segunda-feira, 15 de junho de 2009

A dança da água

Fim de tarde. O sol já baixou. Acabei de voltar lá de fora. Estava molhando os canteiros da horta e também a grama e as plantas. O terreno atrás da casa já está limpo novamente (ufa!). É duro não ter caseiro na chácara... Tem o S. Romeu, pai da dona da chácara. Mas ele não conta. Sabe fazer de tudo, mas é um senhor velho. Faz o que der na telha. Mas nós somos responsáveis pelo terreno que fica atrás da nossa casa (nós escolhemos isso, não tínhamos essa obrigação). É lá que fica a horta, o gramado, o pomar, um bananal e um mato enorme, que tem que ser desbastado de vez em quando, senão fica tudo muito difícil!

Devia estar um pouco engraçado a minha cena: leggings cinza chumbo, bata bege e listrada em cima com ombros de fora, rabo-de-cavalo, meias cor de vinho até embaixo dos joelhos, um par de tênis velhos do João (bem folgadão). A mangueira é, na verdade, um aglomerado de talvez três mangueiras velhas e eu tenho que tomar muito cuidado ao manuseá-la, senão ela desfaz os canteiros! Sem contar que não tem muita pressão na água, então eu tenho que ficar esguichando e apontando na direção que o jato deve ir... Digamos assim, um certo balé...

Ainda não plantei nada na horta propriamente dita, ainda falta colocar esterco de galinha e estou esperando o moço pra fazer isso pra mim. Também estamos na lua minguante, prefiro esperar mais alguns dias até a chegada da lua nova. Acredito que será melhor para começar a plantar. Uhu! Acho que vai ser divertido. Já tenho um pequeno estoque de sementes orgânicas, mas ainda preciso de mais legumes, preciso ir atrás dessas sementes também. Plantar, colher e se alimentar do próprio quintal: tá aí uma sensação totalmente nova pra mim. Só com o manjericão que plantei eu mesma há umas seis semanas atrás já fico super feliz! Eu já o consumi duas vezes, em pizza que gosto de fazer em casa... Imaginem uma sopinha de legumes só meus.. nossa, acho que vai ser massa!

Quando estava molhando a grama, a água parecia realmente dançar. Que saudade de mexer esse meu esqueleto... Bom, enquanto ainda não tenho planos para voltar a dançar mesmo, eu canto e invento brincadeira... Toco flauta doce, algumas músicas do repertório da Nina. Tenho tido vontade de tocar violoncelo e piano! E o comentário da Nina ontem foi o seguinte: “vocês não tocam nada e eu tenho que tocar!”. Estava na hora do estudo dela e eu disse que toquei um monte de instrumentos quando era pequena e que agora adoraria aprender outros, mas que quem tem a prioridade para tocar agora é ela. Também tive que lembrá-la que o papai toca sim, faz o maior esforço para se manter no naipe de pais da orquestra para crianças, tocando violino com cordas de viola. E que Gabriel também freqüenta as aulas de musicalização comigo... Às vezes é difícil fazê-la estudar, mas nem sempre. Ela gosta de se ouvir e eu também!

terça-feira, 9 de junho de 2009

Notícias do Gabriel

São nove da manhã, o ar está frio, mas o sol está brilhando lá fora. Há algumas nuvens. Notícias matinais do Gabriel. Estava eu lá dentro, fui trocar de roupa para levá-lo para o passeio da manhã com solzinho. Deixei um CD da Palavra Cantada rolando e ele na sala, brincando. Fui ao banheiro, troquei de calça e ele muito, muito quieto. Achei melhor verificar. Às vezes ele ataca a comida do gato, que fica no chão. Mas eu tinha certeza que eu a havia guardado. Fui olhar mesmo assim. Sim, eu tinha guardado a comida, mas não o pote de água. Lá estava o principezinho brincando com a água, com aquele sorriso de orelha a orelha, todo feliz! Todo molhado!

Há também um quinto dente saindo (do lado direito dos dois centrais, ue são separadinhos iguais as meus). Ele tem ficado bem irritado na hora do sono... Mas esta noie ele conseguiu dormir a noite toda de novo! Parabéns para ele!

Ele gosta de fazer muitas coisas, mas dá pra eu contar algumas. Olhar livrinhos, colocar o dedinho bem esticadinho nas narinas, boca e olhos da gente. Segurar o pé, tirar a meia e gritar: pã! (é pé mesmo). Hoje de manhã, quando acordou, acho que chamou a Nina, disse: nah! nah! Ah, claro, sua comida favorita: banana. Ele olha a banana e diz: nâ nah! nâ nah! Tem coisa mais fofa nesse mundo?

Encontro de mulheres

Na sexta-feira, participei de outro encontro promovido pelo Espaço Ventre-Livre, onde o tema da palestra foi mais uma vez maternidade e profissão. Quem apresentou da última vez esse mesmo tema fui eu mesma e o encontro foi conduzido pela minha terapeuta. Desta vez, o encontro foi conduzido por uma mulher de 39 anos, mãe, administradora e psicóloga. Quando cheguei, logo percebi que era ela quem daria a palestra. Alta, magra, cabelos compridos e castanhos. Pele morena, uma beleza parecida com a de Daniela Mercury. Mas muito calada a princípio, só observando as mulheres faladeiras que iam chegando e se acomodando (dentre elas, eu!).

Quando Rita (a doula, que na verdade é a idealizadora do Espaço) deu a palestra como iniciada, éramos 10 mulheres. Cinco grávidas, das quais três de primeira viagem e as outras todas já mães. O objetivo do encontro era ouvir a experiência de A . e, ao mesmo tempo, trocar nossas próprias experiências, desejos, angústias, vontades, enfim: dividir esse processo de ser mãe e ser profissional de novo, recomeçar e se reencontrar como mulher após (e durante) a maternidade.

A história de vida de A . me sensibilizou bastante e fiquei emocionada com a guinada que ela conseguiu dar em sua vida muito em grande parte graças à sua maternidade (sua neném só tem 1 ano e 1 mês de idade). Imaginem uma mulher que cresceu no interior e aprendeu a administrar finanças e grupos de peões desde muito cedo, ou seja, já era “chefa” aos 15 anos. Depois disso, muito determinada a ser totalmente independente, veio para Brasília estudar aos 17 anos. Trabalhou na iniciativa privada, até passar em um concurso do Banco Central, onde continuou sua vida de “workaholic”, quando por acaso caiu em um grupo que estudaria as personalidades. A partir daí, interessou-se por esse outro lado da vida, um lado “mais feminino”, como ela mesma definiu e tornou-se quase que dependente de terapias ocasionais em grupo, onde ela extravasava esse seu outro lado (“era 8 ou 80, não tinha meio termo”, foram suas palavras).

Imaginem que em uma dessas terapias ela desejou amar. E amou. E sofreu muito, pois não havia sido correspondida. Em uma de suas tentativas de entender por que isso havia acontecido com ela, seu guru sugeriu que poderia ter sido porque ela precisava aprender a amar incondicionalmente. Nesse meio tempo, ela havia começado a estudar psicologia. Ela voltou à sua vida e algum tempo depois, também durante um desses “retiros psicológicos”, conheceu seu futuro marido. Um homem que havia largado a profissão e a segurança financeira de sua vida européia e tinha vindo para o Brasil trabalhar em projetos sociais. Eles se apaixonaram e ela amou novamente. Depois de finalmente decidirem se casar, ela engravidou, sendo este último, um desejo muito íntimo e profundo seu. Ela sabia que não daria para conciliar a vida caótica e competitiva do banco com as exigências de um bebê. E, mesmo precisando do dinheiro, ela ainda não voltou da sua licença sem vencimento.

Mas o universo conspira a favor daquilo que mais desejamos, enfim. E quando seu bebê tinha três meses, após assinar um papel no banco dizendo que ela não iria voltar, a neném deu um choro muito sentido no meio da rua. Ela estava tão desolada que uma mulher veio ajudá-la e. No meio da conversa, perguntou se ela não faria orientação vocacional para a sua filha. E, de imediato, mesmo não tendo mais seu consultório de atendimento e nada arrumado em casa para tal, disse que sim, que atendia em casa. E pronto! Estava feita a sua opção. Com o marido, arrumou a garagem para receber clientes e é o que tem feito desde então. Assim, fica a maior parte do tempo em casa, com sua filha e trabalha também. Seu marido presta consultoria, é free-lancer, então também pode estar em casa com elas durante algumas temporadas. E foi essa a sua solução. Melhor pra ela e para a sua família.

Que bela história, não? Há mais detalhes, que não tive tempo de colocar aqui, mas o cerne da questão foi respondido: ela encontrou a melhor solução para ela. Saiu de um mundo extremamente masculinizado, onde o ego muitas vezes ultrapassa as legítimas barreiras do trabalho duro, da dedicação e do merecimento, para um mundo mais feminino, do cuidar. Não ganha tanto dinheiro, mas está em casa com sua neném e é isso que ela precisava fazer agora.

Gostei muito de ter participado deste encontro e ter conhecido tantas mulheres diferente, mas que estão buscando algo parecido com o que eu tenho buscado: encontrar a melhor solução para dedicar-se aos filhos pequenos e aproveitá-los, ouvindo uma voz íntima e profunda que vem de dentro de mim. E, ao mesmo tempo, encontrar seu lugar no mundo não somente como mulher, mas como uma mulher modificada e amadurecida pela maternidade.

quarta-feira, 3 de junho de 2009

Segunda-feira de manhã, primeiro de junho

Bom dia, flor do dia! São 8:55 da manhã, Gabriel dorme há uns 15 minutos e estamos tendo um belo dia de sol, parcialmente nublado. Choveu nos dois últimos dias! Pasmém! Já estamos em junho e eu jurava que as chuvas já haviam se esgotado. Mas não estou reclamando de jeito nenhum. Tenho bons motivos para achar a chuva bem-vinda: a grama que plantamos no quintal chama-se esmeralda e ela é muito fina, requer muita água e atenção; o que significa que mesmo que a reguemos todos os dias, ela já estava começando a amarelar, o que talvez possa ser contornado por essa chuva. Espero! Outra coisa boa é que já não está mais tão quente. Ontem até pegamos um sol na nossa piscina, estava ótima, com a água bem gelada, o sol forte mas nem tanto. Eu até fiz top-less para relembrar os bons tempos de piscina pública no verão de Nancy!

Estou bem animada hoje, apesar de já estar no vigésimo quinto dia do meu ciclo (TPM na certa - eu já a senti desde ontem: aquela irritação meio sem explicação...). É que Gabriel finalmente dormiu a noite inteira! Após uma semana de conversas com ele de madrugada e acalmá-lo com carinho e minha voz, ao invés de oferecer-lhe o peito, ele respondeu dessa forma inesperada (porém desejada) de dormir a noite toda! E só acordou às 7:00! Deu umas reclamadinhas lá pelas 5:00, ,junto com os galos, mas adormeceu novamente. Então hoje vou observá-lo para ver como fica esse sono durante o dia, mas continuo disposta a ajudá-lo a compreender que a madrugada foi feita para dormir e que ele está seguro: não há motivo para despertar no meio da noite.

Ontem tive uma visita muito especial em minha casa: vovó Odette veio aqui com minha mãe. Elas tinham um concerto ontem à noite, e é por isso que vovó estava na cidade. Mas por um período muito curto, só até hoje. Então elas se organizaram e conseguiram vir aqui no fim da manhã. Assim que ela chegou, já pegou minha flauta contralto e começou a tocar. Nina se empolgou e pegou a soprano (ambas doces), aí as duas fizeram uma porção de duetinhos... Vovó é muito engraçada, ela entra muito rapidamente em seu próprio mundo, mas é interessante como a Nina consegue se comunicar com ela. Passado este primeiro momento, Nina foi jogar video-game com papai e eu fui mostrar o quintal. Gabriel fazendo bagunça na grama e vovó logo achou a presa do Hello Kitto daquela manhã: um beija-flor que ele havia mutilado. Ele estava sem uma asa e sangrando muito. Ao meu ver, já estava agonizando, mas vovó encasquetou que poderia salvá-lo!

Então eu lhe dei uma caixinha de papelão que estava sendo usada para guardar velas e pequenos objetos da área - numa tentativa desesperada de organizar-me - e ela o colocou lá dentro. Tentou dar-lhe água pelo bico fininho e acabou por molhá-lo por completo! Agora o bichinho estava, além de mutilado e assustado, molhado e provavelmente com frio. Foi preciso então carregar a caixinha para cima e para baixo com a gente, deixando-a no sol (vovó havia feito uns buraquinhos pro ar entrar) pro Hello Kitto não pegá-lo de novo. Fomos para a piscina e a caixinha lá, com o bichinho tentando escapar voando e sujando toda a caixinha de sanguinho... Logo depois elas se foram e mamãe saiu daqui muito satisfeita, levando acerolas e mexericas! Imagine quando ela sair daqui com legumes de minha futura horta orgânica!

Vovó gostou muito daqui e disse que foi um achado (e foi mesmo!). Esqueceu-se do passarinho e foi embora. Mais tarde, depois da piscina, Nina disse que o passarinho deveria morrer em paz e soltou-o aqui no mato. Deu-me a caixinha, mas eu não poderei reutilizá-la, pois está toda suja de sangue de beija-flor delicado, miúdo e agora morto.