Na sexta-feira, participei de outro encontro promovido pelo Espaço Ventre-Livre, onde o tema da palestra foi mais uma vez maternidade e profissão. Quem apresentou da última vez esse mesmo tema fui eu mesma e o encontro foi conduzido pela minha terapeuta. Desta vez, o encontro foi conduzido por uma mulher de 39 anos, mãe, administradora e psicóloga. Quando cheguei, logo percebi que era ela quem daria a palestra. Alta, magra, cabelos compridos e castanhos. Pele morena, uma beleza parecida com a de Daniela Mercury. Mas muito calada a princípio, só observando as mulheres faladeiras que iam chegando e se acomodando (dentre elas, eu!).
Quando Rita (a doula, que na verdade é a idealizadora do Espaço) deu a palestra como iniciada, éramos 10 mulheres. Cinco grávidas, das quais três de primeira viagem e as outras todas já mães. O objetivo do encontro era ouvir a experiência de A . e, ao mesmo tempo, trocar nossas próprias experiências, desejos, angústias, vontades, enfim: dividir esse processo de ser mãe e ser profissional de novo, recomeçar e se reencontrar como mulher após (e durante) a maternidade.
A história de vida de A . me sensibilizou bastante e fiquei emocionada com a guinada que ela conseguiu dar em sua vida muito em grande parte graças à sua maternidade (sua neném só tem 1 ano e 1 mês de idade). Imaginem uma mulher que cresceu no interior e aprendeu a administrar finanças e grupos de peões desde muito cedo, ou seja, já era “chefa” aos 15 anos. Depois disso, muito determinada a ser totalmente independente, veio para Brasília estudar aos 17 anos. Trabalhou na iniciativa privada, até passar em um concurso do Banco Central, onde continuou sua vida de “workaholic”, quando por acaso caiu em um grupo que estudaria as personalidades. A partir daí, interessou-se por esse outro lado da vida, um lado “mais feminino”, como ela mesma definiu e tornou-se quase que dependente de terapias ocasionais em grupo, onde ela extravasava esse seu outro lado (“era 8 ou 80, não tinha meio termo”, foram suas palavras).
Imaginem que em uma dessas terapias ela desejou amar. E amou. E sofreu muito, pois não havia sido correspondida. Em uma de suas tentativas de entender por que isso havia acontecido com ela, seu guru sugeriu que poderia ter sido porque ela precisava aprender a amar incondicionalmente. Nesse meio tempo, ela havia começado a estudar psicologia. Ela voltou à sua vida e algum tempo depois, também durante um desses “retiros psicológicos”, conheceu seu futuro marido. Um homem que havia largado a profissão e a segurança financeira de sua vida européia e tinha vindo para o Brasil trabalhar em projetos sociais. Eles se apaixonaram e ela amou novamente. Depois de finalmente decidirem se casar, ela engravidou, sendo este último, um desejo muito íntimo e profundo seu. Ela sabia que não daria para conciliar a vida caótica e competitiva do banco com as exigências de um bebê. E, mesmo precisando do dinheiro, ela ainda não voltou da sua licença sem vencimento.
Mas o universo conspira a favor daquilo que mais desejamos, enfim. E quando seu bebê tinha três meses, após assinar um papel no banco dizendo que ela não iria voltar, a neném deu um choro muito sentido no meio da rua. Ela estava tão desolada que uma mulher veio ajudá-la e. No meio da conversa, perguntou se ela não faria orientação vocacional para a sua filha. E, de imediato, mesmo não tendo mais seu consultório de atendimento e nada arrumado em casa para tal, disse que sim, que atendia em casa. E pronto! Estava feita a sua opção. Com o marido, arrumou a garagem para receber clientes e é o que tem feito desde então. Assim, fica a maior parte do tempo em casa, com sua filha e trabalha também. Seu marido presta consultoria, é free-lancer, então também pode estar em casa com elas durante algumas temporadas. E foi essa a sua solução. Melhor pra ela e para a sua família.
Que bela história, não? Há mais detalhes, que não tive tempo de colocar aqui, mas o cerne da questão foi respondido: ela encontrou a melhor solução para ela. Saiu de um mundo extremamente masculinizado, onde o ego muitas vezes ultrapassa as legítimas barreiras do trabalho duro, da dedicação e do merecimento, para um mundo mais feminino, do cuidar. Não ganha tanto dinheiro, mas está em casa com sua neném e é isso que ela precisava fazer agora.
Gostei muito de ter participado deste encontro e ter conhecido tantas mulheres diferente, mas que estão buscando algo parecido com o que eu tenho buscado: encontrar a melhor solução para dedicar-se aos filhos pequenos e aproveitá-los, ouvindo uma voz íntima e profunda que vem de dentro de mim. E, ao mesmo tempo, encontrar seu lugar no mundo não somente como mulher, mas como uma mulher modificada e amadurecida pela maternidade.
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