quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Quem cuida dos nossos filhos? Um desabafo

Hoje de manhã senti-me sozinha e um tanto revoltada. Era uma cena comum, como já estou habituada. Na pracinha na frente do prédio de minha sogra (onde ainda me encontro), lá estava eu e Gabriel e uma babá com o "seu" bebê, que, depois do Gabriel, é o mais velho das crianças que costumam descer neste horário. Ele tem 1 ano e meio. Gabriel, 2 anos e 2 meses. Antes dos outros bebês (a maioria na faixa de 10 meses até 1 aninho e pouco) chegarem com suas babás, lá estava um nenenzinho de dois meses no colo da babá.

Eu me fiz de tonta e perguntei onde estava a mãe do bebê, pois ontem eu a havia visto, com roupa de trabalho, se aproximar de seu bebê (que continuou no colo da babá) e por ali ficar alguns minutos. A babá disse que a mãe estava no trabalho, que era médica e que ficava voltando para amamentar sua cria; que ela ia para a clínica só para atender um ou dois pacientes e que sempre voltava... E eu com meus botões: dois meses? O que faz uma mãe abandonar seu filho quase recém-nascido em casa com qualquer pessoa e ir cuidar de outras pessoas em seu consultório? Quanto equívoco!...

Tenho e sempre tive dificuldade com o esquema brasileiro de empregadas domésticas e babás. Não sou perfeita e muitas dessas dificuldades são na verdade preconceitos, é verdade. Mas para mim, a classe média brasileira, no geral, se aproveita de uma situação de abismo econômico, social e cultural, que cria uma legião de mulheres sem escolaridade ou preparo para o mercado de trabalho e que, sem escolha, acabam nos serviços domésticos não por vocação ou vontade, mas por pura necessidade. Não raros são os casos de maus tratos ou abusos por parte dessas mulheres, que geralmente largam suas próprias famílias para se envolver intimamente com outras e "criar" os filhos da classe média e quase que compulsoriamente os da classe alta também.

Mesmo quando Nina era pequeninninha (hoje ela tem 9 anos) e eu trabalhava, João e eu já nos sentíamos constrangidos porque estávamos sempre cercados de babás nos parquinhos e tal. Raramente tínhamos a oportunidade de conversar com os pais das crianças. E hoje, com Gabriel já grandinho e minha barriga crescendo, já não me assusto, mas me entristeço muito com estas cenas "corriqueiras". Acho que as profissões domésticas sempre existirão, mesmo porque são profissões como todas as outras. Mas nos últimos 50, 60 anos, a coisa vem saindo completamente do controle e no Brasil de hoje, as mulheres estão muito equivocadas em relação à maternidade. Afinal de contas, o que é a maternidade? O que é o feminino?

Largar suas casas, deixar seus filhos pequenos com babás, em sua maioria despreparadas, confiar cegamente em creches caras e lotadas? Não há provas suficientes hoje de que este modelo está furado? Eu fui professora e trabalhei com crianças e adolescentes de clásse média e alta. A gente vê os problemas do abandono, do excesso de coisas materiais, de alimentação inadequada, enfim, a lista é bem extensa. E tudo por que? Porque os pais e principalmente as mães estão ausentes.

Sei que em países desenvolvidos como a Nova Zelândia e a Alemanha, as mães são estimuladas a ficarem em casa com seus bebês até os três anos de idade, período depois do qual elas têm o direito de serem readmitidas no mesmo posto. Conheço algumas mães aqui em Brasília, funcionárias públicas, que tiraram licença sem vencimento para se dedicarem a seus bebês. E às vezes escuto de mães, que, como eu, simplesmente deixaram de exercer suas profissões enquanto seus filhos são pequenos. Mas ainda não participo de nenhum grupo de mulheres e mães que pensam como eu e sinto-me um E.T. no meu país e em minha cidade.

Sei que a internet é um ótimo recurso para eu desabafar e procurar pessoas como eu, ou pelo menos parecidas, mas o meu momento não me permite muito tempo para procurá-las e trocar ideias. As coisas estão tão de ponta-cabeça que o que venho fazendo é, aos olhos dos outros, uma coisa perigosa. "Como assim, "desistir" da carreira? E todos os anos de estudo, competição e esforço? Vou assim, me anular, virar "Amélia"?" Não é por aí, galera. Ninguém vai morrer se ficar dois ou três anos em casa, cuidando do seu bem mais precioso, zelando pela qualidade e o amor no presente e investindo incalculavelmente no futuro... Mesmo porque depois de uma experiência dessas,a vida de uma mulher nunca será a mesma. Pois ela terá investido em si mesma, no seu auto-conhecimento (sim, porque cuidar dos filhos é o mesmo que cuidar de sua criança interior, por exemplo) e sua relação com suas crianças será diferenciada, o que ela carregará consigo para o resto da vida, redescobrindo seu campo profissional, mais em harmonia com sua mulher interior. Bom, eu acredito nisso. E você?

10 comentários:

  1. Maíra,
    concordo e acredito plenamente.

    Principalmente essa parte:

    "Mesmo porque depois de uma experiência dessas,a vida de uma mulher nunca será a mesma. Pois ela terá investido em si mesma, no seu auto-conhecimento (sim, porque cuidar dos filhos é o mesmo que cuidar de sua criança interior, por exemplo) e sua relação com suas crianças será diferenciada, o que ela carregará consigo para o resto da vida, redescobrindo seu campo profissional, mais em harmonia com sua mulher interior"

    Ninguém melhor para cuidar do maior tesouro que temos do que nós mesmas.

    A mulher pode e deve ser independente.
    Mas essa corrida compulsiva pelo ter, ter e ter deixa a desejar.

    Eu estou voltando aos poucos para a minha vida profissional, depois de 10 anos e posso dizer que não estou arrependida, pois já percebo o quanto fez bem para mim e principalmente aos meus filhos.

    Filhos, se não pode criá-los, melhor não tê-los.

    Amo os meus e gostaria de ter tido mais uns dois(rs).

    Parabéns pelo excelente post.

    Xeros

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  2. Olá, Maíra!
    Sou uma das organizadoras do Ishtar Brasília. Fico feliz por sua visita ao nosso blog e espero que possamos nos conhecer em outra oportunidade.
    Uma ótima gestação!

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  3. Querida Maíra como você está? Como sempre escrevendo lindos posts.
    Como você sabe não sou mãe então não posso falar por mim no lugar de mãe, mas posso falar no lugar de filha. Eu e meus 3 irmãos crescemos com o meu pai dizendo "olha a mãe de vocês deu a vida dela por vocês então nunca se esqueçam disso" Temos o maior orgulho da nossa mãe por ter dedicado a vida dela por nossa saúde, educação e aconchego, porque não tem lugar melhor no mundo do que pertinho da mamãe. Sei o quanto não é fácil para a mulher mas acredito que deva valer muito a pena!!!
    Grande beijo e me manda notícias viu!!!
    Fabí

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  4. Querida Ana, que felicidade em saber que não estou sozinha! Obrigada pelo apoio. Sou grata mesmo por conseguir trocar com outra mãe minhas ideias! Outro xero pra vc!

    Sylvana, valeu pela visita! Sim, nós nos conheceremos em breve! bj

    Fabi, que bom me "encontrar" com vc novamente! É bom estar de volta! Até breve, querida!

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  5. Olá Mayra
    Faço parte das mães que deixam seus filhos com empregada para ir trabalhar.
    Tenho um filho de 1 ano e 7 meses e a questão de deixar em casa e sair para trabalhar é sempre um tormento para quem é mãe, antes de sonhar em casar sonhava em ter filhos, sempre quis ser mãe, mas por outro lado me preparei e sonhei com uma carreira profissional, cresci ouvindo minha mãe dizendo que tinha que ser uma pessoa independente, ou seja, são muitos sonhos e ambições. Então tento conciliar meus dois sonhos, ser mãe e ser profissional.
    No meu caso, sair de casa e deixar meu filho com alguém, que acredito que cuida bem do meu maior bem, é sempre um conflito que resolvi enfrentar, e acredito que a maioria das mulheres que fazem isto tbém passam pelo mesmo conflito.
    Mas admiro muito quem consegue parar o lado profissional para se dedicar exclusivamente para a maternidade.

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  6. Giseli,

    Fiquei muito feliz com a sua visita e o seu comentário. Grata!
    Sim, eu sei como é duro para a mãe deixar o filho em casa para ir trabalhar. Com minha filha mais velha, eu trabalhava fora de casa, mas meu marido cuidava dela pela manhã e à tarde ela ia para a creche. Eu estava em outro ritmo.
    Agora percebo que o meu ritmo é o da criança pequena, pois tenho uma e terei outra em breve. E mesmo assim, venho nesses recentes anos recuperando muito do meu relacionamento com minha filha, por estar em casa mesmo, disponível para ela e para o pequeno e a gravidez do momento.
    Você tem razão, é preciso coragem para fazer isso, sobretudo quando o que nos ensinaram é que devemos ser independentes e que isso é o mais importante. Nada contra a independência financeira e a realização profissional, mas quando nos tornamos mães, há que se pensar um pouco mais profundamente nas necessidades dessa criança que chega e que ninguém melhor para cuidar dela que sua própria mãe. Acredito seriamente que a profissão pode esperar: a criança não.
    Boa sorte para você nas suas escolhas. Acredito também que quando não há alternativas e a melhor solução é a mãe ter que trabalhar fora mesmo, que isso também seja feito com clareza e muito amor.
    Maíra

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  7. Maíra, me solidarizo totalmente com vc em sua indignação. Também cuido da minha filhinha sem ajuda (por opção) e pra minha tristeza vejo babás cuidando de bebês muito novinhos, na idade em que teoricamente estariam em aleitamento exclusivo em livre demanda (e veja bem, livre é LIVRE mesmo, ou seja, sem horários fixos!).
    Mas olha, tem casos em que vejo claramente que uma babá amorosa conta mais do que uma mãe que está aflita e apressada pra "retomar" sua vida (social, profissional, conjugal etc.). Uma pena, porque outras que não gostariam de terceirizar infelizmente não tem essa opção, e até fazem de tudo pra flexibilizar os horários de trabalho e estar mais presentes com o bebe - tenho amigas que se desdobram em mil malabarismos pra continuar amamentando o bebê com seu próprio leite!

    Agora, pra quem realmente tem a opção de cuidar do seu bebê, eu penso assim: 1 ou 2 anos não vai fazer a menor diferença nas nossas vidas (social, profissional, conjugal etc.), mas que imensa diferença fará pros nossos bebês não terem sido terceirizados assim tão novinhos, pelo menos não com menos de 1 ano!

    beijo grande e continuamos essas "conversas"!

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  8. Olá, Maíra! Cheguei ao seu blog pelo blog da minha Gab (aí acima) e fiquei muito feliz com tudo que encontrei por aqui.
    Saiba que vc acabou de conhecer, mesmo que virtualmente, mais uma mãe como vc! Também cuido da minha filha por tempo integral e ela já vai fazer 2 aninhos!
    Com certeza a vida profissional pode esperar e ser retomada depois, mas a primeira infância da minha pequena não volta nunca, então faço questão de estar presente!
    Além do mais, eu sofri na pele o que é ser uma criança terceirizada, sempre senti falta de ter minha mãe disponível e não recomendo isso pra ninguém.
    Sem contar que temos que refletir bastante sobre que tipo de pessoas queremos formar e deixar pro mundo. Já imaginou uma criança (mal)criada e (mal)educada por uma babá que não tem a mesma cultura, valores, princípios que eu?! Terceirização infantil é um perigo, na minha opinião!
    Estou com vc e não abro! E faço cara de paisagem pras críticas, afinal, cada qual com seu qual, né?!
    Bjinhos

    PS: também tenho um blog sobre gestação, parto e maternagem, passa lá pra conhecer!
    (www.gestarpariramar.com)

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  9. Gab,
    que beleza encontrar vc no eu espaço virtual! Volte sempre. Sim, acredito que haja casos e casos. Mas fica aqui o chamado para a reflexão.

    Taiza,
    Que ótimo encontro! É clao que vou visitar o seu blog1 Até mais!

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  10. Mais uma na lista, Maíra.

    Assim como vc e muitas, também sofro pela minha (e do meu marido, diga-se de passagem)escolha por cuidar e estar presente com os nossos filhos ao invés de priorizar a carreira profissional.

    Estou me sentindo em casa no seu blog.

    Aliás, parece que fui eu que passei por aqui e escrevi tudo.

    Parabéns, está demais!

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Olá! Grata pela visita.

Se quiser deixar um comentário, sinta-se à vontade. Se não quiser, sou grata mesmo assim.

Até mais!