesma mãe que os irmãos.

Digo isso porque estou cuidando do meu terceiro bebê e percebo o seu jeitinho diferente dos outros dois. Arrisco até a dizer que já é possível ver traços de "personalidade", mas na verdade são características pessoais mesmo de cada um, já em bebês pequenos.

Iuri, meu terceiro filho, está com 6 meses. Ele começou a engatinhar um pouco antes de completar esta primeira metade de ano de vida. Há uns 5 dias atrás, começou a sentar-se sozinho também. Divido isto porque nenhum dos meus outros filhos foi tão rápido ou forte para se locomover com tanta independência. Tanto Nina quanto Gabriel se arrastaram bastante, depois engatinharam bastante até finalmente caminharem sozinhos com 1 aninho e alguns dias.

Sim, eu sou a "mesma" mãe e procuro dar as mesmas oportunidades para os meus filhos, então coloquei todos os meus bebês no chão praticamente na mesma idade - acho que todos eles com três meses já estavam no chão tentando se virar, brincando e coisa e tal. Mas com certeza, Iuri foi o primeiro a se virar sozinho e a se arrastar. Antes dos 5 meses, já estava de quatro, se equilibrando e testando sua resistência. Pode ser que esta independência seja fruto da necessidade real dele de se locomover e interagir com todos da casa, já que ele é o terceiro e o tempo que eu e papai temos para todos é dividido mesmo.

Outra coisa interessante é como ele acorda de madrugada. Já há uns três meses, ele tem acordado quase que de hora em hora! Sei que ele ainda é pequeno e percebo que quando ele acorda, geralmente está incomodado: ou é um arroto, ou gases, ou um cocô que ainda não saiu... às vezes ele quer é ficar no colinho mesmo, dormindo. Eu estou aqui para isso mesmo, ofereço sempre o peito e ele mama se quiser. Mas acontece que estou bem cansada destas madrugadas "pauleiras". Papai também está cansado!

Iuri dorme em um bercinho no nosso quarto e eu acordo ao menor sinal de movimento ou barulhinho dele e vou atendê-lo rápido, claro. Cheguei a pensar que ele estivesse com fome e estivesse acordando por causa disso. Comecei a oferecer-lhe alguns alimentos durante o dia, tipo bananinha, batatinha... Mas ele demorou a se interessar! Ou seja, acho que não é fome não. Como está muito seco aqui em Brasília, estou pensando na possibilidade dele estar com sede e então estou oferendo golinhos d'água de vez em quando. Vamos ver se vai ajudar!...

Mas, na real, acho que tenho que olhar pra mim e me perguntar o que há em mim que não deixa que ele relaxe de verdade e pra valer durante a noite. Sem culpa nem nada, não é isso. Mas não posso esquecer que estamos em quase que uma simbiose e se eu não estiver bem e tranquila, ele também não vai estar. E eu sei que estou em um momento frágil, com questões pessoais e conjugais também. Pode ser que ele esteja captando tudo isso e muito mais!

Sei que existe uma tranquilidade natural em mim para lidar com as coisas das crianças e que esta tranquilidade fica mais latente a cada filho, mas é muita presunção achar que tenho as respostas para todos os problemas e que eles se resolverão da mesma forma para todos! Com cada um deles, os desafios são diferentes. Então é isso, um dia de cada vez, os filhos ao mesmo tempo, mas cada um com seus momentos e a vida vai seguindo e eu tentando dar o que há de melhor em mim, né não?

segunda-feira, 11 de julho de 2011

Da minha missão e do meu propósito

Hoje foi um dia estranho para mim. Dormi muito pouco, acordada várias vezes tanto pelo Iuri, que está de nariz entupido e tossindo, quanto pelo Gabriel, que acordou chorando duas vezes.

Eu tinha ido dormir relativamente cedo, mas com a madrugada super agitada e tendo que me levantar hiper cedo, comecei o dia "com o pé esquerdo": irritada, soltando grosserias para todo o lado. Felizmente, meu humor foi melhorando ao longo do dia e agora posso dizer que estou tranquila. Bom, não 100% tranquila, já que meus sentimentos também estão mexidos.

Digo isso porque estou um pouco confusa em relação a um propósito de vida que eu não consegui identificar ainda. Profundo, né? Alguns podem até pensar e me questionar: mas você não brigou e lutou tanto pelo seu desejo e direito de ficar em casa "maternando" em tempo integral? E eu vou dizer: sim, com certeza. E continuo "maternando" com vontade e amor em tempo integral. Porém, há algo que me inquieta e que meus filhos não podem suprir. Há algo que falta e que não tem muito a ver com eles, tem a ver comigo mesma.

Ser mãe para mim é uma missão, a mais importante deste momento. Um dos momentos mais gostosos de hoje foi quando saí só com o Gabriel para comprar pão. Ele se machucou logo na porta da saída do prédio e eu peguei ele no colo como se ainda fosse um bebezinho... E então eu percebi como era importante eu estar com ele naquele exato instante, abraçá-lo, poder consolá-lo e confortá-lo. Saímos e eu coloquei ele nas costas, "de cavalinho", e nós dois desfrutamos de alguns minutos de total alegria com a presença de um e do outro.

Talvez eu esteja simplesmente cansada do "batidão". Iuri é um bebê extraordinário, grande, forte e relativamente precoce. Mal completou 6 meses e já está engatinhando por toda a casa. É pesado e fica bastante no colo também. Na verdade, quando não está no chão ou dormindo no bercinho (que fica no nosso quarto), ele está comigo no sling. Acorda inúmeras vezes de madrugada; parei de contar e de olhar no relógio, já que não tenho hora marcada para acordar porque os outros estão de férias e acho que assim fico menos angustiada. Acho que ficou complicado para mim acordar quantas vezes for necessário de madrugada, já que a demanda por mim durante o dia é também incessante.

Como vocês sabem, sou assídua do blog Mamíferas, que hoje está lançando o site delas (venha ver que maravilha aqui), como se fosse uma revista. E eu fico sempre me perguntando: como elas conseguem??? Principalmente a Tata, que tem três filhos (duas gêmeas de 6 anoe e uma menorzinha de 2 anos e alguma coisa). Eu sei que ela é blogueira profissional, mas eu me questiono sempre como isso é possível? Ser a mãe que ela é, presente, ativa, consciente, de três crianças e ainda produzir textos como faz? Puxa, acho que sou uma desorganizada mesmo, mal consigo ver e responder e-mails; quanto mais dar conta de produzir textos em casa assim... sniff sniff

Sim, estou em crise; acho... Crise profissional? Talvez. Vejam bem, não é que eu tenha dado um tempo ou tirado uma licença da "carreira da minha vida". Tampouco não estou cuspindo no prato que comi. Fui professora de inglês por 10 anos e sou grata! Tenho certeza que tenho jeito para coisa, mas não sei se quero voltar para a sala de aula. Na real, estou é perdida em relação ao que quero fazer da minha vida. Ser mãe é intrínseco e natural para mim, é a minha missão. Mas ainda não é o meu propósito de vida; perceberam?

Não sei de nada, não sei para onde ir. Digo que vou fazer concurso no ano que vem (SERÁ?), queria me profissionalizar como blogueira (mas COMO?), mas também tem a formação em dançaterapia que eu fiz quase 1/3 e parei e quero voltar, enfim... "Só sei que nada sei", não é mesmo? Eu não estou dando um tempo de alguma coisa para voltar depois destes anos em casa. Eu simplesmente não tenho para onde voltar. Tenho que reconstruir, na verdade, construir um novo caminho para mim. E não sei por onde começar.

domingo, 19 de junho de 2011

Organizar para Criar

Durante esta minha "quarentena" sem João, meu companheirão, decidi tomar algumas atitudes. Não digo nem decisões porque o que quero mesmo é sair da inércia em relação a várias coisas.

A coisa mais importante que tenho aprendido neste período é que eu quero me organizar melhor. Quero me organizar. quero uma casa mais organizada. Quero uma rotina mais organizada com as crianças, não algo necessariamente imposto, mas mais organizado e com mais regras, com certeza. Regras? Sim, aquelas da boa convivência, aquelas do cuidado consigo próprio e com os outros.

Já fazemos coisas desse tipo: tomar banho diariamente, escovar e passar fio dental nos dentes, comer na hora certa, comer coisas frescas... Então agora só faltam coisinhas básicas, como por exemplo: deitar para dormir só depois do quarto organizado. Entrar no facebook, só depois da escrivaninha organizada. Enfim, quero aprender a fazer um pouquinho todo dia pra não ter que fazer um muitão de vez em quando.

Isto pode parecer bobagem para pessoas que têm facilidade em se organizar, mas para mim não é. Tenho uma disciplina natural para seguir regras e me manter "na linha", mas me perco muitas vezes na falta de organização e na bagunça. Em todos os aspectos. Desde o armário da cozinha, a louça do dia anterior, até as roupas limpas para guardar, os brinquedos das crianças e este blog mesmo! Tenho uma tendência a deixar as coisas se acumularem. Porém, não me sinto bem com as coisas por fazer.

E durante a ausência do João ficou muito claro que eu mesma não dou mais conta desse meu jeito. Quero mudar. Quero aprender como ser mais organizada. Sei que com mais organização e mais disciplina, terei tempo e energia para outras coisas mais interessantes. Tempo para relaxar e produzir. Tenho feito a seguinte comparação: para um músico poder improvisar, ele precisa saber da "organização" da música, como o tom (mi menor, sol maior ou o que for) e a harmonia (a ordem e natureza dos acordes do acompanhamento), além da melodia, claro. Só assim ele estará organizado o suficiente para criar algo novo, sua improvisação.

E assim pretendo fazer. Para poder fazer a minha "música", preciso de mais tranquilidade. E para fazer isso, começo com esta mudança. Que as deusas me iluminem!

quinta-feira, 9 de junho de 2011

Joelho e inquietações

"esponjinha" da casa de mamãe, foto da minha Nina

Sim, tem sido difícil me organizar para produzir em meus blogs. No geral, estou cansada demais para escrever, ou com o tempinho que sobra, entro no facebook para me divertir... hehehe

Durante esta viagem do João, que ainda vai durar 2 semanas e meia, muitas coisas acontecera. Todo mundo ficou doente, inclusive eu! Na verdade, meu joelho direito bichou. Há dez dias, ele deu um "crec" mega e "parou" de funcionar: ficou muito dolorido. Fui ao médico e chegamos à conclusão que machuquei o menisco durante minha louca aventura (aqui) e que ele foi se deteriorando com o tempo.

Amanhã pegarei o resultado da ressonância magnética (aliás, achei o exame o máximo, com aqueles sons todos..) e com ele terei a opinião do médico que me atendeu no pronto-socorro. Tudo isso pra dizer que nos últimos dias tenho estado debilitada, andando com um imobilizador no joelho, fazendo compressa gelada e me poupando. Mas a dor quase já não está presente e meu humor já é outro!

Sim, esses dias tenho ficado mais introspecta e tomei algumas decisões. Cansei de algumas coisas na minha vida serem do jeito que são. Decidi aprender a ser uma pessoa mais organizada; a bagunça da minha casa tem me cansado ao extremo e perceber a minha falha nos meus filhos é horrível!... Enfim, muitas coisas na cabeça, muitos desejos no coração. Muita fome de arte, muita saudade do João, mas ao mesmo tempo, percebendo a importância de me voltar para mim mesma e me dedicar a mim!

Em breve, mais!

segunda-feira, 16 de maio de 2011

Ele lá e nóis cá

Há exatamente uma semana atrás, João embarcou em sua primeira missão para o Japão.
Desde então, estou sozinha em casa com as crianças. 24h. E será assim até o fim do mês de junho.

Como estamos? Acho que bem. Agora as zicas começaram a dar trégua. Na semana passada, todos (sem exceção) ficaram doentes. E hoje de manhã, finalmente, descobrimos o que Nina tinha e a fez chorar durante o fim de semana inteiro. Córnea machucada, provavelmente por conta de coceira no olho durante a gripe. Mas agora estou tranquila porque sabemos o que é e ela está medicada e mais calma.

Gabriel e Iuri também estiveram gripados (sim, até o pequenininho!), mas estão todos melhores agora.

Sinto que a imunidade geral da casa deu uma baixada com a viagem do papai para tão longe e por tanto tempo... Mas eu não fico pensando no tempo nem na distância. Tenho vivido um dia de cada vez, me concentrando no que devo fazer naquele dia e vou fazendo e o dia vai passando. Nos momentos em que estive mais cansada, nem cheguei a pensar 'puxa, mas se o João estivesse aqui seria diferente'... Bom, ele não está e não adianta, nem ajuda nada pensar assim.

Ele está feliz, ainda se adaptando ao fuso maluco. Enquanto ponho as crianças para dormir, ele está se arrumando para ir para o trabalho. São doze horas certinhas de diferença. É bem doido pensar por exemplo no que ele está fazendo, vendo agora... tudo tão diferente! Uma ilha mega-desenvolvida, auto-suficiente, super populosa, linda e interessante. É o caos organizado, como ele gosta de falar. Pessoas disciplinadas, que comem tudo o que está em seus pratos, categóricas, simpáticas e amáveis. Enfim, não sou eu quem estou lá, mas João é um ótimo observador, relator, 'descrevedor'... para mim, um escritor!

Ele me perguntou hoje se sinto saudades dele. Sim, sinto. Mas não quero ficar na melancolia. Até porque na maluquice do nosso mundo atual, ele 'janta' com a gente em cima da mesa, enquanto nos falamos e nos vemos no skype! Trocamos emails diários. Ele posta vídeos no facebook e assim vamos nos mantendo informados, interligados e conectados. Literalmente, eu sou a mulher que 'fica em casa', enquanto ele, homem, corre o mundo e traz notícias de lá para cá, de fora para dentro!

Estes são dias especiais onde percebo que, mesmo na ausência, ele está presente diariamente em nossas vidas. Nas conversas, nas brincadeiras, nos choros, nos sonhos. Ele está fora, mas sua essência, seus valores estão aqui dentro. E nós estamos aqui, mas estamos com ele o tempo todo. Sei que ele nos leva para passear em todos os lugares legais que ele vai...

Aprecio também a sua disposição para ficar solitário. Sou grata pelos momentos que tenho comigo mesma e pelos momentos que ele está consigo. Não tem preço! Um dia de cada vez. Vivendo este momento único como deve ser. Separados, mas muito unidos.

sexta-feira, 6 de maio de 2011

Manifesto pela amamentação - texto de Lia Miranda

Queridos leitores e leitoras, compartilho com vocês estas sábias e belas palavras sobre amamentação. Assino embaixo. Vale a pena!

Manifesto pela amamentação

Manifesto pelo direito das mães de não serem separadas de seus filhos logo após o seu nascimento e de permanecerem com eles o tempo todo pelo menos durante a primeira hora após o parto. Um recém-nascido não deve ser afastado de sua mãe, a não ser em períodos muito breves, em caso de extrema necessidade, e não deve ser deixado em berçários.

Manifesto pelo repúdio à alimentação artificial em maternidades, sem indicação clínica, quando a criança está apta a mamar e a mãe, disponível para amamentar. Água glicosada ou qualquer outro recurso que prejudique o reflexo de sucção do bebê são inaceitáveis.

Manifesto pelo direito das mães com dificuldades para amamentar de receberem apoio e orientação adequados por parte dos profissionais de saúde e da família. Mães com dificuldades de amamentação precisam de encorajamento e solidariedade.

Manifesto pelo direito das mães de amamentarem em livre demanda, sem serem desencorajadas por profissionais de saúde ou parentes sob o argumento de que os bebês têm de ter hora para mamar. Os bebês têm direito ao seio sempre que necessitarem, de dia ou de noite.

Manifesto pelo direito das lactantes de não serem pressionadas por parentes, profissionais de saúde, amigos ou conhecidos a oferecerem mamadeiras e chupetas. As mães são as principais responsáveis pelos cuidados com os seus filhos e devem ter o direito de alimentá-los de forma natural e instintiva.

Manifesto pela urgência de os pediatras serem profissionais e éticos ao interpretarem as curvas de crescimento, sem indicar alimentação complementar precoce a um bebê saudável simplesmente porque ele não se encaixa no padrão médio. Cabe aos médicos avaliarem se alterações nos padrões de engorda ou de crescimento são patológicos ou fisiológicos.

Manifesto pelo direito de uma mãe de manter o aleitamento exclusivo durante os seis primeiros meses de vida de seu bebê, sem ser assediada por parentes, profissionais de saúde, amigos ou conhecidos para que ofereça outros alimentos sem necessidade.

Manifesto pelo direito das mães que trabalham fora de casa de terem em seu ambiente de trabalho um local adequado, com higiene e condições de armazenamento do leite, para fazer a ordenha, seja para alívio das mamas, para a estocagem de leite a ser oferecido a seu filho na sua ausência ou para doação aos bancos de leite. As empresas devem oferecer condições para que suas funcionárias mantenham o aleitamento após seu retorno ao trabalho, seja flexibilizando seus horários, mantendo creches em seus recintos, instalando salas de ordenha ou permitindo que a criança seja trazida à mãe para receber o seio.

Manifesto pelo direito de toda mulher que trabalha fora de casa a gozar de uma licença maternidade de seis meses. Seu retorno ao trabalho também deveria ser facilitado, com possibilidade de redução de jornada com o recebimento proporcional do pagamento ou flexibilização de horários.

Manifesto pelo direito dos bebês de serem amamentados enquanto necessitarem, mesmo que esse tempo supere o período considerado aceitável pela nossa sociedade.

Manifesto pelo direito de as mães amamentarem seus filhos em público, quando necessário, sem serem condenadas por pudores hipócritas.

Manifesto pelo direito de as mães amamentarem durante a gestação, ou amamentarem mais de uma criança simultaneamente, sem serem ameaçadas com dados inverídicos acerca de efeitos nocivos para a criança que mama ou para o feto.

Manifesto pelo direito de as mães amamentarem livremente, e de os bebês mamarem livremente, sem serem alvo de preconceito ou ignorância.

Lia Miranda

domingo, 1 de maio de 2011

Uma aventura no mato - de como me perdi e me encontreii

NO domingo passado, há uma semana atrás, tive uma experiência espiritual.

Estávamos fazendo um "retiro" familiar e fomos passar o feriado da Páscoa em um Hotel Fazenda próximo à Formosa. O local nos era estranho, mas como algumas pessoas que conhecemos já haviam estado lá (inclusive Nina em duas ocasiões), decidimos ir. Chegamos quarta de noite. Dormimos e foi tudo tranquilo.

No dia seguinte, Gabriel deu tanto trabalho com choros e pedidos de voltar para casa e juntamente com o estilo do lugar (música "ambiente" alta, música e atividades na piscina) no feriado, quase voltamos para casa mesmo. Mas já que já estávamos lá, decidimos ficar. E, apesar de definitivamente não ser o nosso ambiente, aproveitamos ao máximo o que tínhamos para fazer: andar a cavalo, ir à piscina, passear de charrete, olhar as estrelas, tirar leite da vaca... Nina se divertiu horrores todos os dias, fez amigos e não queria ir embora... Gabriel acabou se convencendo que ficaríamos lá alguns dias e também aproveitou.

Enfim, no último dia, foi oferecido um passeio a uma gruta. Todos os dias eles propunham algum passeio pela manhã e João e Nina foram a alguns. Fiquei com vontade de ir naquele dia. Sairíamos cada um no seu carro às 9h30 e deveríamos estar de volta às 11h30, conforme a informação que recebemos. Muito bem, João concordou. Deixei Iuri mamado e parti com os outros.

Então começaram os problemas, demoramos meia hora de carro, entrando e saindo de porteira, para chegar a uma fazenda. De lá, andamos mais uns 20 minutos a pé até outra fazenda, onde pagamos 5 reais e pegamos uma trilha. Na verdade, havia um muro de pedra bem longo, construído por escravos, que devia ter no mínimo uns duzentos anos. Ao longo deste muro, havia uma subida longa e íngreme, também de pedra. Antes de subir, tive um pressentimento e olhando para o relógio, percebi que praticamente metade do meu tempo já havia se esgotado. Disse que iria embora sozinha dali. Mas alguns colegas me encorajaram a ficar e fiquei.

Subimos o caminho de pedra. Chegando lá em cima, era uma mata com trilhas fechadas. Demoramos mais uns 10 minutos até chegar no local. Era um paredão de pedra gigantesco, que mais parecia um penhasco. Para "entrar" na gruta, era preciso descer. Eu olhei lá pra baixo e me desanimei completamente. Naquele momento, minha preocupação de mãe falou muito alto e eu disse que iria voltar sozinha mesmo, pois tinha neném para amamentar e não poderia esperar mais. Avisei alguns e fui embora.

Em menos de dois minutos, como estava andando rápido, já havia perdido a trilha e estava perdida. Continuei no mesmo ritmo por uns 20 minutos, sem a menor chance de voltar. Gritava em vão. Não havia ninguém para me escutar. Na minha cabeça, eu deveria topar com o muro de pedra a qualquer momento, mas ele nunca chegava. Reparei que estava começando a ficar toda machucada, arranhada e assustada. Seguia alguns caminhozinhos que me pareciam trilhas, mas eles rapidamente sumiam de novo e comecei a ficar bem preocupada.

Não sabia o que fazer, não sabia onde estava. Comecei a falar em voz alta para o João ficar muito calmo e tranquilo, cuidar e alimentar as crianças, principalmente o Iuri. Imaginava alguma mãe do Hotel dando-lhe de mamar ou até mesmo uma mamadeira para acalmá-lo. Mas eu já estava há muito tempo perdida, minha água estava acabando e reparei como estava andando rápido demais, como uma louca, quase desesperada.

Então achei um clarão, um vão entre algumas árvores. Sem saber o que fazer, fiz xixi. Tentava parar, ficar quieta e meditar, mas não conseguia. Dei uma volta e reparei que havia voltado para o mesmo lugar. Foi nesse momento que desisti de tentar me encontrar. Entreguei os pontos, abri o jogo com o universo. Eu sabia que havia feito uma merda muito grande e não tinha como consertar. Não podia fazer nada, não sabia que caminho tomar.

Então tomei aquela situação como uma prova. Uma prova de fé e entrega. Já que eu já havia errado mesmo e não tinha opção, a não ser me desesperar, decidi me acalmar e entregar ao universo o meu destino ali. Comecei a andar mais lentamente, tomando cuidado para não me machucar tanto, nem torcer o pé, já que pisava em falso o tempo todo. Andei mais alguns minutos e aí eu vi uma cerca de arame farpado em um terreno em declive.

Me dirigi até ela e comecei a descer, sem perdê-la de vista. Depois de alguns minutos, a mata foi ficando menos espessa e pude ver do outro lado da cerca um riozinho e uma casinha ao fundo. Atravessei a cerca e fui descendo, rolando, no meio do mato alto. Chegando no riozinho, ouvi latidos de cachorro e comecei a gritar: "Socorro! Estou perdida! Prenda os cachorros por favor! Me ajude!" Então apareceu uma mulher muito calma perguntando o que estava acontecendo.

Ah, que felicidade! Eu estava salva! Com certeza dali, não demoraria muito para chegar até o meu carro! A mulher foi muito amável e me ensinou um caminhozinho que eu deveria tomar para chegar até lá. Andei bastante até chegar nas mangueiras que ela havia me falado. E aí, de novo: mais latidos de cães e eu gritei a mesma coisa. Veio um homem e eu o reconheci como sendo o homem a quem eu havia pago 5 reais para entrar no caminho de pedra. Expliquei novamente a situação. Ele disse que parte do meu grupo (com crianças) já havia descido e ido embora. Ah, como me senti tola! Se eu tivesse esperado um pouquinho no paredão, não teria feito o caminho de volta sozinha, nem teria me perdido! Mas enfim, não adiantava chorar por aquele leite derramado. O moço me garantiu que, seguindo um atalho que me mostrou, chegaria até o meu carro.

Eu protestei, dizendo que o caminho que eu havia feito para chegar lá havia sido outro, mas ele me encorajou e segui em frente. Depois de muito andar, cheguei a outra fazenda. Não havia carros, não era lá. Gritei e demorou muito até alguém vir me atender. Era uma mulher e ela estava assustada com minha gritaria. Ela tinha um celular que funcionava por antena. Pedi para ela ligar para o hotel , mas ela não tinha o número. Ligou para uma vizinha, que disse que um grupo de gente estaria me esperando na "segunda ponte". Ela me disse que me levaria até lá.

Não encontramos ninguém no caminho e acabei voltando para o lugar de onde eu acabara de vir, a fazenda do muro de pedra. O moço ficou confuso e por fim, chamou dois meninos que estavam sentadinhos lá e mandou eles me levarem até a "fazenda do Seu João". Andamos mais uns 20 minutos e chegamos até o lugar onde os carros estavam estacionados e onde havia um pessoal me esperando. Agradeci aos meninos quase chorando e dando-lhes beijos. Fui recebida com um abraço de um homem que eu só conhecia de vista do hotel.

Eu estava um trapo, imunda, toda machucada, chorando, sem falar coisa com coisa, Só dizia que tinha três filhos, que meu neném devia estar morrendo de fome e chorando, que meu marido iria querer o divórcio... Me trouxeram água, tentaram me acalmar, que iria acabar tudo bem. O marido de uma das moças se ofereceu para dirigir meu carro e eu aceitei. Fui conversando com ele no caminho, completamente alterada, faminta. Ele me escutou e foi muito gentil.

Chegando no hotel, eu estava morrendo de medo do que ainda estaria por vir. Mas encontrei João sentado, sem camisa, no banco, com Iuri no colo, olhando a paisagem e Gabriel comendo batata frita. João disse: "que irresponsabilidade, Mamá" em um tom quase brincalhão. E eu perguntei se Iuri havia chorado e ele disse que não. Disse que ele tinha dormido, depois acordado, soluçado bastante, feito cocô, dormido de novo e que acabara de acordar. Trêmula, dei um cheiro no Gabriel, peguei meu neném nos braços e ofereci o peito. Nina havia brincado na piscina e ajudado o pai a tomar conta do Biel quando ele precisou. Eram 13h30, duas horas depois do horário previsto.

Eu não conseguia acreditar que estava lá, que estava todo mundo bem... Então fui contando ao João aos poucos o que me havia acontecido. Nem eu mesma estava acreditando na minha história. Como assim, saí no mato sozinha? Que coisa mais idiota! Pra mim, esta pergunta tão profunda vai ficar sem resposta: o que fez com que eu, uma mulher e mãe tão responsável, entrasse em um mato totalmente desconhecido, sozinha, com grandes chances de me perder, me machucar, quiçá morrer, sem medir as consequências?

Não sei... Só sei que eu estava viva e presente naquele momento. Algo se passou dentro de mim para que eu me permitisse me perder, me entregar e finalmente me encontrar. E estou aqui! Fim. Fim?...

segunda-feira, 18 de abril de 2011

O caminho do meio: vários caminhos possíveis

Esses dias tenho percebido como é importante simplesmente deixar as coisas serem como elas são e não ser radical em relação a nada. Eu disse uma coisa esta semana que chamou a minha própria atenção sobre isso.

Fomos almoçar no Beirute da Asa Norte (quem é de Brasília sabe como é: aquele bar aconchegante, cheio de gente legal, aquela comida deliciosa). Barriga cheia, bebê no colo, Gabriel solto e Nina com os primos. Não me lembro exatamente porque, mas João, minha sogra, Fátima, e eu, começamos a conversar sobre idade de ter filhos. Alguém na mesa falou sobre uma atriz famosa aí que teve filho aos 53 com um cara 30 anos mais jovem.

Aquilo me subiu na garganta e eu disse que era um absurdo, muito capricho da parte de quem quer ser mãe nesta idade. Aí falei da nova onda das mulheres inglesas (todas com mais de 50 anos) que têm engravidado de propósito e feito suas famílias nesta idade, onde supostamente o corpo da mulher deveria entrar em outra fase, de repouso em relação à fertilidade...

Logo percebi como fiquei alterada, revoltada mesmo. Como assim: ter filhos só para si, nem sabendo ao menos se terá condições de saúde para vê-los crescer e sem a menor chance de ser avó? e aquele caso da inglesa que teve filho aos quase 60 e morreu três anos depois deixando órfãos um casal de gêmeos? Fátima ainda tentou dizer que essas mulheres podem, nesta idade, querer deixar alguma coisa delas no mundo e tal, que não tinha opinião sobre o assunto. João disse que achava complicado, mas que não estava de acordo com meu radicalismo, logo eu, mãe tão ferrenha e defensora do feminino...

Pois é. Então, eu me pergunto: e daí? Será que existe idade ou momento certo para ser mãe? Quer dizer que uma mulher madura não pode porque está velha demais e uma adolescente também não pode porque está nova demais? E quantas adolescentes têm por aí que foram mães muito jovens e são melhores mães do que mulheres que esperaram o "momento certo" para engravidar? Pode ser que uma mulher de 50 só se sinta mulher o suficiente para ser mãe nesta idade... Bom, com certeza não é o que quero para mim mesma, mas quem sou eu afinal para julgá-las?

No fim das contas, cada mulhar deve saber o seu momento de ser mãe, se é que ela quer mesmo esta responsabilidade. Sim, porque todos no mundo existem porque suas mãe os colocaram no mundo, chegaram aqui através delas.

Gosto de me observar e de me questionar. Sinto que assim as oportunidades aparecem. Não existe um caminho só para todos e todas, as possibilidades são infinitas. "Nem tanto ao céu, nem tanto ao mar", com dizem por aí. E como disse o grande Pessoa:"tudo vale a pena se a alma não é pequena", não é mesmo?

terça-feira, 22 de março de 2011

Momento romântico comigo mesma

Quando meus pequenos dormem à tarde e eu fico "sozinha" em casa, sempre passo por alguns segundos de inquietação me perguntando o que fazer?! Principalmente quando minha grande não está em casa. (Ela está passando 15 dias fora, em uma viagem fantástica com a escola para... Bordeaux, na França! (mas isso é outra história... hihihi))

Geralmente, começo com um belo banho! Até porque nunca sei quanto tempo vai durar meu "intervalo". Às vezes vou arrumar alguma coisa na casa, fazer algum trabalhinho doméstico, ou arrumar uma coisa específica. Mas hoje pela manhã durante o sono do Iuri eu já arrumei o armário da sala. Então, minha cota para arrumação específica por hoje foi alcançada. Eu também já havia arrumado um pouco a cozinha, quer dizer, colocado parte da louça na máquina. Aproveito a deixa para compartilhar que sou muito grata à minha mãe por ter me cedido gentilmente sua máquina, que estava parada em sua casa. Finalmente, um dos meus sonhos de consumo se realizou! Haha Também já havia feito um bolo de chocolate(que estou esperando ficar pronto) com os meninos: Biel me ajudando com os ovos e olhando e Iuri no carrinho, fazendo cocô. Alguns minutos depois, ambos apagaram, já de banho tomado e eu repirei fundo e fui à luta, por assim dizer...

É engraçado. Eu gosto tanto de ficar em casa, que eu sempre tenho o que fazer nessas raras horas só para mim. Ler (sempre tem coisa boa me esperando), ver ou rever um filme ou trechos preferidos, fazer uma arrumação (podem acreditar: nunca acaba!), dormir (claro, principalmente para alguém como eu, com noites de sono interropido incertas), meditar, cozinhar, surfar na internet e o que estou fazendo agora mesmo: escrevendo no blog!

Fico feliz de ser eu a pessoa que está aqui, numa boa, curtindo o meu momento, simplesmente fazendo algo que me dê prazer ou algo que tem que ser feito. Todos os dias penso que esses momento são preciosos e que eles vão acabar um dia. Olhem Nina, por exemplo. Vai completar dez anos, dia 31. 10 anos? É. E já está por aí, nesse mundão, vivendo e descobrindo coisas por si só. Meus bebês são pequenos, mas outro dia Iuri ainda estava na barriga e era Gabriel quem mamava em meu peito!

Gosto de estar aqui agora, simplemente vivendo com eles o sono deles. E saber que esse tempinho é precioso para mim também. Até porque sinto que daqui a pouco não poderei ficar assim, disponível o tempo todo para eles. Isto também um dia vai acabar. Primeiro porque tenho minhas vontades de aprender coisas novas e também porque penso em produzir algo que me dê retorno financeiro.

Minha decisão firme de bater o pé e ficar em casa foi necessária para que eu me concentrasse na missão mais importante da minha vida: criar meus filhos. E esta lição está aprendida. Longe de mim achar que já sei tudo sobre maternidade e meus filhos e sobre meu casamento também. Nada disso. Erro e acerto todos os dias. Às vezes erro mais do que acerto, pra dizer a verdade. Mas continuo me observando e me questionando diariamente. Tenho muitos defeitos, mas minhas qualidades tem florescido muito nesta minha fase da vida, em casa em tempo integral, disponível para meus filhos, que já dura quase três anos.

Sim, penso em trabalhar fora, em algo que não tome muito o meu tempo, para que eu possa continuar presente em casa e, principalmente, disponível. Olho para os meus três filhos e vejo sempre os benefícios de minha presença constante. Existem os poréns? Com certeza, mas não me concentro neles. Mas também não quero negligenciá-los. Afinal, é através deles que eu posso aprender. Enfim, sinto que algo diferente se aproxima.

Mas estou aprendendo que o futuro não me pertence e que se eu quero que ele seja bom, basta viver intensamente o presente. E para ilustrar o que acabei de escrever, conto a vocês que meu momento romântico comigo mesma acabou de acabar (durou 1 hora e 15 minutos, precisamente), pois Gabriel fez xixi na cama e acordou! Plim! Mamãe, hello! Estou aqui e quero você agora. Então, pernas pra quê te quero e de volta ao trabalho! Até! e Axé!

segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Eu, mãe de três

Estou aqui com o peito duro, vazando, cheio de leite para dar ao Iuri. Mas ele ainda dorme, está tirando um soninho da manhã, bem gostoso e quentinho em seu bercinho, onde dormiu pela primeira vez esta noite. O moisés (na verdade uma cesta de vime, com uma proteção lateral e um colchãozinho feito por mim, onde dormiu Gabriel anteriormente) ficou pequeno rápido demais e tivemos que acelerar a mudança. Mas ele continua dormindo no nosso quarto, bem pertinho de mim. Achamos que ele ainda está muito pequeno (54 dias!) para dormir do outro lado do corredor. Até porque Gabriel tem o sono leve e ainda acorda muito de madrugada, o que dificultaria ainda mais o fato de que eu tenho que me levantar para atender as necessidades do pequenininho. Um dia, eles dividirão o quarto.

Agora que ele já está integrado à família - aquela velha história: antes do bebê chegar você não sabe como vai ser, como vai ficar essa nova família com a chegada de uma nova pessoa na casa - e não consigo imaginar a vida sem ele, a nova ordem já se instalou e com ela uma nova rotina, adaptações para cá e para lá, rearranjos, improvisos, enfim, é tanta novidade que cansa! É óbvio que quase não tenho tempo de escrever, ou fazer qualquer outra coisa. Mas eu sei que o que estou fazendo agora não tem preço e ninguém no mundo poderia fazer por mim: maternar e amamentar minha própria cria. (È claro que outra pessoa até poderia fazer isso, mas no meu caso, não terceirizo esses serviços e ponto final!).

Ser mão de três crianças é bem diferente de ser mão de duas crianças. Pelo menos pra mim. Decubro cada vez mais que cada um dos meus filhos é único e tem necessidades na verdade parecidas, apesar das idades e fases diferentes. Por exemplo, tenho dito nos últimos dias que Gabriel (2anos e 8 meses) tem dado mais trabalho que o pequeno Iuri (quase 2 meses)!... Por quê? Ora, porque sim! Ele sempre foi muito apegada a todos nós, mas agora está mais! E a cada momento tem uma novidade. Primeiro foi o desfralde. Passamos um período trabalhoso limpando o cocô de sua cueca. Até que ele mesmo se resolveu e começou a usar o pinico sozinho. Agora é o xixi na cama... toda noite! Então tomei uma decisão: forrei seu colchão com um dos plásticos do parto e pronto. Acredito que ele mesmo vai se resolver. Pois ele já dorme sem fralda há vários meses.

Não adianta muito falar que ele pode se levantar pra fazer xixi de manhã cedo... Vale a pena conversar, isso sim! Mas sem expectativas. Ele tem o tempo dele. Tem mais. Na escolinha, trocaram a professora pela segunda vez este ano. Da primeira, a professora do ano passado (a quem ele tinha naturalmente se apegado) foi passada para outra turma e Gabriel não morreu de amores por sua nova professora. Passaram-se duas semanas e meia e a escola me manda uma bilhete dizendo que teriam que mudar a professora de sua sala. Mais um mudança para uma criança tão pequena e sensível... Bom, daí ele ficou doentinho de novo. Começou com um resfriado, um dengo, choro sem fim, febre no fim de semana que passou... Marquei um homeopata para ele para hoje. Espero que eu me acerte com ele e que ele acerte o remédio do meu filho. ELe está precisando.

E precisando de mim também. De colo. E muito. Sempre que eu ou João podemos, ele fica no colo da gente. Hoje até me questionei sobre a escola. Será que acertamos no "timing"? Será que ele não foi cedo demais? Eu não sabia como seria quando o bebê nascesse, mas agora sei mais ou menos - já que também não há um padrão com Iuri; cada dia é um dia! Dá trabalho ficar as manhãs sozinha com os dois, cada um com suas necessidades. Não dá, por exemplo, para ficar descendo com Biel ou mesmo brincando com ele o tempo que ele merece. Desse ponto de vista, ele estando na escola, pelo menos lá ele brinca, fica na grama, enfim... De qualquer forma, tê-lo em casa agora, doentinho, comigo, é o mais importante de tudo!

E por aí vai... Com Iuri, começo a entender melhor o que é dar o peito em "livre demanda". Começo a entender que ele precisa de sucção mesmo já não estando com fome. Eu estava apreensiva de deixá-lo no peito à vontade já que ele é glutão, mama e golfa muito. Mas lendo e refletindo aqui na net, estou convencida de que ele não precisa de chupeta quando quer, na verdade, o meu colo, meu cheiro, meu calor e... meu peito! E mais: ele dorme bem. Tenho tido tempo de "fazer outras coisas" e cuidar um pouco dos meus outros filhos e da casa também. Esse fim de semana eu dormi na minha mãe com Biel e Iuri e esqueci a chupeta lá... que ótimo! Assim, nem papai, nem irmazona, nem ninguém vai poder chupetá-lo e eu terei que ficar com ele o tempo que ele quiser... hahaha!

Tenho usado bastante o sling em casa também. Me ajuda muito, pois fico com pelo menos uma das mãos livre para fazer algo quando precisa. Ele também já tá bem espertão e curtindo o móbile do berço. Boto ele lá e ele fica calminho alguns minutos olhando, olhando, rindo... Enfim, a gente vai se virando. Estou realmente me empenhando para compreender essas crianças ao invés de julgá-las e tentar que elas sigam qualquer padrão, exigência ou expectativa, sejam eles meus ou alheios.

Enfim, aqui em casa é novidade todo dia! Isso porque nem falei da Nina, com suas atividades, conquistas, frases, reflexões... Fica para outro post! Agora vou cuidar de um tal chupador de dedinhos que deve estar com fome de lanchinho da manhã (como eu!) antes que um tal bebezinho foforuco acorde querendo peeeeeeito!

Até!

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Fechamento e recomeço

Hoje recebi a última visita de Paloma, minha parteira, que me acompanhou durante toda a gravidez e vem cuidando de mim e do Iuri desde o nascimento dele. Ela veio fechar o seu trabalho e me propôs duas coisas.

A primeira foi uma mensagem escrita linda, com uma gravura de uma mulher grávida do mundo, sobre o nascimento conciente. Ela tinha duas cópias. Na primeira, fez as "digitais" dos pezinhos do Iuri e as imprimiu no papel. Na segunda, pintou os dedos e as mãos do Gabriel e imprimiu as marquinhas dele. Uma linda lembrança de um lindo nascimento... (Ou seria de vários nascimentos? Novos filhos, novo pai, nova mãe, nova família!)...

Depois ela me pediu para me deitar na cama. Iuri estava ao meu lado e ficou quietinho o tempo todo. Ela tinha um xale roxo e começou a enrolá-lo pelo meu corpo. Ela ia enfaxando e dizendo umas coisas bem bonitas. Foi um ritual de agradecimento pelo milagre da vida, do universo, da mãe natureza... O milagre do corpo, enfim! Começou com os pés, minhas raízes, e foi subindo, apertando; as pernas, que me sustentam e me levam; meu ventre, meus órgãos, meu fabuloso útero, minha feminilidade; meus peitos e braços, meu coração, meu amor e o alimento que nutre meus filhos; minha cabeça, minha conexão com o divino. Foi o fechamento do parto que eu queria. Sinto-me agradecida.

Hoje me lembrei que este blog vai completar dois anos de existência neste mês. Estamos na Lua Nova novamente. A Lua do Iuri. Enquanto fecho uma fase, findando meu resguardo, recomeço. Nova, como a Lua.

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Nascimento do Iuri - meu relato de seu parto domiciliar





IURI – 6 de janeiro de 2011

No primeiro dia do ano, nossos filhos foram dormir na casa da minha mãe. Eu estava com 38 semanas e 2 dias de gestação. João e eu sentimos uma vontade enorme de sairmos juntos. Ele me convidou para jantar e depois fomos ao cinema. Éramos um casal apaixonado aguardando a chegada do nosso terceiro filho (ou filha, já que não sabíamos o sexo do bebê). No dia seguinte, domingo, eu passei o dia tendo leves contrações e sensações que pareciam choques. Mas achei que era por causa do cansaço, de ter dormido tarde e tal... Mas tudo indica que meu trabalho de parto começou silenciosamente aí.

Nos três dias que se seguiram não senti absolutamente nada. Na quarta-feira, dia 5, Nina saiu de casa na hora do almoço para viajar com os avós, primos e tios paternos. Meu pai me ligou naquele dia me dizendo que estaria aqui em Brasília na semana seguinte e que o bebê já teria chegado antes dele chegar. Eu disse que não, que não sentia nada. Fui dormir. Acordei no meio da noite com contrações leves, mas fortes o suficiente para me acordar.

Eu sabia que estávamos na Lua Nova. Fui procurar minhas anotações de ciclo para ver se achava a Lua da concepção do bebê. Achei e tava lá: foi na Lua Nova mesmo! Pensei com meus botões: é isso aí, começou pra valer... é hoje! Fiquei acordada um tempo, excitada, claro. Mas não acordei o João e depois de um tempinho caí no sono de novo.

Quando acordei, as contrações continuavam como na madrugada, leves e espaçadas. Avisei ao João e pela manhã, ele já deixou o pessoal do trabalho avisado que eu estava em trabalho. Era dia da Divina. Ela chegou e eu fui ficando com Gabriel. Liguei para Paloma Terra (minha parteira, que fez meu pré-natal). Ela me disse para avisá-la da menor mudança de padrão do trabalho. Liguei para Rita Pinho (minha doula, que como nossa doula mesmo ainda não havíamos nos encontrado nem para conversar, pois não tinha dado certo). Rita disse que poderia vir naquela hora mesmo pra gente conversar, mas eu já estava com sono de novo e disse que mais tarde ela poderia vir.

Dormi de novo e quando acordei, achei que o trabalho tava na mesma: contrações leves e espaçadas, mas talvez um pouco menos espaçadas. João chegou e fomos almoçar. Comi bem (como sempre) e fomos nos deitar. Gabriel não quis ficar com a gente, estava agitado e queria brincar o tempo todo. Liguei pra Rita e disse que agora ela poderia vir. Minha mãe me ligou e perguntou se era pra buscar o Gabriel naquela hora. Eu disse que não, que tava tudo devagar, pra ela vir no fim do dia! Isto foi 13h30.

Enquanto estava deitada, durante uma contração, escutei um “POC”! E senti uma pressão lá embaixo. Mas não identifiquei nada e cheguei a pensar que tinha sido meu intestino, já que eu ainda não tinha feito cocô naquele dia. Qual nada!... A próxima contração veio de lascar e senti uma aguinha descer. Corri pro banheiro e verifiquei que minha calcinha e calça estavam molhadas, mas não muito. Como eu nunca tinha tido bolsa rompida antes e não havia muita água, fiquei em dúvida e liguei para Paloma.

Ela me perguntou como estavam as contrações e eu disse que haviam se intensificado bastante depois do “POC”, mas ainda estavam espaçadas. Ela me perguntou se eu queria que ela viesse naquele momento e eu respondi que Rita estava chegando e que não sabia... Ela então sugeriu que João e eu contássemos as contrações na próxima hora e retornássemos depois. Nisso, eu já estava de pé e tinha mudado de ideia sobre minha mãe vir pegar o Gabriel. Disse pro João encontrá-la porque o bebê nasceria de tarde!

Eram 13h50 quando Rita chegou. Ela me encontrou no sofá da sala, sentadinha, curtindo cada contração, como eu mesma lhe disse. João já havia ligado pro trabalho avisando que não voltaria e fazia as anotações à mesa. Rita estava linda, radiante, de banho tomado, cabelos soltos e vestindo um lindo vestido de renda branco. Ficamos conversando com Gabriel no sofá e ela ia me observando, perguntando como estava indo e tal. Ela quis examinar o que eu havia preparado para o parto e João lhe mostrou a caixa de plástico do “enxoval de parto”, com lençóis, toalhas , cueiros e afins. E eu lá, a cada contração, respirava fundo e fechava os olhos até terminar. Fomos para o meu quarto, eu me sentei na poltrona e ali fiquei. As contrações estavam fortes, cada vez mais longas (40, 50 segundos), mas ainda variando muito entre 10, 7, 5 e 3 minutos. Logo em seguida, Rita ligou para casa avisando que não voltaria, que ela ficaria direto com a gente.

Minha mãe chegou às 14h30. E a única coisa que perguntou foi :”Cadê a Paloma?”. Ela estava bem desconfiada daquele meu trabalho “lento”. Gabriel saiu de casa muito contente com a vovó. Fui ao banheiro, o cocô não veio. Tampouco consegui tocar meu cólo do útero. Foi então que levei Rita para conhecer os quartos. Fomos até o quarto dos bebês e apoiada na cômoda, senti uma contração bem forte. Rita achou melhor ligar para Paloma. Falou-lhe das contrações e como eu queria fazer cocô. Mas como eu não havia conseguido me tocar, elas acharam melhor Paloma vir mais tarde mesmo.

Rita estava com fome e pediu para almoçar. Divina esquentou o almoço para ela e voltamos para a sala. A essa altura, minhas contrações estavam muito muito fortes e já de minuto em minuto. Rita dizia : já, outra? E eu assentia com a cabeça, mas sempre muito caladinha e introspectiva a cada uma delas. Até que, sentada na beira do sofá, eu comecei a sentir muita dor no cóccis e eu dizia (choramingava, na verdade): “não consigo mais me mexer, quero fazer cocô! Tá doendo muito, muito!” Então ela me disse para relaxar que o cocô iria sair. Sugeriu que eu mudasse de posição. Fiquei de cócoras, mas eu não conseguia ficar. Fiquei de quatro em cima do tapete.

Rita me perguntou se podia tirar minha calcinha. Ela foi até o quarto, pegou a caixa do enxoval e forrou o chão atrás e embaixo de mim com panos de chão. Ela me disse para dar umas reboladas e fazer cocô tranquilamente. Mas eu não conseguia fazer nada. Chamei o João para ficar ao meu lado. Acho que foi nesta hora que Rita percebeu que as coisas estavam nos finalmente e foi até a área perguntar pra Divina onde havia uma farmácia, para ela ir lá comprar luvas descartáveis para ela. Mas Divina não lhe deu ouvidos e disse que não sabia onde havia farmácia nenhuma. Rita ficou desconcertada, mas não quis discutir e voltou para nós.

Eram 15h06 quando Paloma ligou e perguntou como iam as coisas. Rita estava na minha frente, abaixada. Ela disse que eu estava muito introspectiva, com muita vontade de fazer cocô e com muita dor. Elas decidiram que eu tinha que me tocar naquela hora. Eu dizia que não iria conseguir. Mas Rita me olhou fundo e tive coragem. Fiquei de joelhos, apoiada no João. Rita disse: “bota o dedo e veja se está duro”. Eu botei o dedo e senti algo duro. Está duro, eu disse. Rita mudou o tom de voz na mesma hora, disse à Paloma que o bebê estava lá e que depois falava. Ela então me olhou profundamente e disse que meu bebê tinha chegado, que eu deveria empurrá-lo na próxima contração.

E assim foi. Dei um berro que veio das minhas entranhas e senti sua cabeça sair. Rita pediu para João olhar o bebê. João viu que ele estava roxo. Rita, muito calmamente, mas acertivamente, nos assegurou que ele estava ótimo. No chão, na minha frente, Rita me disse para ir mais devagar, senão eu podia me abrir toda. Ela segurou minha pele em cima da vagina e disse que eu esperasse um pouco porque o bebê tinha uma voltinha de cordão no pescoço. Com seus dedos nus e sua experiência, ela tirou a volta. Logo depois, ela me disse para ir devagar de novo, pois havia outra voltinha. Mas dessa vez, ela não fez nada e o bebê saiu na próxima contração. Deu uma espécie de volta e Rita o pegou, molinho. Eu vi suas costinhas e sua cabeça, embaixo, na minha frente.

Incrédula, tirei minha blusa e a joguei longe. Sentei em meus calcanhares e recebi meu bebê no colo. Rita colocou um cueiro sobre ele e uma toquinha. Ela dizia continuamente para eu respirar, que a placenta o estava oxigenando e que pouco a pouco, ao massageá-lo, ele começaria a respirar. E, olhando para ele, vi que ele começava a ficar cor-de-rosa aos poucos, começando pelas bochechinhas, indo para o rostinho e de repente, todo ele estava rosa! Que milagre, ele respirava! João e eu não estávamos acreditando.. Ele queria saber se era menino ou menina. Eu achava que tinha visto um saquinho, mas não tinha certeza. Mas então olhamos e era realmente um menininho. Lindo, com cabelos pretos, pele avermelhada, nariz e boca perfeitos! Ah, um sonho de bebê...

Paloma ligou novamente. Eram 15h13, hora do nascimento do nosso bebê. Ela estava muito perto, chegaria em menos de dez minutos. E, de fato, chegou às 15h20 e me encontrou sentada em cima de um travesseiro, enconstada no sofá, com meu bebezinho no colo. Ela encontrou três adultos em êxtase e um bebê que respirava serenamente no colo de sua mãe, eu. Elas nos perguntaram se ele tinha nome. Nós nos olhamos e nos perguntamos se ele tinha cara de... Iuri. E tinha. Estava decidido, nosso terceiro filho, nascido no dia de Reis, se chamaria Iuri, como o russo Gagarin, que foi o primeiro a ver a Terra lá do alto e proclamou que ela era azul.

Estava feito: o nosso tão sonhado parto domiciliar havia acontecido e lá estávamos nós, segurando nosso bebê querido. Ele veio para o peito e expulsei a placenta. Magnífica! As duas parteiras (sim, pois Rita é uma de mão cheia, também) ficaram olhando, manuseando, conversando e nos ensinando sobre este órgão fantástico que pouco depois seria congelado em um pote de sorvete com os dizeres: “atenção, não é sorvete!”. A esta altura, eu já estava deitada no sofá, que elas forraram rapidamente, descansando e quase delirando. João estava com Iuri no colo e filmava tudo, tirava foto. Nós dois estávamos claramente alterados por aquele evento tão forte e maravilhoso.

Com certeza, eu havia entrado na partolândia há algum tempo, este estado de consciência onde a razão não tem vez e nós somos puro instinto, sentimento, completamente envolvidas no momento. Após o parto, eu continuava nesse lugar, como que planando, sentindo aquele cheiro maravilhoso que só o recém-nascido que não foi lavado tem. Um perfume de flores, inexplicável. E aquela criaturinnha nova em folha nos meus braços, mamando.

Depois de um tempo, fomos transferidos para o meu quarto, para a minha cama! Lá, sob meus olhos e os dos João, Iuri foi avaliado por Paloma, pesado, medido, tudo feito com muita calma, paciência e amor – para os que gostam de números, aí vai: 3600g e 52cm. Depois de outra mamada, ele adormeceu. E era hora de cuidar da mamãe aqui. Eu estava com vontade de fazer xixi. Rita me trouxe a comadre. Mas não deu certo! Perguntei se eu poderia ir até o banheiro. Elas me ajudaram e lá estava eu, fazendo xixi no meu vaso, dona de mim, sem ninguém me enxendo, dizendo o que eu deveria ou não fazer! Tive uma laceração natural em direção ao ânus e Paloma, com toda a calma, me explicou o que faria. Eu levei três pontos em cima, com anestesia local e o resto do corte se fecharia sozinho.

Isso tudo sem contar que bebi água e gatorade quando quis, comi pamonha, que me foi dada na boca por Rita duas vezes! Ou seja, mais conforto e segurança do que isso, aonde eu encontraria? E mesmo com a Divina aqui, as moças não pararam de trabalhar. Arrumaram os tecidos sujos em sacos, tiraram o lixo e Paloma esfregou o meu tapete com água oxigenada até as manchas saírem! Elas foram embora de noite, bem depois que recebemos as primeiras visitas: Gabriel, minha mãe e Luiza.

O que mais posso dizer? Muitas pessoas me chamaram de corajosa e tal, mas depois de três partos, eu concluo que quem tem coragem é quem vai parir no hospital, pois uma vez lá dentro, é muito difícil manter-se dona do própria corpo e fazer-se respeitar. É claro que este parto não foi como a gente havia se “programado”, mas no fim das contas: que parto pode ser “programado”? Isso não existe! Cada parto é único e este foi como deveria ter sido, imprevisível. Como eu gosto de dizer: o Universo o escreveu certo através de linhas tortas!

P.S.1 Após o parto, Rita foi perguntar à Divina por que ela não quis ir até a farmácia. Ela disse que sua mãe era parteira e que ela sabia que não se podia dar remédios a mulheres paridas. Ou seja, ela nem quis escutar o que Rita queria (luvas!); quando ouviu “farmácia”, disse não! E de qualquer forma, não teria dado tempo de comprar nem uma, nem duas luvas!

P.S.2 A pamonha entra na história porque todas as tardes, às 16h00, passam umas moças vendendo pamonha e curau aqui na quadra. E elas são bem audíveis! Então, logo após o parto, quando eu já estava no sofá, Rita me perguntou o que eu queria comer. As mulheres estavam passando e gritando/cantando e eu, na hora: pamonha!

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

IURI NASCEU!!!



Olá, queridos amigos!

Com praticamente 39 semanas de gestação, nasceu em um lindo, intenso, rapidíssimo e imprevisível parto domiciliar Iuri, no dia 6 de janeiro, na Lua Nova. Chegou repentinamente nas mãos de uma doula com alma de parteira, nas próprias palavras de minha parteira, que não conseguiu chegar a tempo para o parto!...Meu terceiro filho! Estou nas nuvens desde então...

Recupero-me em casa, daonde não saímos! Que maravilha... Ao lado do meu marido João, que esteve comigo em todos os momentos e agora também está apaixonadíssimo por esse novo ser que chegou. Pasmém! Nosso primeiro filho moreninho, com cabelos pretos e tudo!

Depois, com mais calma, farei um relato deste parto memorável. Por enquanto, só um gostinho do meu príncipe no sofá comigo para vocês... E VIVA O PARTO DOMICILIAR!