quarta-feira, 22 de abril de 2009

22 de abril: descobrimento do Brasil. (?)

Logo cedo pela manhã na feira de orgânicos, uma senhora chega perto de mim com um celular dizendo estar fazendo uma pesquisa como voluntária para uma rádio de Brasília. A pergunta é uma só, rápida e direta: "A senhora sabe o que se comemora hoje no Brasil?" E eu, preocupada com meus alimentos e os de minha família: "Hoje? 22 de abril? Não, não sei não." E aquela cara de desprezo da senhora que disse: "Ah, não sabe? Mais uma!"

Depois disso, ela interregou uma outra senhora, que sabia a resposta certa e ainda acrescentou para a outra que ontem foi "Dia de Tiradentes"! Pronto! Prato feito para as duas começarem a falar dos jovens de hoje, que não sabem nada, têm preguiça de pensar, pra tudo uma calculadora, meu Deus! E eu, ouvindo, com aquela cara de "eu mereço", mas ao mesmo tempo nem ligando muito. Tenho total conciência que não me enquadro no grupo dos "jovens antipatriotas e ignorantes", no qual elas certamente gostariam de me enquadrar.

Tudo bem, eu confesso que foi um mico. Ainda mais quando chego em casa e faço a mesma pergunta pra minha filha, de OITO anos e que NÃO estuda no sistema brasileiro, e ela de primeira diz: "descobrimento do Brasil, ué!" Ficamos eu e João olhando um pro outro dizendo que a gente achava que tivesse sido ontem. De fato! Ontem me deu aquela vontade de participar de alguma coisa, algo brasileiro, sei lá! E concordei em encontrar nossos amigos franceses na Esplanada pra ver o show do "Mobile Homme".

Chagamos na Esplanada uma hora antes. João, vindo direto da rodoferroviária (estava em Gyn City, bem cansado...) Um calor, um sol de lascar! Gabriel, morrendo de sono e já irritado. Nina querendo ficar SEM boné! No momento em que pisamos na grama, bateu aquele arrependimento: gente pra tudo que é lado, uma banda de punk rock desafinada em um palco. E quando chegamos à sombra milagrosa da Biblioteca Nacional, o pior: gente e lixo para todos os lugares que olhávamos. Que desânimo...

Durante o tempo todo que ficamos lá esperando, várias coisas passaram pela minha cabeça. Por que essas pessoas estão sujando a rua? Por que essa bagunça? Tinha arroz, casca de laranja no chão. E se você se arriscasse a ir aonde tinha sol, na frente do museu, aquele bando de crianças gritando e brincando naqueles laguinhos... Ah! Socorro!!! Pelo menos elas estavam se refrescando e estavam se divertindo muito mais do que eu.

Bom, a questão é que é em momentos como esse que me sinto muito, mas muito distante dos brasileiros. É triste, é bairrista, eu sei. Mas não posso negar. Logo eu, que me interesso tanto e já li e continuo lendo sobre a formação do nosso país. Não tenho formação em antropologia, nem história, mas ADORO tudo que diz respeito ao Brasil nesse sentido. Mas quanto mais a gente estuda e reflete, mais a gente se dá conta da loucura que é esse país, de como gente como eu e João e muito provavelmente você, leitor, está distante da grande massa de brasileiros paupérrimos, aculturados, desaculturados, corrompidos, enganados, analfabetos, injustiçados, mas também às vezes acomodados.

E aí eu me pergunto, como já fazia Renato Russo: "QUE PAÍS É ESSE?" Que descobrimento é esse? O que afinal temos pra comemorar? Para mim, o Brasil ainda não se descobriu. O meu e o seu Brasil ainda é muito pequeno. O remédio? Não sei. Só sei que há que se descobrir cada vez mais formas de aumentar essa ilhota da qual fazemos parte e aí, quem sabe um dia, eu vou poder me reconhecer como brasileira no meio do povo!

2 comentários:

  1. maíra, no dia seguinte à festa, fui trabalhar e fique tonta olhando o lixo no chão. imagino o que vc sentiu estando lá. é engraçado isso: saber as datas, a coisa oficial, é mais importante que olhar ao redor e disser: - putz, meu país, minha cidade, não vou fazer isso. complexo, baby, complexo. amei sua franqueza. na verdade, o que é o brasil é sempre uma pergunta, quase nunca uma resposta.

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  2. Belíssimo texto! Putz...
    Muito sincero, claro e preciso. Adorei.
    Gosto muito do seu estilo, senhorita Bezzi.

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