domingo, 1 de maio de 2011

Uma aventura no mato - de como me perdi e me encontreii

NO domingo passado, há uma semana atrás, tive uma experiência espiritual.

Estávamos fazendo um "retiro" familiar e fomos passar o feriado da Páscoa em um Hotel Fazenda próximo à Formosa. O local nos era estranho, mas como algumas pessoas que conhecemos já haviam estado lá (inclusive Nina em duas ocasiões), decidimos ir. Chegamos quarta de noite. Dormimos e foi tudo tranquilo.

No dia seguinte, Gabriel deu tanto trabalho com choros e pedidos de voltar para casa e juntamente com o estilo do lugar (música "ambiente" alta, música e atividades na piscina) no feriado, quase voltamos para casa mesmo. Mas já que já estávamos lá, decidimos ficar. E, apesar de definitivamente não ser o nosso ambiente, aproveitamos ao máximo o que tínhamos para fazer: andar a cavalo, ir à piscina, passear de charrete, olhar as estrelas, tirar leite da vaca... Nina se divertiu horrores todos os dias, fez amigos e não queria ir embora... Gabriel acabou se convencendo que ficaríamos lá alguns dias e também aproveitou.

Enfim, no último dia, foi oferecido um passeio a uma gruta. Todos os dias eles propunham algum passeio pela manhã e João e Nina foram a alguns. Fiquei com vontade de ir naquele dia. Sairíamos cada um no seu carro às 9h30 e deveríamos estar de volta às 11h30, conforme a informação que recebemos. Muito bem, João concordou. Deixei Iuri mamado e parti com os outros.

Então começaram os problemas, demoramos meia hora de carro, entrando e saindo de porteira, para chegar a uma fazenda. De lá, andamos mais uns 20 minutos a pé até outra fazenda, onde pagamos 5 reais e pegamos uma trilha. Na verdade, havia um muro de pedra bem longo, construído por escravos, que devia ter no mínimo uns duzentos anos. Ao longo deste muro, havia uma subida longa e íngreme, também de pedra. Antes de subir, tive um pressentimento e olhando para o relógio, percebi que praticamente metade do meu tempo já havia se esgotado. Disse que iria embora sozinha dali. Mas alguns colegas me encorajaram a ficar e fiquei.

Subimos o caminho de pedra. Chegando lá em cima, era uma mata com trilhas fechadas. Demoramos mais uns 10 minutos até chegar no local. Era um paredão de pedra gigantesco, que mais parecia um penhasco. Para "entrar" na gruta, era preciso descer. Eu olhei lá pra baixo e me desanimei completamente. Naquele momento, minha preocupação de mãe falou muito alto e eu disse que iria voltar sozinha mesmo, pois tinha neném para amamentar e não poderia esperar mais. Avisei alguns e fui embora.

Em menos de dois minutos, como estava andando rápido, já havia perdido a trilha e estava perdida. Continuei no mesmo ritmo por uns 20 minutos, sem a menor chance de voltar. Gritava em vão. Não havia ninguém para me escutar. Na minha cabeça, eu deveria topar com o muro de pedra a qualquer momento, mas ele nunca chegava. Reparei que estava começando a ficar toda machucada, arranhada e assustada. Seguia alguns caminhozinhos que me pareciam trilhas, mas eles rapidamente sumiam de novo e comecei a ficar bem preocupada.

Não sabia o que fazer, não sabia onde estava. Comecei a falar em voz alta para o João ficar muito calmo e tranquilo, cuidar e alimentar as crianças, principalmente o Iuri. Imaginava alguma mãe do Hotel dando-lhe de mamar ou até mesmo uma mamadeira para acalmá-lo. Mas eu já estava há muito tempo perdida, minha água estava acabando e reparei como estava andando rápido demais, como uma louca, quase desesperada.

Então achei um clarão, um vão entre algumas árvores. Sem saber o que fazer, fiz xixi. Tentava parar, ficar quieta e meditar, mas não conseguia. Dei uma volta e reparei que havia voltado para o mesmo lugar. Foi nesse momento que desisti de tentar me encontrar. Entreguei os pontos, abri o jogo com o universo. Eu sabia que havia feito uma merda muito grande e não tinha como consertar. Não podia fazer nada, não sabia que caminho tomar.

Então tomei aquela situação como uma prova. Uma prova de fé e entrega. Já que eu já havia errado mesmo e não tinha opção, a não ser me desesperar, decidi me acalmar e entregar ao universo o meu destino ali. Comecei a andar mais lentamente, tomando cuidado para não me machucar tanto, nem torcer o pé, já que pisava em falso o tempo todo. Andei mais alguns minutos e aí eu vi uma cerca de arame farpado em um terreno em declive.

Me dirigi até ela e comecei a descer, sem perdê-la de vista. Depois de alguns minutos, a mata foi ficando menos espessa e pude ver do outro lado da cerca um riozinho e uma casinha ao fundo. Atravessei a cerca e fui descendo, rolando, no meio do mato alto. Chegando no riozinho, ouvi latidos de cachorro e comecei a gritar: "Socorro! Estou perdida! Prenda os cachorros por favor! Me ajude!" Então apareceu uma mulher muito calma perguntando o que estava acontecendo.

Ah, que felicidade! Eu estava salva! Com certeza dali, não demoraria muito para chegar até o meu carro! A mulher foi muito amável e me ensinou um caminhozinho que eu deveria tomar para chegar até lá. Andei bastante até chegar nas mangueiras que ela havia me falado. E aí, de novo: mais latidos de cães e eu gritei a mesma coisa. Veio um homem e eu o reconheci como sendo o homem a quem eu havia pago 5 reais para entrar no caminho de pedra. Expliquei novamente a situação. Ele disse que parte do meu grupo (com crianças) já havia descido e ido embora. Ah, como me senti tola! Se eu tivesse esperado um pouquinho no paredão, não teria feito o caminho de volta sozinha, nem teria me perdido! Mas enfim, não adiantava chorar por aquele leite derramado. O moço me garantiu que, seguindo um atalho que me mostrou, chegaria até o meu carro.

Eu protestei, dizendo que o caminho que eu havia feito para chegar lá havia sido outro, mas ele me encorajou e segui em frente. Depois de muito andar, cheguei a outra fazenda. Não havia carros, não era lá. Gritei e demorou muito até alguém vir me atender. Era uma mulher e ela estava assustada com minha gritaria. Ela tinha um celular que funcionava por antena. Pedi para ela ligar para o hotel , mas ela não tinha o número. Ligou para uma vizinha, que disse que um grupo de gente estaria me esperando na "segunda ponte". Ela me disse que me levaria até lá.

Não encontramos ninguém no caminho e acabei voltando para o lugar de onde eu acabara de vir, a fazenda do muro de pedra. O moço ficou confuso e por fim, chamou dois meninos que estavam sentadinhos lá e mandou eles me levarem até a "fazenda do Seu João". Andamos mais uns 20 minutos e chegamos até o lugar onde os carros estavam estacionados e onde havia um pessoal me esperando. Agradeci aos meninos quase chorando e dando-lhes beijos. Fui recebida com um abraço de um homem que eu só conhecia de vista do hotel.

Eu estava um trapo, imunda, toda machucada, chorando, sem falar coisa com coisa, Só dizia que tinha três filhos, que meu neném devia estar morrendo de fome e chorando, que meu marido iria querer o divórcio... Me trouxeram água, tentaram me acalmar, que iria acabar tudo bem. O marido de uma das moças se ofereceu para dirigir meu carro e eu aceitei. Fui conversando com ele no caminho, completamente alterada, faminta. Ele me escutou e foi muito gentil.

Chegando no hotel, eu estava morrendo de medo do que ainda estaria por vir. Mas encontrei João sentado, sem camisa, no banco, com Iuri no colo, olhando a paisagem e Gabriel comendo batata frita. João disse: "que irresponsabilidade, Mamá" em um tom quase brincalhão. E eu perguntei se Iuri havia chorado e ele disse que não. Disse que ele tinha dormido, depois acordado, soluçado bastante, feito cocô, dormido de novo e que acabara de acordar. Trêmula, dei um cheiro no Gabriel, peguei meu neném nos braços e ofereci o peito. Nina havia brincado na piscina e ajudado o pai a tomar conta do Biel quando ele precisou. Eram 13h30, duas horas depois do horário previsto.

Eu não conseguia acreditar que estava lá, que estava todo mundo bem... Então fui contando ao João aos poucos o que me havia acontecido. Nem eu mesma estava acreditando na minha história. Como assim, saí no mato sozinha? Que coisa mais idiota! Pra mim, esta pergunta tão profunda vai ficar sem resposta: o que fez com que eu, uma mulher e mãe tão responsável, entrasse em um mato totalmente desconhecido, sozinha, com grandes chances de me perder, me machucar, quiçá morrer, sem medir as consequências?

Não sei... Só sei que eu estava viva e presente naquele momento. Algo se passou dentro de mim para que eu me permitisse me perder, me entregar e finalmente me encontrar. E estou aqui! Fim. Fim?...

3 comentários:

  1. Maíra essa aventura no mato dá até para virar um filme. rsrsrsrsrs

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  2. Amiga, eu fiquei aflita aqui com essa sua narrativa. Ainda bem que deu tudo certo e que as crianças ficaram bem. Imagino o seu desespero mesmo..

    Beijo grande, saudades!

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  3. Caraca, Má! Deu aflição mesmo! Regada a altas doses de hormônio materno de pós-parto, vixe, aí então que desespero!
    Mas o final da estória é muito feliz!
    Beijinhos!

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