terça-feira, 30 de março de 2010

"Tudo vale a pena se a alma não é pequena" Pessoa

Hoje acordei cedo, como de costume, e escrevi uma longa carta a uma família amiga e querida que está longe, na Irlanda. Com meu pequeno acordado e a grande na escola, fiquei escrevendo na mesa do café da manhã ainda posta! E Biel lá comigo: comendo bolo de cenoura, depois brincando.

Até que ele me pediu para colocar a música do cachorro (aquela dos Saltimbancos - au au au, io i-ó, miau miau miau, cocorocó...). Achei uma gracinha! Ele gosta do CD todo, que é, na verdade uma pequena coletânea das músicas infantis da minha época e que Nina escutou muito também. Ele pede o CD. senta no sofá e coloca o dedo na boca, como se fosse ver um filme, só para escutar a música! E de vez em quando, salta para o chão e vai dançar. Aí eu vou também, né? Eu é que não vou perder a oportunidade de pegar carona naquela cauda de cometa e ver a via láctea, estrada tão bonita! E depois, brincar de esconde-esconde numa nebulosa; voltar pra casa: NOSSO LINDO BALÃO AZUL!

E assim comecei meu dia, bem mais animada do que ontem. Sinto que a TPM já está dando os seus sinais, mas como estamos passando por momentos estressantes em relação a trabalho, grana, enfim, ontem eu estava meio derrubada. Mas hoje, a Lua Cheia me levantou! HAHA! Passei um dia altamente prazeroso com meu bebê, depois fiz almoço simples, depois descansei, depois fui aco correio mandar a carta e ao mercado, que estava vazio e tranquilo (ufa!).Mas aí, desde que cheguei em casa foi uma maratona: lanchinho para as crianças, estudo de violino com Nina (para ler esta vivência de hoje clique aqui), banho da galera e o meu inclusive, fiz bolo e pão para amanhã (aniversário de 9 anos da minha princesa... VIVA!), dever de casa com Nina, mega super louça, separação das roupas de sua viagem com ela, escovação de dentes de todos e coloquei o Biel para dormir. Ufa! Agora estou aqui!

A pergunta é: todo esse esforço vale a pena? Sim! Primeiramente, porque não é esforço nenhum. Faço porque quero e porque gosto, sinto prazer ao realizar estas que podem ser chamadas de tarefas. Tudo bem, nem tudo são flores e há dias em que a gente perde a paciência, ou está cansada demais, mas esses dias não são a regra! E além do mais, a vida em casa é divertida, dinâmica, sempre tem o que fazer! Ou simplesmente não há nada a fazer e só resta uma coisa: descansar! Ah!...

Então agora vou parando por aqui para justamente ir descansar, pois amanhã tenho uma filhota que completa 9 anos e que vai ganhar um super café da manhã! Puxa, 9 anos... Eu me lembro do meu aniversário de 9 anos: foi um desastre, na praia. Aliás, como fazia aniversário nas férias, eles tendiam a se tornar desgraças porque a gente estava geralmente viajando com minha mãe e meus irmãos todos e minhas tias e meus primos. E, geralmente, os homens da família, na época, não eram muito presentes. Então, imaginem o nível de organização das coisas: zero!

O meu de 9 anos foi divertido, como sempre. Mas imaginem duas gravidonas de uns 6 meses (minha mãe e tia), a primeira com 4 filhos, a segunda, com uma neném (Fizeram as contas? 5 crianças entre 11 e 1 ano e duas grávidas no terceiro trimestre. OK). E elas tinham que fazer a minha festinha! Pense em um brigadeiro que nunca deu ponto! Eu sei que hoje em dia brigadeiro na colher é chique, tem até em casamento, mas pra mim não foi muito não.

Mas eu gosto da minha fotinho desse dia: com uma blusa e uma sainha vermelha, os cabelos de franjinha, um arquinho, na rede, toda sorridente. Ah! E bem negona, porque a nossa casinha ficava na beira da praia em Saquarema e eu não saía de lá! Esperem aí, acho que foi nesse mesmo ano que queimei a mão tentando pegar uma mãe d'água no mar (prima da água-viva, que parece uma manga). Fui salva por um surfista, que botou minha mãe escaldante na areia. Só me lembro de ter que ficar sentadinha na sombra da casinha, na frente do ventilador, com a mão cheia de uma pasta lá... sem poder ir pra praia! Ninguém merece!

É, lembranças... Mas Nina pela primeira vez na vida não vai ter festança. Amanhã, no fim da tarde ela pega o avião e vai passar 5 dias viajando com os avós e os dois primos. Vão para Gramado e Canela, no Sul. Detalhe: na Páscoa! Delícia, hein? Quando ela voltar, ela quer muito que um grupinho de amigas venha dormir em casa (uma festa do pijama!) para comemorar seu aniversário. Beleza!

domingo, 28 de março de 2010

E-mail à equipe da Revista do Correio

Gente, na capa da Revista do Correio de hoje, a seguinte chamada: "A revolução das donas de casa". Saiu uma reportagem sobre este assunto que tanto me interessa e eu escrevi o seguinte e-mail para a revista, posicionando-me sobre o que mais me chamou a atenção na reportagem. Confiram!


Prezada Equipe da Revista do Correio,

Gostaria de dizer que achei interessante a matéria sobre as donas-de-casa, grupo do qual faço parte por opção e amor a mim mesma e a minha família. E, ao mesmo tempo, manifestar minha indignação às seguintes palavras da repórter Maria Fernanda Seixas no trecho que segue: "... outras vertentes intelectuais chamam que a sociedade enfrenta um retrocesso com relação a conquistas femininas importantes, como o espaço no mercado de trabalho, a não opção pelo parto normal, a pílula anticoncepcional, o leite em pó, etc..."
Primeiramente, gostaria de dizer que estas chamadas "conquistas" não têm nada de femininas. Elas são, antes de mais nada, conquistas da indústria. Leite em pó? Ganho para a indústria alimentícia de massa, que insiste em iludir os consumidores de que suas fórmulas são mais benéficas para as crianças que o leite materno. A cinquentona pílula anticoncepcional? Nota mil para a indústria farmacêutica, que ilude a população ao desempoderar e distanciar as mulheres cada vez mais do próprio corpo. Minha gente, só engravida quem quer!!! É possível sim conhecer o seu próprio ciclo menstrual e a partir daí, sem dar dinheiro para a indústria, decidir se quer ter filhos ou não. Não opção de parto normal? Papo para boi dormir! Quem ganha com as cesarianas desnecessárias? Os planos de saúde, os hospitais, os médicos inescrupulosos, que só pensam em engordar suas contas bancárias e por aí vai. Mercado de trabalho? Em um mundo competitivo, onde a mulher, além de competir com o homem, ainda tem que dar conta do trabalho doméstico, da criação dos filhos, obedecendo a padrões que nada têm de femininos. E o que é pior: o triunfo das pessoas que ganham rios de dinheiro com tudo isso, fazendo as mulheres acreditarem que o que é bom é ter cesariana com dia marcado (sendo que o neném nem deu sinal de que quer sair), em um hospital chiquérrimo e caríssimo; que a carreira e o dinheiro, em detrimento da qualidade de vida com a família, é mais importante (queremos ou não indivíduos melhores?); que voltar a trabalhar com um bebê pequeno em casa é mais "vantajoso", pois não se perderá dinheiro, nem prestígio; que ter seus ciclos hormonais controlados por hormônios sintéticos, caros e maléficos é o melhor; enfim, uma série de bobagens que distanciam as mulheres cada vez mais do seu papel CRIADOR.
Eu faço parte desse movimento (mundial) da volta para casa e convido você a visitar meus blogs:

www.minhacasaminhaalma.blogspot.com

www.violinosuzukiemcasa.blogspot.com

Sem mais, Maíra Bezzi.

sábado, 27 de março de 2010

MÃE (Cora Coralina)

Mãe (Cora Coralina)

"Renovadora e reveladora do mundo
A humanidade se renova no teu ventre.
Cria teus filhos,
não os entregues à creche.
Creche é fria, impessoal.
Nunca será um lar
para teu filho.
Ele, pequenino, precisa de ti.
Não o desligues da tua força maternal.

Que pretendes, mulher?
Independência, igualdade de condições...
Empregos fora do lar?
És superior àqueles
que procuras imitar.
Tens o dom divino
de ser mãe
Em ti está presente a humanidade.

Mulher, não te deixes castrar.
Serás um animal somente de prazer
e às vezes nem mais isso.
Frígida, bloqueada, teu orgulho te faz calar.
Tumultuada, fingindo ser o que não és.
Roendo o teu osso negro da amargura."

quinta-feira, 18 de março de 2010

Dançando em Sampa

Cheguei de uma viagem de três dias e duas noites em São Paulo no domingo. Fui e voltei sozinha. Fui participar do primeiro encontro de Dançaterapia do ano no Brasil, que foi especial, ministrado pela própria María Fux, uma senhora dançante e mignone de 88 anos!

Minha viagem começou na sexta de manhã. Era a primeira vez que eu partia para a aventura e deixava meu bebê aos cuidados exclusivos do papai. Desde que comecei minha empreitada caseira, eu só havia me ausentado uma vez, há um ano atrás, por alguns dias para estar com minhas irmãs. Mas daquela vez, carreguei Gabriel comigo e só Nina e João ficaram vivendo suas vidas sem mim! Eu tinha alguns desafios para esta viagem de agora e o mais importante deles era continuar a produzir leite para o meu filho, mesmo estando longe!...

Cheguei à Sampa na hora do almoço, mas não estava nem cansada, nem com fome. Segui de ônibus até o metrô mais próximo e fui direto para a Luz (sim, I saw the LIGHT). Tinha um desejo enorme de conhecer o Museu da Língua Portuguesa e a oportunidade havia chegado. Gostei muito da exposição sobre variedade e preconceito linguístico, eu me senti de volta à sala de aula da UnB, aprendendo sobre nossa língua-mãe. Tive o mesmo sentimento na exposição permanente, contando a trajetória da língua portuguesa, bem como um pouco da história da Mama África e dos Índios daqui. Mas o que mais gostei foi a exposição multimídia "Praça da Língua", um projeto que não tem a intenção de ser uma antologia da língua portuguesa e sim uma celebração dela, com poemas e trechos de livros e músicas diversas, tudo declamado por artisitas escolhidos a dedo: um lindo trabalho! Chorei a bessa durante a apresentação em espaço fechado, com iluminação própria. A gente se senta e fica escutando aquelas palavras, enquanto os olhos viajam pelas estrelas de luz...

Eram quase 4 da tarde e eu estava com muita fome! Atravessei a rua e entrei na Pinacoteca, porque lá tem um café. Almoço suuuper leve e saudável: empada de frango, torta de limão com merengue e capuccino! fiquei ali olhando o Parque da Luz, com suas árvores diferentes (algumas eu nunca tinha visto) e seus visitantes: gente de todo tipo, todo jeito, todo mundo junto, trabalhadores, estudantes, desempregados, moradores de rua e transeuntes como eu, enfim, Sampa, né? Eu também nunca havia entrado naquele prédio lindo, de tijolinho, guardando tanta riqueza lá dentro! Visitei a exposição permanente, as esculturas. Através de um quadro, revi o Museu do Ipiranga ou Museu Paulista, projetado pelo italiano Tommaso Galdenzio Bezzi, pai da minha bisavó, que veio para o Brasil como arquiteto com sua família (daí esse meu nome artístico BEZZI). Também vi a exposição Brasiliana, com gravuras, aquarelas, documentos, livros que fazem parte da nossa história. Pena que ela estava extensa e eu, cansada e com a noite quase caindo. Mas valeu a pena!

Lá fui eu, de mochilão, com a cara e com a coragem andar uma estação de trem até a Barra Funda, mais próxima do meu hotel, segundo o Google. Bom, ainda bem que todos os paulistanos que parei ma rua me ouviram e me ajudaram, senão teria sido mais complicado e cansativo chegar ao meu destino daquela noite... Agradeço! Foi uma longa caminhada de lá até o hotel, que ficava exatamente na frente do estádio do Palmeiras! (E isso eu não vi no Google não, só lá!...). O fato é que cheguei bem cansada, com os peitos duros de pedra de leite. Tomei banho, tirei leite, vi um filminho mamão com açúcar e fui dormir.

Dia seguinte, grande dia! Já no café da manhã, revi algumas colegas do curso de Brasilia e conheci outras. E também a simpática e petite María Fux, acompanhada de Pio Campo e suas companheiras de trabalho italianas, Elisabeta e Julia. Fizemos um pequeno grupo de 7 mulheres e fomos andando até o espaço do curso. Um grupo engraçado, caminhando para o desconhecido, mas almejado: mais uma vivência em dança.

Começamos dançando o Bom Dia, e depois sim e o não, energias opostas, porém complementares, existentes na vida. Foi um trabalho forte, ao som de uma música com baixo e ritmo marcados. Depois, ao som de Bach, dançamos sua atemporalidade, utilizando o espaço disponível, o pequeno e o grande, o alto e o baixo. É engraçado como eu me recordo das músicas. Sempre me considerei uma pessoa de memória visual, mas agora reconheço que minha memória musical é muito forte e presente. O som desse violoncelo está em mim e era essa a proposta: ser o instrumento, tornar-se as cordas desse instrumento que, como a voz humana, pode ser doce e suave, mas também forte e trovejante.

Para fechar a manhã, esta senhora miúda, que já havia ficado de pé quase duas horas e dançado para nós, pediu uma cadeira, sentou-se e nos falou de como as palavras são vivas e que elas próprias já são dança. Acredito que a maioria do grupo foi almoçar no SESC Pompéia, que fica ali perto. Que beleza: assim que você entra, há um enorme banner com as apresentações e atividades do mês naquele SESC. Uma maravilha! Descobrimos que haveria show do Jards Macalé e do Jorge Mautner juntos naquela noite. Puxa, estávamos em São Paulo, fomos até lá para conhecer as raízes da Dançaterapia, com sua própria criadora, mas também queríamos ficar juntas e aproveitar um pouco. Compramos ingressos (eu e mais 5 de Brasília, que estávamos no mesmo hotel) e rimos a valer naquele show divertidíssimo, inteligente e musical!

Voltando ao curso, à tarde, María queria nos falar um pouco mais sobre o dançaterapeuta, para aqueles que fazem ou desejam ingressar na formação. Ela nos mostrou seu mais recente vídeo, filmado em seu estúdio em Buenos Aires. Nós vimos alguns de seus alunos dançando, quebrando suas próprias barreiras (em sua maioria físicas). Havia uma mulher surda, um grupo de adolescentes com Down, um grupo de crianças. Cada um dançando do seu jeito, sentindo de uma forma diferente. E é assim: quando as limitações são visíveis, as pessoas partem para o julgamento e têm dificuldade de lidar com o diferente. Por isso, Dançaterapia! Com ela, entramos nós mesmos em contato direto com nossas próprias limitações, que não são visíveis, mas podem ser muito mais limitadoras do que aquelas que chegam facilmente aos nossos olhos.

Depois, fomos convidados a fechar os olhos e dançar uma voz feminina com uma mão apenas. Mais tarde, deveríamos dançar essa mão e voz no outro. Este trabalho evoluiu com mais espaço e liberdade. De olhos fechados, assegurados pelo chão, dançamos ao som da bela e incompreensível voz, conectando-nos uns aos outros. Não sabíamos quem estava ao nosso redor. Ao mesmo tempo que tocávamos, éramos tocados e assim foi. Por fim, mais uma delícia: dançamos o silêncio em nós mesmos.

No fim do dia, eu estava bem cansada. Meus peitos doíam muito, principalmente o esquerdo. Mas consegui não só refletir sobre aquele dia, como tive a oportunidade de discuti-lo com Lila, minha colega de quarto. Fomos ao show, nos divertimos e eu dormi bem melhor. Domingo de manhã, meu peito esquerdo era quatro vezes o tamanho do direito. Duro! Mas deu para tirar um pouco de leite e dormir na boa. Descansei bem naquela noite.

Dia seguinte, María deixou claro que nós não éramos os mesmos do dia anterior. Pois a vida é assim: fluida. Lembrei-me da filosofia pré-socrática: tudo flui (foi Heráclito quem disse isso?). Hoje entramos em um rio e a água corre. A cada instante, nós nos modificamos como o rio que passa. Amanhã entraremos no mesmo rio, que não será mais o mesmo, tampouco nós mesmos... Estamos em constante mudança, dança, mudança, dança e assim deve ser...

Tive então a vivência mais rica do fim-de-semana. No chão, fomos raízes de plantas aquáticas, fomos plantas aquáticas e rochas do fundo do mar. É isso. Originalmente, somos seres do mar. Fomos gerados dentro de uma barriga que era o próprio mar, a barriga da mãe. Nossa natureza é fluida, mesmo que sejamos rochas e pedras. Elas também estão em constante mudança, apesar da aparente frieza e imobilidade. Senti-me muito viva e grata por estar ali... Para finalizar, retornamos às músicas do dia anterior e ganhamos de presente a "dança livre do amor"! (Sou eu quem diz isso!) Era uma música cantada em italiano, que falava de amor... belíssima!

No fim, eu estava me acabando em lágrimas e suor. O peito esquerdo doía e me fazia lembrar quem eu era, quem eu sou hoje: Maíra, mãe, mulher, minha, de mim mesma. É. Forte assim.

Ainda tive a oportunidade de ver a Paulista. Fomos almoçar no restaurante do MASP. Depois, jornada de volta para casa. Eu estava satisfeita, realizada, porém cansada e não via a hora de abraçar meus amores em casa e oferecer o peito ao Gabriel. E assim foi. Namastê!

domingo, 14 de março de 2010

Mulher é premiada por filme masculino

Interessantíssimo o texto especial de Karina Gomes Barbosa para o Correio Braziliense de ontem, intitulado "O dia em que roubaram o meu Oscar". A chamada diz: "A masculinidade da história de Guerra ao Terror prova que uma mulher só está apta a ganhar um Oscar de melhor direção quando se aventura justamente no território do homem."

Kathryn Bigelow foi a primeira mulher da história a ser premiada como diretora pela academia. Eu não vi o filme, nem assisti à entrega do Oscar. Mas li o texto de Karina e ele me fez refletir sobre este fenômeno de "reconhecimento" da mulher em questões masculinas. Não sou cinéfila, muito menos tenho dados e nomes de diretores e diretoras e seus filmes, prêmios e desilusões e etc. Porém, Karina me pareceu saber direitinho o que estava dizendo quando cita Barbara Streisand, por exemplo, e seus belos filmes, com temas bem femininos e suas derrotas na academia.

Que fique bem claro: há muitas diretoras de filmes por aí, tão competentes quanto os homens. Mas eis que esta diretora só foi premiada por um filme com tema de guerra e seus soldados no Iraque... Francamente! Será que este é o único assunto interessante atualmente?

Este fato me fez pensar novamente neste desequilíbrio entre o feminino e o masculino. Todos nós somos dois: ying e yang, feminino e masculino... Não é só uma questão de ser biologicamente mulher ou homem, são características arquetípicas talvez intrínsecas ao feminino e ao masculino... Não tenho certeza se vivemos em um mundo mais masculinizado ou não, mas tenho certeza que as mulheres desta época estão mais masculinizadas sim.

Por quê? São características masculinas a ação, a competitividade, o prover, a guerra, o lutar, sei lá! São mais femininas características como o cuidar, o nutrir, o ouvir, a tolerância e a subjetividade. Não estou negando as conquistas feministas, nem os direitos civis das mulheres, o direito de ir e vir, estudar, votar, vencer e tudo mais... Mas as mulheres meio que se perderam no mundo masculino, querendo se igualar a eles... Mas não somos iguais. Como eu disse: perdeu-se o equilíbrio entre o feminino e o masculino e o masculino se manifesta mais e é mais forte nas mulheres hoje em dia...

E acho uma pena, pois as mulheres têm tanto a dizer, tanto a dar para este mundo caótico! Mesmo que não sejamos reconhecidas por prêmios (em sua maioria organizados por homens, que também estão desequilibrados), há mulheres equilibradas por aí, pulsando com sua feminilidade e produzindo coisas belíssimas, fazendo a diferença em vários locais do mundo. Eu estou nesta busca: da minha própria feminilidade.

No meu caso, esta busca pessoal se deu no momento que assumi a maternidade por inteiro. O meu eu mulher, feminino, pulsa com esta minha volta para casa e esta disponibilidade para o outro, ao mesmo tempo que me disponibilizei para mim mesma. E acho que estou me reequilibrando... Cheers!

domingo, 7 de março de 2010

Meu texto para a Revista do Correio Especial: Dia Internacional da Mulher

 
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Reproduzo aqui na íntegra o texto e a foto que mandei para o site da Revista, em princípio sem esperar nada. Mas eis que segunda passada, me ligaram confirmando dados e cheguei a achar que teria alguma chance em ser publicada: doce ilusão! Quem é mesmo que está interessado em saber que tem mulheres de classe média por aí, que já moraram fora diversas vezes, já estudaram e trabalharam com várias coisas, são jovens, bonitas e talentosas, inteligentes e, no momento, querem ser só o quê? Mães?!?!? Enfim, vai entender, né? Aí vai:

A minha revolução: ser mãe em tempo integral

Pode parecer estranho uma mulher da minha idade, do meu meio social, ter escolhido ficar em casa após o nascimento do segundo filho. Ele tem 1 ano e 8 meses e desde que ele nasceu, eu me dedico inteiramente a ele, a minha filha de 8 anos, meu marido, a casa e, principalmente, a mim mesma.

Por que então dizer que este movimento é revolucionário, visto todo o movimento feminista do século passado, todas as conquistas femininas sociais extremamente importantes que aconteceram? Bem, o Dia da Mulher me impulsionou a escrever este texto. Minha decisão tem um impacto em nossa sociedade (altamente consumista e masculinizada), pois estou fazendo o caminho inverso do caminho “esperado” das mulheres da atualidade: estou voltando para casa.

Literalmente! Minha proposta é estar em casa, disponível para as crianças, proporcionando um lar amoroso, onde cada um de nós possa voltar-se para si mesmo e se reconhecer como indivíduos, pessoas especiais, com habilidades especiais. Meu marido e eu também estamos nesse caminho. Ficando em casa, eu dou a ele a chance de buscar lá fora o nosso sustento através de sua inteligência e sua garra. Ao mesmo tempo, eu posso me dedicar a mim mesma e ao nosso projeto mais importante: nossas crianças.

Assumimos a responsabilidade de cuidar integralmente delas, cada qual fazendo a sua parte. Acreditamos que assim, estamos fazendo “filhos melhores”. Sou uma mulher de 31 anos que desenvolve um trabalho não remunerado, tampouco reconhecido, nem pelo governo, que dirá por empresas e pela sociedade em geral. Estou desempenhando o meu papel como mãe, que é nutrir (em todos os sentidos), proteger, apoiar, mas sobretudo amar. Se eu não o fizesse, alguém teria de fazê-lo.

Uma das maiores queixas das mulheres que desempenham multi-tarefas hoje em dia é a famosa “falta de tempo”, seja para elas próprias, seja com suas crianças. Com minha primeira filha, sofri desse mal. Eu trabalhava, estudava, cuidava da casa e vivia altamente estressada e exausta. Muitas coisas aconteceram durante os 7 primeiros anos de sua vida. Felizmente, meu marido sempre foi um pai amoroso e presente e eu também tive o apoio de nossas famílias para cuidar dela. Enfim, não foi fácil. Quando decidimos então engravidar novamente, as coisas começaram a se apresentar de forma diferente para mim.

Comecei a perceber que eu não queria ter que me esforçar muito para dar “qualidade em detrimento da quantidade” com o meu tempo disponível para meu segundo filho. Eu comecei a desejar estar mais próxima e realmente disponível. Conversando com meu marido, que é free-lancer, chegamos à conclusão que valeria muito mais a pena (em termos financeiros mesmo) eu ficar em casa com as crianças do que continuar a dar aulas em horários esdrúxulos (o que sempre dificultou nossas combinações).

Na época, nossa decisão foi tomada baseada em cálculos. Entretanto, durante todo esse tempo que passou, os números se mostraram incapazes de “medir” a qualidade e os benefícios desta nossa empreitada. Eles são claros: nossas crianças são saudáveis, agradáveis, bonitas, esbanjam energia e vivacidade, são muito inteligentes, além de extremamente amorosas e carinhosas. Nós aprendemos muito com elas todos os dias. Digo até que aprendemos mais com elas do que elas com a gente. Mas isso é outra história...

Enquanto vamos mantendo nosso plano de investimento nelas em ação, eu, por minha parte, invisto em mim mesma. Como? Voltando às minhas raízes, pesquisando sobre minha família, escrevendo (mantendo um blog inclusive: www.minhacasaminhaalma.blogspot.com, buscando fazer o que me dá prazer, sendo em casa, cozinhando, limpando, plantando, brincando com as crianças, seja fora dela, participando de alguns encontros e recomeçando minha vida artística, de certo modo. Enfim, os benefícios também são latentes em mim: não vivo mais exausta, ao contrário, tenho energia para desenvolver múltiplas tarefas durante o dia e à noite, se necessário, pois durmo bem e também tenho tempo para descansar e mergulhar fundo dentro de mim mesma. Estou em aprendizado.

É claro que nem tudo são flores e também temos dificuldades nesse percurso. Mas nós estamos confiantes que algo maior está reservado para nós e temos certeza de que esta fase difícil vai passar. Outra coisa que vai passar é a infância de nossas crianças e nós estamos conscientes disto. Por isso mesmo, acreditamos que o momento para estarmos mais próximos delas é agora. O que acontecerá depois, ninguém sabe...

Como mulher, tenho certeza absoluta que estou fazendo o que o meu coração me diz. Estou também agindo e me preparando para ter outra profissão, uma que realmente me preencha, tanto quanto a maternidade me preenche agora. Mas isso é o futuro, tudo o que posso fazer agora é viver o presente, que é o maior presente do mundo: meus filhos!

sábado, 6 de março de 2010

"Maternidade é estar disponível"

Esta frase foi dita ontem à noite, por Rita Pinho, durante o encontro das sextas-feiras livres do Espaço Ventre Livre (para acessar a página do espaço, clique aqui). Eu estava lá e participei de mais um desses momentos de troca entre mulheres, mães, e alguns futuros pais, onde o tema era maternidade.

Rita conduziu a seguinte vivência: deveríamos procurar dentro de nós o momento ou a circunstância onde sentimos o desejo de sermos mães pela primeira vez. Dentro desta proposta, deveríamos procurar imagens em revistas que nos tocassem em relação ao tema e depois colá-las em forma de mandala em um pepel. Quem quisesse, estava convidado a compartilhar suas impresõs, sentimentos, enfim, o que o/a levou a fazer aquele trabalho.

Nem preciso dizer que adorei! Gostei de ouvir das outras pessoas o que é a maternidade para elas, como está sendo a gestação e gostei mesmo de poder compartilhar um pouco da minha própria experiência. Falei de como o que estou vivendo é extremamente libertador para mim, ao contrário do que julga a maioria das pessoas (olha, só: ela só fica em casa, quase não sai, nem vê gente, nem compra nada... coitadinha, está presa ao pé da mesa!...) Hahaha! Acho até graça. As pessoas estão muito presas ao estereótipo da dona-de-casa submissa e infeliz!

Mas mal sabem elas o prazer que sinto ao estar em casa, disponível para as crianças, podendo vê-las de perto, pegá-las no colo e acariciá-las e amá-las à vontade! Ao mesmo tempo, eu me divirto, eu gosto de ficar em casa, eu me comunico e crio neste espaço, que para mim, não tem nada de virtual! Sou eu mesma quem fala, escreve, sente, produz e publica! Sinto-me cada vez mais livre, porque estou cada vez mais em sintonia comigo mesma. Então, a maternidade para mim é isso: a grande chance da minha vida de parar tudo do lado de fora e me concentrar do lado de dentro.

Rita arrasou ao chamar a atenção de todos nós para o seguinte fato: se os pais podem fazer algo pelos filhos, devem agir nos primeiros anos de vida deles, pois eles são decisivos para a formação do indivíduo! E sintetizou a reunião de ontem dizendo que ser mãe é estar disponível. Eu concordo em todos os graus e acrescento que isso não significa se anular, vejam bem, olhem para mim! Sou cada vez mais inteira e é isso que quero que meus filhos sejam: eles mesmos, íntegros e inteiros. Namastê!

sexta-feira, 5 de março de 2010

Música com crianças e para todos

Sou filha, neta e sobrinha de músicos. Cresci entre ensaios e apresentações pela cidade afora. A música sempre foi parte intrínseca da minha vida. Estudei muita teoria e toquei vários instrumentos em diferentes épocas: violino, harpa, flauta doce e flauta transversal. Mas como eu passava a maior parte do meu tempo dançando, não tinha muito tempo para os estudos de música, o que dificultava o aprofundamento ao tocar qualquer desses instrumentos.

Ao mesmo tempo, mesmo tendo crescido rodeada por música, não tive muito apoio em casa para estudar e acabava largando um instrumento quando ele ia ficando muito difícil e começava a tocar outro. Até o dia que abandonei a Escola de Música de vez. Meu último encontro formal, digamos, com a música foi em um Curso de Verão, onde estudei canto popular e, logo depois, integrei um coral feminino, o Ars Femina, que foi uma experiência divertida. Depois disso, era só: "é, a Maíra é super afinada, canta bem"... Mas, na verdade, não consegui ir além disso. Mas as coisas mudam bastante quando a gente se torna mãe!

Sempre brinquei e cantei muito com a Nina. Aos dois anos de idade, mais ou menos, ela começou a frequentar o então recém-lançado projeto "Música para Crianças" da UnB, dirigido pelo Professor Ricardo Dourado. As aulas eram aos sábados e, como eu dava aulas nesses dias, João era o encarregado de levar Nina às aulas de música. Assim foram os primeiros dois anos... Eu me encantava nas apresentações, mas não percebia quanto eu estava deixando de ganhar por não participar dessas aulas criativas e amorosas. Antes de seguirmos para a França, Luíza Volpini botou um violino nas mãos da Nina, ela estava com 4 anos. Mas o instrumento teve que esperar um ano (até nós voltarmos) para que Nina começasse a tocá-lo realmente.

A partir daí, ela começou a frequentar o curso "Violino para Crianças", também dirigido por Ricardo, mas coordedenado pela Luíza. Tinha aulas em grupo aos sábados e uma aula individual por semana. Eu a levava durante a semana e João aos sábados. Eu demorei um tempo para entender a importância de estar presente em todas as aulas. Continuava trabalhando aos sábados, até que finalmente consegui me desligar daquele horário de trabalho infernal!

Muito bem, meu processo como "mãe Suzuki" demorou a pegar no tranco porque eu demorei a entender a importância e o valor do estudo em casa com a criança (seguindo as instruções das aulas e minha criatividade). Quando finalmente comecei a entender mais o método, sua amorosidade, as oportunidades que ele traz de envolver pais e filhos, Nina começou a deslanchar. Mesmo. E não parou mais. Ela toca há quase quatro anos e gosta de ouvir sua própria música. É claro que não e fácil estimulá-la para estudar sempre. Há dias e dias. Há dias em que é preciso menos esforço da minha parte e há dias em que tenho que ser duas vezes mais paciente e amorosa. Há dias em que perco a paciência... Mas tudo é aprendizado. Aprendemos uma com a outra.

Com Gabriel estou tendo uma vivência diferente. Ele começou a frequentar as aulas de musicalização aos sete meses, no mesmo curso da UnB, mas com a professora Clarisse Prestes. Sábado passado as aulas voltaram. Ele é muito concentrado e musical, como sua irmã. Além disso, tema peculiaridade de ser um bebê extremamente comunicativo. Ele imita tudo o que a gente fala e sabe dizer o que quer muitas vezes, ou seja, é diversão garantida! Cantamos e ouvimos muita música em casa. Ele gosta, se acalma, se interessa e participa.

Bom, por que escrever essas coisas a vocês? Bom, primeiro porque é parte da minha casa, portanto, minha vida. Depois porque acredito que somos seres musicais. Qual é o ser humano que não gosta de música? Isso não existe! E as crianças, então, têm a música dentro de si mesmas, basta estar com elas, estimulá-las e ouvi-las. Todos podemos. Este é o princípio básico do Suzuki: se o ser humano tem a linguagem dentro de si, então ele também tem a música, pois ela também é linguagem (da alma, eu diria!). Qualquer pessoa pode aprender a tocar um instrumento.

E o que é melhor: fazer música junto com suas próprias crianças é algo que todos deveríamos experimentar e vivenciar, para sentir e saber como é. É estarmos presentes, com nossos filhos, dedicando nosso tempo a eles, dando o que temos de melhor. Vocês podem estar achando que estou romanceando demais a questão, e é verdade, porém, acredito na máxima de Suzuki: "educar é amor" e a educação musical não deveria ser privilégio de poucos, e sim, direito de todos!

Aproveito então esta oportunidade para divulgar meu novo blog, onde escrevo sobre essas experiências de ser "mãe Suzuki" e gostaria de trocar ideias com outros pais a respeito deste assunto. Vocês estão convidados a visitá-lo e participar, é claro!

Venha me visitar! aqui

Com amor, Maíra.

segunda-feira, 1 de março de 2010

Festa do milho do meu quintal!

Qual foi minha alegria ao colher milho hoje! Tudo começou quando plantei junto com o Batista (o nosso jaridneiro Calunga maraviloso) no ano passado. Fiquei imaginando que eu faria uma festa do milho em fevereiro, com muito milho verde cozido pra todo mundo!

Então, há umas três semana atrás, fui verificar. Tirei duas espigas que me pareciam de tamanho razoável, porém a decepção foi geral: estavam branquinhas, magrinhas, não dava nem pra comer! Achei que ainda ia demorar muito para colher e deixei pra lá. Semana passada, Batista esteve aqui e me disse que o milho já tava era ficando duro para fazer cozido! Mas que tava no ponto pra fazer curau, bolo, mingau...

Aí eu saí igual a uma louca no meu pequeno milharal, colhendo milho e retirando a palha (muito dura, por sinal) e ficando com os braços irritados das folhas, que são muito ásperas! Batista tinha me dado uma ideia de como preparar curau e lá fui eu, desajeitadamente, tirar os caroços da espigas, batê-los no liquidificador, coar e cozinhar... Bom, é claro que além do petêco que ficou minha cozinha, o curau ficou horrível! Mas nada que eu e Biel não pudéssemos traçar com um pouco de canela...

Beleza, isso foi semana passada. Hoje, eu quis me aventurar de novo no meu milharal. Fui mais esperta: primeiro, não fiquei me roçando nas folhas enormes (pra mó di num coçá dispois) e segundo: tirei toda a palha e só trouxe as espigas limpinhas pra dentro de casa. Aha, o que não é a experiência! Perdi algumas espigas para bichinhos indesejados, tipo umas lagartas. Mas tudo bem, as espigas que eu trouxe (umas 10) eram lindas, enormes: o ouro do cerrado!

Fui mais espertinha desta vez: dei uma olhadinha na internet e vi uma dica muito boa: era pra usar uma fralda pra coar e separar a água do milho batido no liquidificador (com um pouco d'água) do bagaço. Foi bem mais tranquilo... Fiz o curau com leite de soja (já que raramente tenho de vaca em casa porque não o tomamos) e parece que ficou muito bom! Amanhã de manhã é que vou saber mesmo. E com o bagaço, fiz um lindo bolo com fubá: nosso lanchinho da tarde delicioso...

Quem diria! Milho da minha própria casa! Satisfação plena!