sábado, 25 de outubro de 2014

Depois da tempestade, vem a bonança!

(agora estou feliz como essas arraias do aquário!) Há quanto tempo não escrevo para o blog! Estou com muitas saudades desse espaço. O último mês tem sido intenso, com fortes experiências malasianas! Desde que Iuri começou a escola – acabamos optando pela montessoriana a poucos metros de casa, outro ritmo se instalou. Após a primeira semana de adaptação – foi um pouco difícil pra ele, ele começou a se sentir mais a vontade, corajoso e curioso. Tem sido ótimo, então, o fato de ele estar se relacionando com outras crianças e outros adultos na escola. São três professoras, todas indianas-malasianas, umas fofas! E eu estou tranquila; a diretora, também indiana daqui, é muito atenciosa, e elas são todas bem amorosas. Tenho lá minhas reservas em relação a “ficar ensinando coisas pras crianças”, mas como isso é parte das atividades e não toma todo o tempo, tolero. O fim do mês de setembro foi um pouco conturbado para mim. Eu estava muito ansiosa para que Iuri ficasse logo na escola. Comecei a me sentir isolada, sem amigos, sei lá... A minha cabeça começou a me atrapalhar. Eu entrei numas de que tinha que trabalhar fora a qualquer custo. E logo. Mas nós só tínhamos um mês de Malásia, e esses pensamentos me custaram muito caro. Mudamo-nos no fim do mês para um apartamento na mesma área (do outro lado da rua, na verdade) do anterior: maior, mais arejado e iluminado, em condomínio pequeno, um estilo bem privado, muito gostoso... Mas eu não estava tranquila. Em poucos dias, Nina começou a ter uma febre muito alta e ficou de cama por três dias. No segundo dia em que ela estava doente, eu e Benjamin caímos ao sair de um táxi depois das compras. Eu estava tentando sair, mas achei que poderia colocá-lo no chão antes. Não deu outra. O carro era alto e caí por cima da perninha dele. Ele não conseguiu mais ficar no chão naquele dia, para a minha culpa e desespero. Naquela noite, fui à minha segunda aula de yoga. A aula foi mais tranquila que a primeira, que tinha sido com o dono do estúdio, uma aula bem forte de Ashtanga. Voltei pra casa de noitinha e estava garoando. No dia seguinte, acordei completamente dolorida. Achei que tinha pegado um resfriado e que aquela dor, que foi piorando à medida que o dia foi passando, a ponto de eu caminhar devagarinho e ter que me esforçar muito para dar conta das tarefas da casa, era resultado da aula da noite anterior. Qual nada! Nesse dia, chamei Benjamin pra brincar de gatinho e ele tomou coragem e se locomoveu engatinhando. Minha culpa e preocupação diminuíram um pouco... Mas acontece que eu não melhorava nada e comecei a ter febre também. Como Nina não conseguia sair da cama no quarto dia, e Benjamin continuava não andando, João tomou a decisão de levá-los ao hospital. Eu, mesmo muito mole, quis ir também. Chegando lá, Nina fez o teste de dengue e, como estava com as plaquetas baixas, foi internada. Benjamin foi examinado na emergência e o médico não achou nada, mas como médico é sempre médico, pediu raio-x. Esse exame nós levamos a um ortopedista, que me explicou que há lesões que não aparecem no raio-x. Além disso, enquanto conversávamos, Benjamin levantou-se e saiu andando! Meus olhos se encheram de lágrimas! Pra mim, foi o fim do assunto. Ele me pediu pra ficar de olho, caso a perna ficasse roxa ou ele continuasse reclamando de dor. Ele mancou por alguns dias e depois... ficou ótimo! Joao dormiu no hospital com a Nina naquela noite e eu voltei pra casa – não tinha nem uma semana que havíamos nos mudado – pra ficar com os meninos. Busquei Iuri, que tinha ficado na escola por mais tempo a nosso pedido e esperei Gabriel chegar. Conversei rapidamente com minha mãe no Skype. Eu estava com febre e muito cansada. Ela deu uma chamada nos meninos pra mim, o que me ajudou, de fato. Assim que escureceu, eu disse a eles que iria apagar as luzes e que ficaríamos todos quietos. Durante a madrugada, além das dores pelo corpo, eu senti as famosas dores nas juntas e pensei: “Lasqueira! É dengue!... o que vou fazer?” No dia seguinte, quando João voltou pra casa, pois o combinado era que eu iria passar o dia no hospital com a Nina, ele me deu uma dura. Disse que eu poderia estar muito doente e que eu tinha que me consultar na emergência. Fiquei com a Nina um pouco e, como ainda estava com febre, mesmo baixa, e muitas dores, convenci-me de que tinha que descer e conversar com um médico. De cara, ele me disse que eu teria que fazer o teste, uma vez que minha filha já estava contaminada. Fiz, e minhas plaquetas já estavam baixas. Ele me explicou que elas iriam abaixar mais ainda e que para eu ir embora, teria que assinar um termo de compromisso! Conversei com João ao telefone, na verdade, chorei muito e fiquei. Soro na mãozinha, amigo vizinho trazendo cartão de crédito pra eu pagar o depósito e consegui ficar em um quarto no mesmo corredor da Nina. Ele era grande e confortável. Tinha vista pras Petronas e, ao anoitecer, era bonito de se ver: aquelas luzes se acendendo pouco a pouco e depois, no escuro: aquela maravilha! Nina ficou quatro noites. Eu tive que ficar sete. Eu procurei não ficar sentindo pena de mim mesma. Mas, na verdade, foi um período importantíssimo para o meu crescimento. Eu entendi que estava ansiosa demais, atropelando as coisas com a minha cabeça. Entendi que a minha vontade de trabalhar, produzir e criar outras coisas que não fossem os filhos é legítima, mas que as coisas tem o seu próprio tempo, que não é o meu! Entendi que chegar a um país estrangeiro, reatando um casamento, com 4 crianças é tarefa não-simples. Mesmo sendo a quarta vez morando fora do país, esta certamente é a mais desafiadora de todas. Percebi a grande importância que tem a minha saúde física e mental no seio desta família numerosa. No quinto dia de hospital, João estava pirando em casa, sem poder ir trabalhar, tomando conta de tudo e todos, e eu conversei com o médico pra poder ir pra casa. Ele disse que eu poderia ir, se voltasse no dia seguinte, pois minhas plaquetas ainda não estavam altas o suficiente. Muito ansiosa e culpada (pra variar), fui embora. Fiquei um pouco com os meninos, amamentei o Benjamin e comecei a ter uma dor de cabeça pesada! Ela não parou de aumentar e aí eu comecei a vomitar. A dor não passava de jeito nenhum e, como já estava muito fraca, João e eu concordamos que seria melhor eu voltar para o hospital imediatamente. Foi o que eu fiz! De volta ao soro, remédio na veia pra conseguir descansar. Salvou minha vida! Em menos de 48 horas, eu estava me sentindo forte o suficiente pra voltar pra minha casa e pras pessoas que eu mais amo: eu mesma, meu companheiro e nossos filhos! Meus exames apontaram que eu melhoraria sem dúvida e pude ter alta! Mandei flores pro meu corredor, afinal como agradecer àquela equipe de enfermeiras tão cuidadosas e pacientes? Quando cheguei em casa e me dei conta de que tinha passado mais tempo no hospital do que na minha casa nova, me deu uma vontade enorme de viver! E curtir e me divertir! Pouco a pouco, fui-me sentindo mais forte, conseguindo fazer cada dia um pouquinhomais. Gradualmente, fui curando meu corpo e minha alma. Desde então, já fizemos passeios maravilhosos e eu e João até saímos em uma “date”! Contratamos uma das professoras do Iuri como baby-sitter. Ela deu super conta do recado e nós nos divertimos na noite venezuelana! É isso! Estou certa de que as coisas acontecem quando tem que acontecer. Estou confiante que essa vivência nesse país tão intrigante será (já está sendo!) de grande valia para todos nós.